La ronde... voltas... voltas que mundo dá... cabeça girando... desiquilíbrio... abismo...
Sobre se jogar e acreditar que a rede aparecerá. Confiar em algo...
Me vem à mente a música “Let me fall” (“Deixe-me cair”) do Cirque du Soleil (espetáculo “Quidan”), uma parte que deve ser algo assim: “alguém que eu sou está esperando pela coragem. Aquela que eu quero, aquela que eu irei me torná vai me apanhar. Então me deixe cair se eu preciso cair.” algo que sou eu vai me apanhar.
Em “A Arte Cavalheresca do Arqueiro Zen” de Eugen Herrigel, não é o arqueiro quem atira a flecha, algo atira.
Um religare, a si mesma, como Yoshi Oida (ator japonês do grupo de Peter Brook) no deserto, se senta e sente a linha que lhe liga a terra e ao céu pela sua coluna.
Coluna... minhas costas têm estado em dores estrangeiras desde o Brasil. Esse “s” que aqui é “z”, serpenteando na boca, serpente água... o último capítulo da minha disssssertação de mestrado. O sssssssim da serpente...
Cheguei aqui, primeira aula de Improv nos Estados Unidos. Minha cabeça tá assim, girando em The Party de encontro de conceitos, consegue me acompanhar?
Sei que parece que o curso intensivo IMPROV 1 veio primeiro, e meio que em sua intensidade, tomou a frente mesmo.
Mas dia 07 de março eu estive já no The Second City de Hollywood começando um curso avançado em long form...
Serão no total 4 aulas, às quartas-feiras das 19h às 22h. Seguem os relatos da primeira aula!
LA RONDE & THE PARTY: CHARACTER & RELATIONSHIP IN LONGFORM
LA RONDE (A VOLTA) E A FESTA: PERSONAGEM E RELACIONAMENTOS EM LONGFORM (FORMATO LONGO)
LA RONDE (A VOLTA) E A FESTA: PERSONAGEM E RELACIONAMENTOS EM LONGFORM (FORMATO LONGO)
Arte do curso retirada do site: www.secondcity.com
DIA 1
07/03/2018 (quarta-feira), The Second City Hollywood, Sala E, 19h daqui (Meia noite no Brasil). Professor Craig Cackowski.
Eu não sabia o que era LA RONDE e nem THE PARTY, a não ser que eram estruturas Longform. Daí se jogar neste curso na confiança da qualidade do instituto.
Chego em sala, percebo que estou fazendo questão de falar que sou brasileira e o que estou fazendo ali para todo mundo antes da aula, meio que querendo justificar meu inglês mais ou menos. Percebo, paro. Eu estou envergonhada pela língua. Vou ter que lidar com isso, não é mesmo? Aqui estou.
Para minha surpresa entra em sala como aluno Sam, nós fizemos juntas(os) o intensivo em longform em 2016. Ele também é estrangeiro, com um inglês mais tranquilo, e isso me acolhe. Com conhecido que sabe o que estou passando.
Nos apresentamos. Craig se apresenta e fala um pouco das estruturas e.. eita! Eu as conheço.
LA RONDE (algo como “A volta”) eu chamo de AB-BC-CB: a primeira cena apresenta as personagens A e B, a segunda cena é com as personagens B e C (sendo B a mesma personagem B da primeira cena). Depois C e D. D e E. E por fim E e A (a mesma personagem da primeira cena), finalizando a volta, a rodada. Aqui o exemplo foi com 5 personagens, esta quantidade não é específica.
THE PARTY (A FESTA): é uma festa... então acredito que conheço mesmo, e com este mesmo nome praticamente.
Vamos aos exercícios! O que escrevo em itálico são observações muito pessoais desde diário.
Exercício #1: RE-ESCREVER
Em roda. Uma frase é dita pelo(a) condutor(a) de maneira simples e genérica como: “A família viajou.” E, sem ordem, cada um acrescenta/define alguma coisa à frase, não para contar uma história, mas transformá-la, reescrevê-la como que em uma novela. Adjetivos e definições são bem vindos, é um complemento não pode negar os anteriores. Ex.:
- A família Johnson viajou.
- A peculiar família Johnson viajou.
- A peculiar família Johnson fez uma viagem de trem.
- A peculiar família Johnson fez uma longa viagem de trem.
- A peculiar e irritante família Johnson fez uma longa viagem de trem.
- A peculiar e irritante família Johnson fez uma longa viagem de trem na primavera.
Comentários:
- a gente tem medo de definir
- Acabamos vendo a mesma coisa juntas(os) por conta dos detalhes
- As especificações não traçam uma narrativa, mas criam o universo.
Exercício #2: TRABALHO DE CENAS A PARTIR DE LUGARES
O lugar é dado pelo público. Procuramos definir as coisas a nossa volta e criar imagens. Ex. Museu de história natural: dinossauros, quais dinossauros, qual tamanho. Que roupas estamos vestindo, quem somos em relação a(o) outra(o). Cenas de 4 pessoas (podendo entrar e sair).
Comentários:
- O público gosta do processo da Impro
- Eu quero ver o que as personagens vêem.
- Nós somos designer também: figurino, cenário, etc., quando nós definimos as coisas em cena
- Escolha saber! As personagens sabem.
- Presentes: falar de alguém de fora, alguém que saiu, isso lhe dar informações para usar numa volta
- Toda informação é importante, mas alimente a que já existe
- Tudo que está no presente, ajuda
- Converse sobre algo até que se entenda mesmo do que se trata
Exercício #3: NOMEAR
2 filas. Quem sai de uma fila define a personagem da(o) outra(o) com uma fala. Uma dupla de cada vez. Micro cenas.
Comentários:
- Definições são presentes
- É mágico porque é rápido, recebe o presente e já o assume por completo
- Cuidado para não perder o foco: definir a(o) outra(o) e não a si
- Nomear é seu trabalho, continue alimentando
- A cena não é sobre “pipoca”, é sobre o comportamento do amigo aproveitador que não paga nada. Desenvolve o drama construído a partir da pipoca e não fica falando da pipoca.
- a comédia está nos extremos
- Insanidade e drogada(o) não são tão boas definições, mas boas justificativas. Assim como cenas em que se ensaia alguma coisa.
No trabalho com a Improvisadora Rhena de Faria (“Jogando no quintal” - SP) ela falava que dança e luta resolvem as coisas mau definidas, porque qualquer coisa vira facilmente dança ou luta. Por isso ela excluía essa possibilidade nos exercícios em treinamento, para que buscássemos realmente fazer das nossas ações alguma coisa e não só resolver o “problema”.
- No ele as personagens e use qualquer nome, dê personalidade.
A Rhena também falava isso, de não nomear o cachorro de Rex ou Totó, porque fica no âmbito do genérico. Falta a personalidade.
- O comportamento da personagem já a define, não precisa ficar na defensiva quando receber o presente.
Estava querendo impressionar, fazer certo, ser boa e aí percebi a questão da vergonha da língua. Queria provar de alguma maneira ser merecedora de estar ali, de que eu era esperta. Isso foi e voltou algumas vezes, e é uma tensão que me toma conta. Ao percebê-la consigo me relaxar e aproveitar mais. Acredito que agora, pós o intensivo do Improv 1, eu já esteja mais tranquila em relação a esse quesito.
Exercício #4: NOMEAR A PARTIR DO MOVIMENTO
Mesmo procedimento do exercício 5, mas agora a pessoa da outra fila começa um movimento e quem está na fila que define as coisas começa a definição vinculada, nomeando, a partir do movimento visto.
Comentários:
- Iniciação é a primeira coisa que se faz em cena e não a o que se fala
- Ok ficar confusa(o). Mas não fique por mais de 5 segundos, nomeie/define o que lhe confunde
- O comportamento fixo apesar das circunstâncias é um dos recursos da comédia. Ex: ser chorona no funeral e no parque de diversões. Mas isso não quer dizer não se deixar afetar.
- Comédia: o esperado no inesperado. Ex.: uma criança com medo (isso é esperado, crianças têm medo de muitas coisas) de iogurte (inesperado).
Eu executo de certa forma bem, as não jogo presente a(o) outra(o).
Exercício #5: LA RONDE
Só o professor poderia editar as cenas desta vez, lhes dar fim ou qualquer coisa do tipo. 5 pessoas, 5 personagens. Cena 1: A+B. Cena 2: B+C. Cena 3: C+D. Cena 4: D+E. Cena 5: E+A.
COMENTÁRIOS EM SIDE COACHING DURANTE O EXERCÍCIO:
- cenas de 2 pessoas: energias diferentes; personagens bem definidas e diferentes uma da outra; definir como pessoa, trabalho e etc. e não uma única coisa (ex. Professora e só); as personagens se conhecem
- Na cena seguinte: não comentar ou relatar o que aconteceu na anterior. Não fazer o que foi dito na anterior, repetindo informações que já temos. Nova cena.
- Pode usar o que foi sugerido na cena anterior
- Não precisa fazer o link em história com outra cena, não nas primeiras ao menos. A estrutura já faz isso.
- Dificuldade de dar presentes a(o) outra(o) enquanto desenvolve os seus
- Depois das informações gerais: especifique
- Detalhes: vai para o micro e não macro
Tem exercício de Impro que eu adoro que trabalha a noção de micro e macro.
- o propósito da nova cena é conhecer a nova personagem e não fazer links com a cena anterior
- Cuidado para não cair no PLOT, enredo e assim não definir a relação entre as personagens
- Status trazem o constraste
- Mudar ou manter status de uma cena para outra: escolha/atenção
- Não precisa mudar o que está fazendo, continue e adicione. Ex. está bravo. Recebe a notícia do nascimento do filho. Pode mudar ou pode remanescer bravo porque tem as contas do hospitais para pagar. Agora está mais bravo,
Lembrando muito da Rhena de Faria aqui. No exercício em que tínhamos que começar uma ação sem saber a da outra pessoa e combinar as ações num mesmo espaço sem abandono do que fazíamos.
- Não precisa dizer o subtexto literalmente. Ex. “Estou desconfortável.” E sim: “Essa roupa coça, eu não gosto do jeito que você me olha!”.
- A estrutura vai contar a história, se preocupe com as relações
- Para Craig: PLOT, enredo, é quando se fala da história, o PLOT não é interessante, o que acontece entre as personagens é. Então não fale o que está fazendo, viva.
Olhando tantas coisas do Improv 1 aqui. O básico é básico.
LA RONDE é o nome de um filme francês baseado numa peça de mesmo nome do escritor austríaco Arthur Schnitzler. Na história, uma personagem passa uma DST para a outra, de cena em cena.
Que venha a segunda aula e que os medos de amedrontem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário