quinta-feira, 12 de abril de 2018

Construindo as tensões - I LOVE IMPROV - Dia 2 de 4

Eu costumo perguntar nas minhas aulas de Impro e aulas de Comicidade, quais são as diferenças reais no fazer do drama e da comédia? Quero dizer, as implicações no palco: o que é diferente na atuação da/o atriz/ator? As respostas são normamelnte: a comédia é mais rápida, a resposta da comédia é inesperada, etc. Eu li em "Comedy Improvistation: Exercises and Techniques for young actors" de Delton T. Horn, sobre os elementos da comédia, o que faz o publico rir. Estão entre eles: a surpresa, a ludicidade (a diversão em si, estar em jogo), a rebeldia e agressividade (comuns nas comédias pastelões), reconhecimento (se reconhecer ou a/o outra/o e cena), superioridade (julgar a/o outra/o como inferior), etc. Obviamente estes elementos podem se combinar, um palavrão por exemplo pode fazer rir por surpreender e por rebeldia, ou por reconhecimento, conjuntamente. Uso as indicações do livro nas aulas e isso nos ajuda muito a entender o que fazemos. Ao mesmo tempo explico e demonstro uma perspectiva que tenho sobre a diferença entre comédia e drama, que para mim não está em nenhuma forma, ou ritmo, ou um desses elementos. Gosto de mostrar a cena clássica em que Darth Vader revela a Luke Skywalker que ele é seu pai ("Star Wars" - espisódio V). Considerando a época do filme, sabemos que a cena não é cômica (apesar de assistir agora e rir um tanto), e podemos ver todos os elementos: a surpresa, a agressão, a ludicidade (os sabres de luz)... não é/era engraçado. Para mim a diferença está realmente no teor, no tipo de energia que se colcoa e se sustenta pelo grupo. Demonstro com uma mesma cena feita de forma cômica e de forma "dramática", um diálogo siples que fazemos com o mesmo ritmo, mesmo texto e mesmas pessoas, só mudamos o teor, sequer a intonação.
- Eu te amo!
- Eu não!
Rimos e depois ficamos sérios, é quase uma porrada após o riso assistir a mesma cena com um teor diferente.




Por que estou falando isso? Porque na aula de ontem, tivemos momentos sublimes construídos e sustentados pela tensão trazida, tanto cômica quando "dramática". E essa é uma das minhas defesas da Improv, em não limita-la à comédia. E de forma alguma, evitar a comédia, mas a não necessidade de induzir a comédia, ou o drama em si. Essa era uma das questões que me fez questionar os treinos do "Anônimos da Silva", meu primeiro grupo de Impro em Brasília. Mas o grupo era de comédia, logo, esse espaço não estava aberto (o que olhando hoje, também é uma pena, porque o exercício da "não-comédia" faz bem para a comédia também). Deixar a impro ser o que será. Agora, obviamente, se você oferece um espetáculo de comédia, então lá está uma proposta que você diz "Sim", mas não quer dizer também que todas as cenas de um espetáculos serão engraçadas, como também são as grandes comédias escritas.

E falando em "tragédia" e "comédia", não esqueçam de colaborar com a Vakinha do documentário que fecha já já, dia 27 de abril! Clique aqui e invista nesta pesquisa nossa!

Vamos aos relatos da aula, lembrando que etse curso é bem difícil de relatar, é muito da experiência, e escrever e descrever isso é... um turbilhão! Meus comentários pessoais estão em itálico.


I LOVE IMPROV WITH HOLLY LAURENT
(EU AMO IMPRO COM HOLLY LAURENT)


DIA 2
11/04/2018 (quarta-feira), The Second City Hollywood, Sala F, 19h daqui (23h no Brasil). Professora Holly Laurent

Exercício #1: Roda de Conversa

Em roda, conversamos em pé sobre a semana. O que reverberou da aula passada. O que nos tocou durante a semana. É um bom: voltar para cá, chegar aqui.

Exercício #2: De olhos fechados: Respirar e Ouvir

Em roda, fechamos os olhos, ainda de pé e prestamos atenção à respiração. Se a cabeça se perde, eprcebemos e voltamos a atenção novamente à respiração (bem meditação). Holly comenta que que a respiracão nos faz estar no aqui e agora, e o primeiro trabalho do/a improvisador/a (ou atriz/ator) é estar presente.
Passamos então a prestara atenção nos sons, o que ouvimos longe e perto, em nós, etc. Porque o segundo trabalho do/a imrpovisador/a (atriz/ator) é escutar.

Comentários
- Um exercício de abrir os sentidos.
- Eu percebo, na minha educação ner de ser a "melhor" (em que?) da turma, eu me encho de orgulho por perceber certos sons. Sério? Aff, Luana... Enfim, aprendendo masi sobre humildade aos 34.
- Enquanto estávamos de olhos fechados, Holly declamou um poema, um de seus favoritos, que vomeça com: "Você não precisa ser boa/bom". E isso reverberou a aula toda, em "call backs" e discussões.

Exercício #3: Acordar o corpo

"Vocês tem um corpo tão bonito", Holly orienta no respeito ao nosso corpo. Mexemos articulações e partes que sentimos necessidade.

Exercício #4: Bola de Fita

Jogar a bola (feita de fita crepe) entre nós na roda. Só pode rebater (sem segurar) e só pode bater uma vez em cada jogada, ou seja, pode bater de novo se alguém jogar para você novamente, mas sempre uma vez. Holly ainda acrescentou as regras: "Se cair, não se desculpe!" e "Não sejam educadas/os", no sentido de não esperar ou ceder a vez a/o outra/o caso a bola venha na sua direção ou perto. Também contamos em voz alta, juntas/os.

Comentários
- Chegamos ao número 27 de primeira. Foi muito bom, então só jogamos uma vez. Na próxima aula temos que ultrapassar.
- "Eu não me desculpar por mais nada na minha vida por ser maravilhosa". "Trocar o 'desculpe' pelo 'com licença'".
- Realmente, aqui, qualquer simples toque, braço com braço na cadeira, gera um "I'm sorry!"... Eu realmente me contenho muito, mas às vezes a brasilidade ultrapassa as barreiras daqui, o que, não me leve a mal, são boas em vários sentidos também, mas o limiar com a repressão é "visível".
- Contar juntas/os faz toda diferença, nos coloca presentes e atentas/os e vibrando juntas/os. Faço muito esse jogo com bolinhas macias de cachorros ou até ocm bolas de tênis.

Exercício #5: "Sim, eu também!"

Seguindo a sequência da roda, ainda em pé, cada pessoa fala uma coisa que ama fazer, sentir, perceber. E todas/os respondem com verdadeiro entusiasmo: "sim, eu também!". Três rodadas.

Comentários:
- Lá fora você pode descordar, aqui você abraça as ideias, e isso requer treino. Se alguém fala: "Eu acordar cedo!", e você odeia as manhãs, odeie na sua vida, aqui você vai aceitar e adorar e dizer a plenos pulmões e com convicção: "Sim, eu também!"

Exercício #6: Musiquinha de duas palavras

Em roda, e seguindo a sequência da roda, o grupo sustenta um ritmo no estabalar de dedos, uma pessoa fala uma palavra, a do lado fala outra e o grupo inteiro repete as duas juntas com uma melodia vocal na sequencia, sempre a mesma melodia. (Acho que era: tarátarátará). A úlitma pessoa que falou, fala uma nova palavra e a pessoa ao lado fala uma segunda, e o grupo repete as duas com a a melodia na sequência. Há um ritmo, mas não há uma regra de velocidade. Aceite o que vier, nem que seja: "Brrrr".

Exercício #7: Combinando Energias

Mesmo exercício da aula passada. Uma pessoa da fila da direita entra com uma energia uma pessoa da fila da esquerda entra combinando a mesma energia. E a cena se desenvolve a partir desse acordo instantanêo.

Comentários:
- A aula inteira é basicamente o mesmo exercício sobre outros pontos de vista. E isso é muito rico, porque pode se aprimorar e praticar mais. E se vê o princípio do curso no "I love Improv".

Exercício #8: Editando

Mesmo exercício da aula passada. Cenas de 2 pessoas. As linhas laterais atentas para o primeiro ponto de edição que perceberem e acioná-lo.

Comentários:
- Corpo em posição para entrar em cena.
- "O pé sabe", se seu pé ameaçou ir, era um ponto de edição.
- Holly mencionou em algum momento da aula um artigo que saiu há algum tempo no New York Times sobre o coração da platleia entrar numa sincronia durante uma performance ao vivo de teatro. Dei uma procurada no google e no site do NYT... Sem sucesso. Mas, se alguém achar, manda para mim!

Exercício #9: Ying e Yang

Mesmo exercício de edição, mas com uma nova FERRAMENTA. Ying e Yang ajuda no momento em que você edita e "não sabe o que fazer".  Você usa sua observação da cena anterior e traz algo em oposição: seja espacial, tonalidade, etc. Como se a cena anterior fosse YING e a nova será YANG.

Comentários:
- Véi!!!!! A espacialidade fica riquíssima com essa Ferramenta.
- Holly mencionou os "Viewpoints" de Anna Bogart e Tina Landau como referência também ao exercício. (Eu os uso no meu treinamento em Impro. Dá para ler um pouco sobre esta relação na minha dissertação de mestrado, disponível online: "Impro visa Ação")
- O grupo trabalhou ricamente para além do espaço e dimensões/relações espaciais. Usou sonoridade (quando uma cena era baixa a outra era alta), movimento (uma cena parada, a outra movendo-se pelo espaço), e mudanças de perspectitivas como um ZOOM IN e ZOOM OUT da cena (que aliás é um exercício em si que GOSTO muito. Um exemplo que aocnteceu na aula: Duas pessoas vendo águas vivas num aquário falavam mal delas, na cena seguinte tínhamos as águas vivas falando mal das/os observadoras/es).
- Usar também o espaço/perspectiva da plateia. Holly comentou que quando percebe a plateia distante, leva uma cena paa a plateia, para, espacialmente, unir as partes.
- Ferramenta extremamente ideal para mim que tendo a equilibrar o espaço (o que é bom, mas faço sempre da mesma maneira), e acabo só centralizando cenas.

Exercício #10: Analisando um Long-Form

Metade da turma (7 pessoas) senta e assiste com o olhar de direção, enquanto a outra metade agora executa novamente o exercício 9. Ao final, fazíamos comentários do nosso olhar de diretoras/es. Na troca de grupos, Holly fez algumas alterações. O segundo grupo começou se cumprimentando com o famoso "I got your back!" (algo como "Eu te cubro" ou "Eu cuido da retarguarda!"), e o próprio grupo fez a dinâmica de colher a sugestão da plateis.

Comentários: 
- Tempos e dinâmicas de edição entraram numa mesma tendência: procurar perceber isso, perceber os pontos em duração das edições. Além das ferramentas de edição. Basicamente usando só SWEEP.
- Podemos melhorar usando mais contato visual.

Exercício #11: Ritmo e Respiração

A partir das nossas observações, Holly decidiu trabalhar mais o músculo do ritmo, respiração e parceria. Refizemos o exerçicio da aula passada em que uma pessoa entrava, a outra combinava a mesma energia, mas só falávamos quando sabíamos o que estava acontecendo entre nós em cena.

Comentários:
- Paciência é criatividade ativa (ou ato de criatividade, me perdi um pouco no inglês, mas qualquer uma das traduções vale com força)
- Tome/Use o seu tempo. "Take your time. Take your bit, breath, and your partner"
- Contato visual de qualidade
- O tanto que dizemos sem falar.
- Construção da espectativa, tensão. Neste exercício cenas com vários teores, cômicas ou não, surgiram, com força e vitalidade.
- Ressignificações/Definições. O silêncio por um tempo e um gesto que desenha nas nossas cabécas todo o cenário. Ex.: Uma pessoa sentada de frente para outra, sérias. Tensão. Uma pega o telefone na lateral e assim toda a sala de visita na penitenciária se desenha.
- O quanto dizemos sem falar!!!!
- Ansiedades nas JAMS de improviso. Holly comentou que busca esse tempo e "enraiza" ("ground") para que também seja contagiosa essa energia, além da de avançar. (Isso me lembrou muito a oficina com Matthew Lanton do grupo Vanishing Point - Escócia - durante um dos Festivais Cena contemporânea em Brasília. Ele falou sobre estar num ponto em que não se avança e nem se recua.)
- Comentamos sobre Marina Abramovic e seu trabalho
- Idéia de exercício a partir dosmcoment'rios de performances: Alguém fala algo, conta uma história e o grupo fala: "Eu te ouvi!"

Exercício #12: 1,2,3,4,5,6,7,8

Em roda (pós-interalo banheiro/água) mexemos o corpo conjuntamente falando os números de 1 a 8  repetidas vezes e, conjuntamente, no nosso tempo e ritmo e se olhando nos olhos, vamos reduzindo a contagem de 1 a 7, de 1 a 6, de 1 a 5... até ficarmos juntas/os no 1 e pararmos juntas/os.

Exercício #13: Edição com trabalho de objetos

Mesmo exercício de edição, acumulando o que estamos trabalhando, mas agora o trabalho de objetos será usado para a transição da edição. Pega-se um objeto da cena anterior e o transforma para a nova cena. Ex.: uma bola vira uma maçã.

Exercício #14: Edição por Narração

Mesmo exercício, mas agora a ferramenta de edição é a narração. Um cenário é montado, uma emoção é dilatada tirando algo da última cena e transportando ou transformando para a próxima. Quem faz a narração não precisa ficar para a cena. Ex.: As batidas do coração dela eram tão rápidas quanto as o bater de asas daquele canário.

Comentários:
- É extremamente poético
- Traz um foco para sensações e emoções. Um ponto de partida pode ser um cheiro, um som, um gosto, um sentimento, um toque, uma imagem, etc.

Exercício #15: Edição com Cadeiras

Mesmo exercício, porém agora usaremos as cadeiras, objetos concretos, e sua manipulação para fazer as transições. Podem continuar sendo cadeiras ou serem ressignificadas.

Exercício #16: Tudão

Mesmo exercício, mas agora podendo usar todas as ferramentas. 

Comentários:
- Manter o foco no ritmo, respiração, e tomar par si sua/eu parceira/o
- Silêncio em cena = confiança em cena ao se sustentar (tensão)

Exercício #17: Roda Final

- Escutar ao Podcast: The Confidence Code for Girls. Além de uma perspectiva feminista interessante para Holly, pode ser transmitida para a Impro.
- O que você gostou que alguém fez na aula?
- Falamos juntas/os algo no fim e encerramos.

***

Que venham as próximas duas aulas! Eu amo Impro!



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