sábado, 16 de novembro de 2019

Artigo PERFORMATIVIDADE, TEATRALIDADE E IMPRO

PERFORMATIVIDADE, TEATRALIDADE E IMPRO

Luana Maftoum Proença

A Impro[1] é uma linguagem teatral que se baseia no momento da apresentação, do contato com o público, para criar a apresentação em si. Desta maneira destaca o encontro entre artistas (incluindo aqui técnicas/os, improvisadoras/es e etc.) e plateia como pulsão de criação: tudo que será feito ali será uma resposta ao que se respira e inspira no espaço e tempo em que este grupo se reúne. É uma feitura enquanto já se é, e este “enquanto” é o motor da improvisação.
Tomando o senso comum, quando o que se pensa e o uso das palavras improviso e improvisação:

A idéia corrente que geralmente se faz a respeito da improvisação é de algo informal, espontâneo, imprevisto, sem preparo prévio, inventado de repente, arranjado às pressas, súbito, desorganizado, aleatório, enfim, trata-se de um produto inspirado na própria ocasião e feito sem preparo e sem remate. (CHACRA, 2005, p. 11).

Esta indicação de senso comum que a pesquisadora Sandra Chacra traz em seu livro “Natureza e sentido da improvisação teatral” é o ponto do qual ela parte para questionar também este mesmo pensamento, desenvolvendo argumentações históricas e técnicas para dar suporte ao improviso como elemento natural, cotidiano e possível de treino e articulação como arte e espetáculo. 
A ideia de se criar “do nada”, a partir de uma bolha vazia de ideias, intenções, referências contradiz o nosso entendimento de que não existimos como seres isolados, mas sim como somos sujeitos em comunidade (Vicent Colapietro), seres históricos, culturalmente inseridos nas relações. Improvisar “do nada”, “sem preparo prévio” ou realmente se ter algo “inventado de repente” ignoraria a própria ideia de presença, de ser e estar em um ambiente e se perceber nele. Criamos a partir das nossas memórias, referências, experiências, competências, capacidades e habilidades, nossa história. História essa que se faz presente no momento presente e se modifica com a interação no encontro.
Este fator do encontro e da criação enquanto se está na presença da/o outra/o é o fenômeno essencial da Impro, e um dos fatores elementares atribuídos a conceitualizações à palavra performatividade. Em “Towards a definition of performance improvisation”, tese de Doutoramento em Filosofia pela Escola de Estudos de Teatro da Universidade de Warwick, Naoko Yagi argumenta em sua introdução quanto a vulnerabilidade dos termos “performance” e “improvisação” também pelo âmbito do senso comum, partindo do trabalho do linguista George Lakoff para diferenciar a carga de clareza de significado que se tem com precisão para objetos físicos como, por exemplo, para com uma mesa, mas não se tem para com movimentos, emoções, etc.  “[…] ‘performance’ e ‘improvisação’ pertencem a um reino fora do que Lakoff chama de ‘objetos físicos’ ou ‘entidades’ e ‘propriedades’ específicas e claras.” (YAGI, 1999, p.7). Desta forma uma mesa é uma nomenclatura que especifica uma imagem concreta e que inclusive se traduz com grande precisão para diferentes línguas. Já palavras como “performance” e “improvisação” sofrem no entendimento e compreensão do que se pode ser, pois dependem de um ponto de vista, área, contextos ou conotação em que são empregadas. Quanto a isso, Janelle Reinelt menciona os estudos de Diana Taylor e Juan Villegas onde se evidencia, por exemplo, que nos países de língua espanhola da América Latina não há correspondência diferenciada das palavras performance ou performatividade para com teatro e teatralidade (REINELT, 2002). Do entendimento de um senso do uso da palavra performance em campos diferenciados para sua aplicação no desenvolvimento dos estudos performativos, Richard Schechner indica: 

Nos negócios, nos esportes, e no sexo, “realizar performance”[2] é fazer algo dentro de um padrão – ter sucesso, ter excelência. Nas artes, “realizar performance” é se apresentar, numa peça, numa dança, num concerto. Na vida cotidiana, “realizar performance” é exibir-se, chegar a extremos, destacar uma ação para aqueles que assistem. […]
“Realizar performance” também pode ser entendida em relação a: […] 
“Ser” é a existência por si só. “Fazer” é o agir de tudo que existe, dos quarks até seres conscientes e cordas supergalátivas. “Mostrar fazendo” é desempenhar: apontar, destacar, e exibir enquanto se faz. “Explicar o ‘mostrar fazendo’” são os estudos performáticos. (SCHECHNER, 2006, p.28 – tradução nossa).



Quando entramos no surgimento dos estudos performáticos, também entramos uma visão mais ampla e antropológica dos termos relacionados. Reinelt vai pontuar esta questão justamente ao desenvolver seu texto “The Politics of Discourse: Performativy meets Theatricality”, desde o aparecimento e uso dos termos performance, performatividade e performativo. Começando por performance, evidencia a diferença da Performance Teatral para a Performance Art em que nesta última o corpo é o lugar e material da execução que por sua vez é o próprio processo de feitura. Tem por características o imediatismo, a não repetição e a não reprodução (REINELT, 2002). Essas características que Reinelt traz em relação a Performance Art podem também ser encontradas no conceito de performance em um olhar mais abrangente de Erika Fischer-Lichte:

Uma performance ocorre na – e através da – co-presença física de actores e espectadores. Para que ocorra, dois grupos de pessoas, que agem como “fazedores” e “observadores”, têm de se juntar num determinado tempo e num determinado lugar de modo a partilharem uma situação, um lapso de tempo. Uma performance surge desse encontro – a partir da sua interação. (FISCHER-LICHTE, 2005, p.174). 

Nestes aspectos poderíamos aparentemente aproximar intimamente as características da Impro ao conceito de performance já que na maioria das montagens de Impro o corpo é o lugar e material de execução, por vezes só existindo em cena a/o improvisadora/o como material e lugar de criação de movimento e ação. Na maior parte das produções durante os anos a Impro inclusive se relaciona com a mímica como recurso expressivo e técnico quando se quer figurar imagens e espaços em cena. O trabalho de improvisador/a vai partir e se configurar no seu corpo, espaço de criação e conexão com o público. O processo de feitura e do encontro com o público também é na Impro, como vimos no início, a base da própria linguagem e, por ser improviso tem em si as características do imediatismo, da não repetição ou reprodução. Anthony Frost e Ralph Yarrow, na segunda edição de seu livro “Improvisation in drama” relacionam diretamente a Impro com os conceitos de performance (já pensando a palavra para além do seu uso como “desempenho” em língua inglesa, incluindo assim perspectivas dos Estudos de Performance), ao definir a Impro já na introdução da edição:

Improvisação é um modo particular da atividade de performance em que as características chaves de “performance” podem ser precisamente localizadas. Isso se dirige como performances (a produção de um trabalho que é feito “na hora”, ou é explicitamente aberta a alterações durante a apresentação) e como a cultura no corpo de habilidades e atributos da performatividade – treinar para realizar performance, desenvolvimento de recursos individuais ou de grupo, da aptidão para renegociar o ser e fazer no mundo.
A primeira versão deste livro (1990) mapeia uma história e teoria da improvisação no trabalho teatro paralelo a uma taxonomia de sua prática. Identifica improvisação como um modo produtivo e performativo de comportamento, e se preocupa em situar particularmente dentro do espectro da prática teatral, identificando como, onde e quando se opera como marca de estilo em produções e um modo de treinamento de performers. Desde então, muito deste território tem sido re-atravessado em termos da teoria da performance, e toda uma gama de publicações têm aparecido, focando nos treinadores de performance e fazedores no contexto em que trabalham; muitos desses livros contém exemplos explícitos de exercícios e jogos objetivando propósitos performativos específicos. (FROST e YARROW, 2007, p.1 – tradução nossa).

Nesta colocação Frost e Yarrow destacam as características do instantâneo e mutabilidade da Impro como características performativas. Apontam também o desenvolvimento do campo de estudos performáticos. Podemos relacionar seus apontamentos numa vertente da escola de Estudos de Performance que, como Erika Fischer-Litche, entende a performance como continuação dos Estudos e Teatro, em que o espetáculo de teatro como algo possível de ser analisado e entendido tendo a semiótica como instrumento de análise comum e preferencial passa a ter na fenomenologia o espaço no qual se debruça o olhar, centrando-se assim na experiência do/a espectador/a. O espetáculo deixa de ser algo mostrado à/ao espectador/a, este por sua vez é um participante cultural na feitura da “obra” que não é um objeto fechado. Fischer-Litche não se remete, como acontece em grande parte da Impro, na participação literalmente ativa e visível da/o espectador/a, mas com a questão do fator da copresença que proporciona assim a cocriação. A experiência do encontro é de abertura e transformação, mesmo que esta seja sutil e interior. 
Por esta perspectiva, qualquer apresentação teatral, não somente em Impro, se enquadra com a ideia de performance. O que nos leva novamente a questionar inclusive a real existência do criar “na hora”, o não repetível, pois se todo espetáculo está embasado na experiência, na questão da copresença, sempre será diferente mesmo que “repetido”, e por isso, não foi repetido. Uma reconfiguração de entendimento que Richard Schechner, numa linha de estudos da escola estadunidense de Nova Iorque mais focada na antropologia, vai partir pela ideia de “comportamentos restaurados”:

Performances marcam identidades, dobram o tempo, remodelam e adornam o corpo, e contam estórias. Performances – de arte, rituais, ou da vida ordinária – são “comportamentos restaurados”, “comportamentos duplamente experienciados”, ações realizadas para as quais as pessoas treinam e ensaiam. […] Mas a vida cotidiana também envolve anos de treino de prática, de aprender comportamentos culturais específicos e apropriados, de ajustar e desempenhar os papéis da vida de alguém em relação as circunstâncias sociais e pessoais.  […] Toda e qualquer atividade da vida humana pode ser estudada enquanto performance […].
E quanto às ações que são aparentemente “um-comportamento” – os Happenings de Allan Kaprow, por exemplo, ou um evento da vida cotidiana (cozinhar, vestir, dar uma caminhada, conversar com um amigo)? Mesmo estes são construídos a partir de comportamentos previamente experienciados. Na verdade, o dia a dia do cotidiano é precisamente sua familiaridade, está sendo construído a partir de pequenas parcelas de comportamento rearranjados e moldados de maneira a caber em determinadas circunstâncias. Mas também é verdade que muitos eventos e comportamentos são eventos que acontecem apenas uma vez. Seu “ineditismo” está em função do contexto, da receção, e das ilimitadas maneiras que as parcelas de comportamento podem ser organizadas, executadas e apresentadas. O evento resultante pode parecer ser novo ou original, mas suas partes constituintes – quando bem separadas e analisadas – revelam-se comportamentos restaurados. (SCHECHNER, 2006, p.28-29 – tradução nossa).

Pensar comportamento restaurados também é reconhecer a memória e experiência como fonte de criação. Voltamos cá a perceber que o criar “do nada” na improvisação é assim uma impossibilidade. Também traz, em paralelo com a última citação de Schechner, a possibilidade de treinamento, daí o desenvolvimento de uma técnica de improvisação e o surgimento de escolas e centros de Treinamento em Impro. 
Uma das evidências de que mesmo na Impro, numa apresentação improvisada, há o fator da repetição, é a existência de uma estrutura, também chamada na Impro de formato[3]. A estrutura, ou o esqueleto de uma apresentação de Impro é um guia de organização e ação que pode ser desde algo muito simples, como definir que a apresentação terá 30 minutos ou apenas 6 cenas, até uma estrutura mais complexa que pode até ser estudada e traçada em gráficos caucasianos. Há na Impro formatos/estruturas famosos mundialmente que por assim serem são reproduzidos em todo o mundo, como é o caso do Teatro-Esporte e do The Harold. O Teatro-Esporte inclusive é uma marca registrada, uma estrutura criada por Keith Johsntone, a qual é preciso se solicitar a licença para sua execução, se for se seguir a estrutura do seu criador. Há campeonatos e ligas de Teatro-Esporte em todo o mundo. Esta estrutura se enquadra, dentro da Impro, na categoria de Match Improvisation, o formato mais popular entre os públicos mundiais em relação a Impro. Se categorizam por competições e execução de jogos de improviso de formato curto, em grande parte de suas apresentações. Em Impro existem dois tipos bem definidos de formatos gerais de espetáculos, o formato longo (longform) e o formato curto (shortform) e suas implicações estão relacionadas essencialmente ao tempo de duração das cenas conectadas.

A maioria do improv formato longo dura ao menos dez minutos e consiste em um número de cenas curtas editadas pelos performers[4] no palco, às vezes por um chefe de palco ou outra fonte de fora. As partes de um formato longo devem estar relacionadas de alguma maneira. […] Improvisação Formato curto dura geralmente menos de dez minutos e tende a não conter qualquer edição interna. (LIBERA, 2004, p. 121 – tradução nossa).

O The Harold é a estrutura mais famosa mundialmente em formato longo. Foi desenvolvida por Del Close em parceria com Charna Halpern, e esta estrutura há dezenas de livros dedicados, uma maratona anual em Nova Iorque de 24 horas de apresentações de diferentes grupos que executam o The Harold, assim como a escola UCB (Upright Citizens Brigade) com unidades em Nova Iorque e Los Angeles que baseiam seu programa no desenvolvimento do formato, e com isso possuem apresentações constantes e praticamente diárias de diferentes grupos com a estrutura The Harold.
Ainda sobre formatos/estruturas há também o formato livre (freeform) que pode ser aplicado tanto ao formato curto quanto ao formato longo. Se caracteriza por não haver uma estrutura prévia para as cenas a serem improvisadas. O que não significa que não há uma estutura no espetáculo, mas somente que ela será criada no enquanto se executa. O improvisador francês Gael Perry uma vez destacou, em conversa informal, que o formato livre é descobrir a estrutura durante a própria apresentação. O que aponta que uma estrutura existirá, será criada, e isso será possível e baseado nas memórias, experiências e “comportamentos restaurados”. 
Nesta perspectiva de estrutura, mesma a que será descoberta no enquanto se apresenta, podemos entender que as diferenças em a Impro e o que podemos chamar de Teatro de Texto (que parte de um texto dramático pré-concebido) não são oposições ou distâncias em si. Ou seja, são questões de particularidades e especificidades de linguagem, como também pode-se pensar em relação ao Teatro de Formas Animadas, por exemplo. Se pensarmos que os elementos do Teatro de Texto estão presentes na Impro, inclusive a estrutura de um texto dramático – que por sua vez pela particularidade da linguagem será criado em cena, mas que atende por estruturas conhecidas repetidas ou re-articuladas e reinventadas – é possível se entender e conceber o treinamento em Impro pelo estudo de estruturas e práticas já existentes em Teatro. Assim também se pode perceber que a estrutura de um espetáculo de Impro se repete de uma apresentação para outra, mas não o que acontece em cena ou como acontece.
Pelos Estudos de Performance podemos inclusive perceber que a questão interativa da Impro com o público não é um diferencial e sim, uma maneira particular da linguagem, porque o Teatro de Texto também tem por essência a presença e participação do público no ato teatral:

É verdade que os actores determinam as pré-condições decisivas para o decurso de um espetáculo, pré-condições essas que são fixadas pelo processo de encenação. Todavia, não são capazes de controlar em absoluto o seu decurso. Ao fim e ao cabo, é a totalidade dos participantes que dá origem ao espectáculo. Isto não apenas minimiza, mas de facto exclui a possibilidade de uma pessoa individual ou um grupo de pessoas serem capazes de planear completamente o seu decurso, dirigi-lo ou controlá-lo. O espectáculo não pode ser controlado por nenhum indivíduo.
Por outras palavras: o espectáculo abre, assim, a todos os participantes, a possibilidade de, no seu decurso, se descobrirem como um sujeito que pode co-determinar as acções e o comportamento dos outros, e cujas acções e comportamentos são, de igual modo, determinados pelos outros. (FISCHER-LICHTE, 2005, p.174).

Pode-se então pensar que o grau, a intensidade, ou até mesmo a percepção da interferência do público pelo próprio público seja maior na Impro do que no Teatro de Texto, mas não é nula, ou seja, uma diferença entre as duas linguagens teatrais. Inclusive, essa participação da plateia na Impro também vem sendo questionada e provocada entre improvisadoras/es. Na sua curta e ao mesmo tempo forte tradição[5] a Impro se baseia em sugestões de espectadoras/es para a inspiração do que será criado no ato da apresentação, seja uma única sugestão de palavra no início do espetáculo, seja interferências no meio e fim votando no que preferem ou desejam ver, etc. Porém espetáculos como T.J. and David com os mundialmente prestigiados improvisadores estadunidenses T.J. Jagodowski e David Pasquesi partem do que se pode chamar de oferta cega. Nada é solicitado ao público diretamente, o espetáculo é criado e desenvolvido a partir do que o encontro, a presença daquelas pessoas no mesmo espaço e no mesmo tempo incita nos improvisadores, os dois simplesmente entram no palco, cumprimentam o público agradecendo a presença e dizem: “Confie em nós, tudo isso é inventado”[6]. A partir daí as luzes se apagam e quando voltam a acender algo já começou ali, num olhar, num gesto, numa respiração, num ranger de cadeira: uma oferta cega[7], uma proposta que não se teve a intenção de ser oferta para a improvisação, mas que é captada e integrada ao universo a ser inventado. Esse tipo de interação com o público não é muito diferente em questões de percepção da plateia para com sua interferência num Teatro de Texto.
Outros elementos estruturais do Teatro de Texto na Impro a se perceber em grande parte das produções são a existência da narrativa, como história da dramaturgia criada e as personagens. É aqui, que a Impro se distancia e desvincula dos conceitos de performatividade, performativo, referentes a Performance Art, “[…] gênero, surgido por volta do anos 1960, o performeur, o ‘performador’, não desempenha um papel, ele não imita nada, mas realiza ações e é muitas vezes o próprio objeto de sua presentação, verbal ou gestual.” (PAVIS, 2017, p. 225). Nestes aspetos, existe a característica do antiteatro, que também é um elemento da performance, como Performance Art em sua história geral citado por Reinelt em “The Politics of Discourse: Performativy meets Theatricality”:

Este uso do termo performance é relacionado à uma história geral das vanguardas ou do anti-teatro, tomando seus significados da rejeição de aspectos da prática do teatro tradicional que enfatiza o enredo, personagem e referencialidade: resumindo, princípios Aristotélicos de construção e noções Platônicas de mimesis. A rejeição da soberania do texto, da autoridade autoral ou da direção, em favor do jogo-livre da performance liga-se aos primeiros experimentos das vanguardas do início do século com as décadas de 1960 e 1970 com o Living Theater, e o Teatro Laboratório Polonês de Jerzy Grotowski. (REINELT, 2002, p. 154 – tradução nossa).

Por este olhar antiteatral percebe-se que a Impro está, em geral, vinculada a este teatro tradicional do texto, mesmo não havendo o pré-texto, pois, na maior parte de suas produções, se propõe a criar no momento da apresentação o enredo em si, o texto, mantendo as estruturas dramáticas das personagens, referencialidade Aristotélicas e Platônicas. Isso principalmente no que diz respeito aos espetáculos de longform que se propõe, cada vez, a parecer com peças não improvisadas. Kenn Adams em seu livro “How to Improvise a Full-Length Play: The Art of Spontaneous Theater” propõe estruturas e treinamentos para se atingir um “almejado” tipo de qualidade na dramaturgia cênica em Impro que o Teatro de Texto tende a alcançar a partir do convencional tempo de maturação e pesquisa em ensaios e estudos:

Pense na melhor peça que você já viu. Lembre de quão bem foi interpretada, quão graciosamente foi dirigida, como foi lindamente composta. Lembre o quão ridiculamente lhe fez gargalhar ou quão profundamente e ternamente lhe permitiu chorar. Lembre das personagens. Lembre do diálogo. Lembre da história. […]
Agora, e se esta peça pudesse ter sido improvisada? (ADAMS, 2007, p. XIII).

A existência de obras e argumentos como a de Adams para o como e o que atingir no Teatro de Improviso, assim como uma necessidade em parte de improvisadoras/es em ter a Impro mais reconhecida como arte teatral, aproxima sua feitura dos elementos cênicos do Teatro de Texto. Em espaços em que se propõe uma linguagem não convencional (como é o Teatro de Texto) e que se aproxima e articula com o entretenimento cômico, principalmente pelos formatos curtos competitivos e a escolha maioritária pelo gênero da comédia na produção em Impro, há a barreira da classe artística de ver a linguagem como algo “sério”, com aparato e arremate, algo que não seja vinculado ao senso comum de improviso[8]. Pode-se então, por o entendimento destes caminhos de conceitos, que a Impro, e cada vez mais grupos de improviso, tem buscado se vincular com aspectos do teatro convencional tradicional na encenação e estrutura dramática desenvolvida em códigos cênicos e enredos. Porém, é preciso lembrar que um caminho “antiteatral” não é uma busca da performance, mas também de algumas vertentes do próprio teatro, a partir da criação do “Teatro Moderno”. O aspecto “antiteatral”, contra uma “teatralidade”, criou por si só uma nova teatralidade, uma nova força de se relacionar e criar elementos teatrais:

[...] é inegável que a encarnação da personagem pelo ator foi um dos principais alvos de ataque dos anti-teatralistas que, olhados por esse ângulo, podem ser vistos como precursores de uma nova teatralidade, não mais baseada na interpretação de um texto dramático por atores, mas na mobilização de recursos de espaço, luz e movimento, ou da palavra concreta e poética, para sua constituição. 
[...] O teatro épico de Bertolt Brecht seria um dos marcos dessa transformação, por definir uma mudança de regime do espetáculo e incorporar o espectador à criação do simulacro cênico, e a seu processo produtivo. É evidente que, no caso de Brecht, a mudança visava a objetivos políticos bastante definidos. Mas a partir dela, o que se põe em ação é um mecanismo de revelação da teatralidade pelo esvaziamento do próprio teatro.
É uma visão semelhante à de Denis Guénoun, para quem o teatro contemporâneo confessa o gosto de mostrar e oferece ao espectador a “sobriedade lúdica e operatória” do jogo, e não o efeito de ilusão da representação. Para o filósofo francês, a teatralidade é o “por em jogo”, ou melhor, é o movimento de passagem para o jogo, viabilizado pelo gesto de mostrar a coisa em si, em sua fenomenalidade. De acordo com Guénoun, “o aparecer aí da coisa é a própria teatralidade”. (FERNANDES, 2011, p.13-15).

O termo teatralidade em si vai ser usado em algumas vertentes, como nos estudos de Josette Féral, para designar o teatral fora do universo teatral, a ter elementos reconhecidos pelo olhar da/o espectador/a ou daquele/a que faz em um ato performativo ou operação cognitiva dela/e própria/o. (FERNANDES, 2011, p. 17). De qualquer forma, a derivação de teatral pelo termo da teatralidade compete o reconhecimento de padrões (comportamentos restaurados?), códigos e referências de uma estrutura teatral reconhecida, mesmo que a perspectiva da participação do público, e com isso todo o direcionamento para qual o teatro se engaja em conquistar e/ou contribuir, se altere entre passivo e ativo. Pode-se pensar que é na receptividade e neste direcionado que se instaura também a mudança do entendimento dos termos, a partir de a experiência e o fenômeno em si, o encontro e copresença ganhem o foco diante de uma leitura semiótica do ato teatral. As oposições entre performatividade e teatralidade se tornam complexas, pois acabam por fagocitarem-se, em diferentes proporções de evento a evento, mais do que se separarem.

Voltando a Féral, em texto recente, a ensaísta atenua a oposição estabelecida nesse ensaio inicial [“Performance e teatralidade: o tema desmistificado”], sustentando que a performatividade é um dos elementos da teatralidade e todo espetáculo é uma relação recíproca entre ambos, Sublinha que a performatividade é responsável por aquilo que torna uma performance única a cada apresentação, enquanto a teatralidade é o que a faz reconhecível e significativa dentro de um quadro de referências e códigos. O que varia é grau de preponderância de uma ou de outra. (FERNANDES, 2011, p. 18).

A tentativa de distinção ou até mesmo separação da performatividade e da teatralidade por vezes pode ser resultante da análise e estudo, mas eventualmente os conceitos se esbarram, sangram e borram em si. Fernandes, em sua análise da teatralidade e dos Estudos de Performance, revisita Féral pontuando as competências do teatro em levar ao palco uma semiologia formativa, a estrutura narrativa, a representação e os códigos formais em oposição a fluidez, os fluxos de desejos que se implicam ao fenômeno performático. Mas, mesmo ressaltando estes pontos de discussão, pontua:

Ainda que oponha os dois conceitos, percebe-se que uma das principais intenções de Féral é considerar a teatralidade a resultante de um jogo de forças entre duas realidades em oposição: as estruturas simbólicas específicas do teatro e os fluxos energéticos – gestuais, vocais, libidinais – que se atualizam na performance e implicam criações em processo, inconclusas, geradoras de lugares instáveis de manifestação cênica. Por recusar a adoção de códigos rígidos, como a definição da personagem e a interpretação de um texto, o performer apresenta-se ao espectador como um sujeito desejante, que em geral se expressa em movimentos autobiográficos e tenta escapar à representação e à organização simbólica que domina o fenômeno teatral, lutando por definir suas condições de expressão a partir de redes de impulso. (FERNANDES, 2011, p. 18).

A Impro, em seu padrão de formato longo ao menos, talvez seja um exemplo pontual dessa fagocitose de termos por ter em si toda uma alcunha do teatral e as dimensões da performatividade em atividade enquanto performance e nas compreensões sempre mutantes da Performance Art. Encontram-se no Teatro de Improviso desde o enredo, a noção de personagem, códigos cênicos[9], ao mesmo tempo uma base sólida nos ideais de relações com o público, do encontro, da paradoxal não-repetição, do fator de criação no enquanto se apresenta. Pode-se dizer que possuiu uma teatralidade tanto daquela criticada por antiteatralistas, quanto um tanto de uma nova ou outra teatralidade que está vinculada ao ver o processo de criação, verdadeiramente ve-se a criação em cena tomar forma e perceber a interferência da copresença das/os participantes. Mesmo havendo (ou não) personagem na cena de Impro, vê-se e se é cúmplice da/o improvisador/a e seu trabalho, ou melhor, ver a improvisação que toma forma, que fracassa, que se ergue, o construir da edificação da peça. É a relação de jogo explorada como espetáculo, da mesma maneira que se vai assistir a uma partida de futebol e que, por mais que se tenham ali jogadoras/es que se dedicam a isso todos os dias e treinam exaustivamente, que tenham inclusive as “jogadas ensaiadas”, o jogo é imprevisível, precisa ser jogado e diante de nós que assistimos, se desvenda a cada segundo. O jogo esportivo também é um bom paralelo para se pensar as regras e seu real “poder” em cena. Todo jogo esportivo pensa o quebrar das regras e também possuiu a figura da/o juiz/a, da/o avaliador/a para dúvidas de limites e aqueles momentos que as regras talvez não sejam exatamente aplicáveis. Prever que se vai quebrar as regras é também promover a quebra (e por assim ser, criar uma nova regra). Um/a jogador/a de futebol “não pode” fazer falta na/o adversária/o que está com a bola dentro da pequena área. Mas na realidade, ela/e pode cometer a falta, podendo ser penalizada/o com cartão, expulsão e seu time sofrer a cobrança de um pênalti, ou… a/o juiz/a também pode julgar que não foi bem uma falta… Como saber? O mesmo para a Impro, pensando desde as regras de jogos de improviso no Match Improvisation quanto a estrutura de espetáculo. O jogo é “Uma atividade aceita pelo grupo, limitada por regras e acordo grupal; divertimento; espontaneidade, entusiasmo e alegria acompanham os jogos; seguem par e passo com a experiência teatral; um conjunto de regras que mantém os jogadores jogando.” (SPOLIN, 2001, p. 342). As regras e a estrutura são um combinado entre as/os improvisadoras/es que no fazer da peça serve de guia, mas que facilmente, devido às circunstâncias da copresença, é jogado pela janela para que o jogo seja jogado em cena. Complementando o pensamento de Spolin, podemos ainda aliar a ideia da copresença que se pode ler das três características básicas que Johan Huzinga condiciona para possibilitar o jogo:

 […] é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana.”. (HUZINGA, 1993, p. 33)

Estar presente no mesmo espaço ao mesmo tempo para uma atividade voluntária é uma condição, uma premissa para a arte teatral em geral. A teatralidade de se estar em jogo. O Teatro de Improviso, por ser improvisado, mostra a ocorrência do jogo mesmo sem tentar mostrá-lo pelo simples fato de se colocar declaradamente em jogo quando se determina ser improviso. 
Para Huzinga o jogo cria ordem onde existe caos (HUZINGA, 1993). Pensar um espetáculo de improvisação por esta perspectiva é pensar também sobre a recepção/criação do público. O público é parte fundamental do jogo, do pacto da criação, pois, em suas diferentes aberturas, a cada espetáculo é o público quem sugere ou oferta a inspiração ou definição de cenas e temáticas de espetáculos. O pesquisador brasileiro Zeca Carvalho, em sua recente publicação O Corpo no Teatro de Improviso em que discute o elemento da corporeidade na Impro num paralelo de observação entre grupos brasieliros e portugueses, reflete na delimitação de sua pesquisa sobre termos da corporeidade e performatividade no campo dos Estudos de Teatro, e se depara com o ponto crucial da presença participativa do público na performance. A questão da co-presença que determina o ato do encontro único:

Para Fischer-Lichte (2016), é fundamental para os estudos de teatro a percepção de que em performance ocorre através da co-presença de atores e espectadores, emergindo do encontro desses actantes. constituído para pensar o espetáculo, e não seus resquícios, o campo dos estudos de teatro exalta a performance em seus aspectos de ritual, presença e encontro: rejeita-se a ideia de um teatro para o espectador, a qual é substituída pela perspectiva da obra teatral como processo e resultado desenvolvidos com o espectador. Em uma performance, pressupõe-se um encontro real entre um número limitado de corpos viventes de pessoas em um contexto definido pelo espaço e pelo tempo, as quais podem partilhar uma experiência que não será reproduzida novamente (PHELAN, 1993). (CARVALHO, 2019, p. 42).

A efemeridade e presença do público estão sempre a orbitar no fazer teatral em si. No Teatro de Texto, por vezes isso pode ser "mascarado" pela construcão ilusória da quarta parede e uma "leitura" previamente dirigida e orientada do público do que se "entender" do espetáculo. Na Impro é complexo falar de uma relação semiótica de “leitura” da obra, a partir do momento que não se sabe o que virá à cena, não se podendo necessariamente prever ou induzir previamente algo a ser entendido. Ao mesmo tempo que o Teatro de Improviso por si só se debruça na cumplicidade com o público daquele espetáculo, daquela(s) história(s) ser improvisada, acentuando o fator da experiência e do encontro, da copresença daquele grupo de pessoas num mesmo espaço e tempo. O significado, a “leitura” que seja, é descoberta por todas/os no enquanto, no jogo (teatral?). Objetos concretos ou abstratos surgem e se desvela em conjunto o que e como são manipulados, e reestruturados ou reafirmados de cena a cena. Até mesmo em espetáculos de formato curto, explicitamente em jogos de improviso com regras estabelecidas na premissa, como qualquer evento esportivo (enquanto performance?) se reestrutura e resignifica pelo momento presente, imperando não mais a ideia de regra, mas a ideia do que nos acontece ali, no nosso fenômeno particular.
O que se pode perceber ainda é que a/o improvisador/a parte de si (e não “do nada”) pra criar, então, de certa forma, todo espetáculo é autobiográfico na perspectiva que se cria a partir das próprias experiências anteriores combinada ao fenômeno presente. Autobiográfico não no sentido de contar sua história pessoal, mas de manifestar em gesto, movimento e fala sua visão particular de mundo. É se perceber indivíduo em discurso, presença e evidência (e com isso um papel político social de estar em cena) mesmo havendo a ideia de personagem. Esta/e, por sua vez, tem um olhar instantâneo (redes de impulso), não filtrado por discussões e pesquisas de personagens dentro de um discurso de montagem, e parte da perspectiva “espontânea” do que a/o improvisador/a pensa e articula com o momento presente. É pensar que se tem uma ativista feminista e cena e que a ela foi definido numa improvisação ser uma mulher submissa como personagem. Nas suas escolhas imediatas seria muito natural a ela cavar uma reviravolta para esta mulher, ou ainda explorar a violência da relação evidenciando as problemáticas, pois estes são os assuntos e vivências que a permeiam em ação, discurso e cotidiano. Sim, num espetáculo de Texto o mesmo pode acontecer, mas isso ocorrerá em discussões sobre cada cena, sobre cada movimento, sobre as outras personagens: haverá debate e definição a partir de uma análise prévia, antes de se levar ao público. Na Impro, este processo de debate ocorre no próprio fazer, por meio das ofertas (cegas, abertas ou fechadas) e no envolvimento do público.
A Impro, assim como qualquer forma teatral e os respetivos Estudos de Performance e de Teatro, está em constante mudança. Em eterna atualização. Ao mesmo tempo que se tem vertentes e grupos interessados em criar algo próximo ao Teatro de Texto, outras/os querem encontrar novas formas (ou novas articulações que o Teatro de Texto ainda não tenha convencionado), como é o caso do formatos de Match Improvisation que se articulam mais com estruturas esportivas do que teatrais, ao mesmo tempo que flertam com os códigos cênicos do teatro. Os trabalhos de improvisação seguem a se desenvolver nesse híbrido ou nesta fagocitose antropológica das noções de performatividades e teatralidades.


[1] Usaremos a palavra Impro, como é popularmente conhecida na América do Sul e Portugal, para identificar a forma de arte teatral da feitura de um espetáculo/apresentação em improvisação para além da ferramenta/técnica improvisação que pode ser utilizada em qualquer momento e área. A Impro também é designada como Improv (principalmente para o referencial em língua inglesa) ou Teatro de Improviso, tem como maiores influenciadoras/es em seu desenvolvimento artístico os trabalhos do inglês Keith Johnstone e das/os estadunidenses Viola Spolin, Del Close. O trabalho de Del Close em especial tem ainda maior impacto na Impro desde sua aliança criativa e produtiva com Charna Halpern. Estes quatro nomes são os pilares bibliográficos da Impro mundial, como se desenvolve hoje, e suas ideias e escritos são os fundamentos para os maiores centros de treinamentos em Impro como o The Second City (EUA), iO (EUA), UCB (EUA), e Moose Loose (Canadá) que buscam ensinar técnicas de improviso para uso geral e articulação de espetáculos de Impro.

[2] Que na tradução do inglês para o português, performance também poderia ser lida como desempenho, nos casos apontados neste primeiro momento do texto.



[3] Preferimos aqui o uso da palavra estrutura, pois em Impro a palavra formato também é usada para designar categoria de espetáculos em Impro em relação a sua duração: formato curto ou longo. Ressalta-se ainda que estrutura aqui é ligada a ideia de esqueleto, o conjunto de acordos para uma apresentação, não confundir o uso da palavra estrutura aqui com a definição de termo em “Improvisação para o Teatro” de Viola Spolin em que estrutura significa: “O Onde, Quem e o Quê; o campo sobre o qual o jogo tem lugar.” (SPOLIN, 2001, p. 339). Esta definição de Spolin tem haver com o estruturar, traçar os elementos edificantes de uma cena improvisada dentro de um jogo teatral.


[4] Na citação de Libera, originalmente em inglês, encontramos o uso da palavra performer para designar a/o artista que executa a performance teatral.


[5] A Impro como é conhecida hoje vai ter seu surgimento e articulação a partir de meados e fim da década de 1950, crescendo com força maior nos anos 60 no Reino Unido e Estados Unidos e a partir dos 80 se espalhando com maior evidência por demais regiões do mundo.

[6]  “Trust us, this is all made up” é justamente o nome do documentário de 2009 sobre o trabalho de T.J. e David, título que referencia a frase dita no início do espetáculo.


[7] Ainda existem mais dois tipos de oferta na Impro, a oferta aberta (a intenção de uma ideia para cena, mas sem muitas definições. Ex.: “Eu não me sinto bem…”, não se sabe o que se sente, porque se sente daquela maneira ou que se espera de quem está na cena) e a oferta fechada (a sugestão que já vem com todas as definições, quase como uma verdade para a cena. Ex.: “Mãe, eu estou grávida!”, há a definição da relação entre as personagens e um fato que é a gravidez).


[8] Esta leitura da barreira preconceituosa de reconhecimento da Impro apresentada aqui é articulada a partir das informações de mais de 50 entrevistas com improvisadoras/es de todos os continentes recolhidas para documentário sobre Impro em processo de edição pelo projeto brasileiro Visando Impro com o incentivo do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, Brasil (2016).

[9] A Impro inclusive tem sua própria termiologia e códigos cênicos mundialmente conhecidos entre improvisadoras/es para edições e transições de cena, trocas de personagens e sinalizações para comunicações dos grupos. São códigos ferramentas que não tem obrigatoriedade de uso, mas tem base em formatos referenciais às produções de Teatro de Texto.



Referências Bibliográficas

ADAMS, Kenn. (2007). How to improvise a full-length play: the art of spontaneous theater. Nova Iorque: Allworth Press.

CARVALHO, Zeca. (2019). O Corpo no Teatro de Improviso. Porto: 5livros.pt.


CHACRA, Sandra. (2005). Natureza e sentido da improvisação teatral. São Paulo: Perspectiva.

FROST, Anthony.; YARROW, Ralph. (2007). Improvistation in drama. 2a. ed. Londres: Palgrave Macmillan.

FERNANDES, Silva. (2011). “Teatralidade e performatividade na cena contemporânea”. Revista Repertório, no. 16. Salvador: UFBA, p.11-23.

FISCHER-LICHTE, Erika. (2005). “A cultura como performance: Desenvolver um conceito”. Revista Sinais da Cena, no. 4, dezembro 2005. Lisboa: Campo das Letras, p. 73-80.

HUZINGA, Johan. (1993). Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 5ª ed.

LIBERA, Anne. (2004). The Second City almanac of improvisation. Illinois: Northwestern University Press.

PAVIS, Patrice. (2017). Dicionário da performance e do teatro contemporâneo. São Paulo: Perspectiva.

REINELT, Janelle. (2002). “The politics of discourse. Performativity meets theatricality. In Performance: Critical concepts in literary and cultural studies, vol. 1. Londres & Nova Iorque: Routledge, p. 153-167.

SCHECHNER, Richard. (2006). “What is performance?”. In Performance studies: an introduction, 2a. ed. Londres & Nova Iorque: Routledge, p. 28-51.

SPOLIN, Viola. (2001). Improvisação para o teatro. 4ª. Ed, São Paulo: Perspectiva.


YAGI, Naoko. (1999). Towards a definition of performance improvisation. Tese de Doutoramento em Filosofia Universidade de Warwick, The School of Theatre Studies.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Atenção!!!! Documentário e Artigo Científico saindo no dia 16/11!!!

Últimas etapas deste projeto que me ensinou tanto e que me deu vias para partilhar esta pesquisa.

Dia 16/11 teremos a publicação de um artigo científico aqui no blog Visando Impro! Ás 10h da manhã do Brasil já estará disponível.


 E sim!!!! O Lançamento do Documentário “Era Preciso Ouvir Outras Vozes” com entrevistas coletadas nas viagens e encontros de Impro vai sair. Um smart phone na mão, pessoas interessantes e amizades que tornaram a parte técnica digna para esta pessoa aqui que nunca fez nada parecido. Muita gratidão e muita vontade de partilhar.

No momento do lançamento no YouTube (o link de acesso será publicado aqui às 15h do Brasil no dia 16/11 e também na nossa página do Facebook) também vamos fazer uma exibição no Espaço Imagine Produções Criativas (Amadora - Portugal), às 15h do Brasil (19h em Portugal).

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domingo, 15 de setembro de 2019

Palestras de Impro e Impro Long Form no YouTube

Pois já se passou uma ano desde que fiz as palestras com transmissão ao vivo sobre Impro e uma específica sobre Impro Long Form após os aprendizados nos cursos nos Estados Unidos e ida ao Festival Internacional na Grécia.

Desde então estes conteúdos estiveram disponíveis na página do facebook do Projeto VISANDO IMPRO, mas agora trazemos para vocês as palestras no YouTube legendadas em português (para acessibilidade e notas de referências).

Espero que desfrutem e que este material contribuía para entendimentos, criações e divulgação da Impro.

Palestra sobre Impro em Geral: https://youtu.be/-GkgcKXYw-M

Palestra sobre Impro Long Form: https://youtu.be/ARKgTf-Raow

domingo, 21 de julho de 2019

Novidade em Português para se ler em Impro!

Olá, pessoal!

Sim, faz tempo que não tem postagem no blog. E por bons motivos: o documentário e a pesquisa em Impro tem me ocupado muito. Assim que o documentário (ou os 5 espisódios) estiver pronto, eu volto a postar com maior regularidade. Mas nossa página do facebook está sempre atualizada com novidades do documentário e projeto Visando Impro: https://www.facebook.com/visandoimpro/ 

Mas esta passada rápida para matar a saudade vem com novidade ESPECIALÍSSIMA

COmo já conversamos anteriormente, a literatura específica de Impro, Teatro de Improviso, é escassa em português. São poucas (em crescimento, mas ainda poucas) monografias, dissertações, e teses acadêmicas e apenas 4 obras publicadas se contar "Improvisação Teatral" de Viola Spolin que menciona o Teatro de Improviso, mas trata mais da pedagogia teatral usando improviso.  Temos ainda duas obras originais em português do Brasil: "Improvisação como Espetáculo" de Mariana Muniz e "Os Pirncípios da Improvisação - 40 jogos para aprender e improvisar" de Cláudio Amado. O livro "Sim, mas" do argentino Omar Galván foi recentemente traduzido para o português de Portugal. E apesar da até extensa produção sobre improvisação como ferramenta e parte da história do teatro ("Natureza e sentido da Improvisação teatral" de Sandra Chacra ou os livros de Augusto Boal, por exemplo), 4 obras era tudo que tínhamos... até agora!

Em junho de 2019 a revista Status, única revista dedicada à Impro, originalmente produzida em espanhol, mas também com traduções em inglês, alemão e francês, começou a ter suas edições na versão em português. Sim, esta é uma das coisas que tem me tomado tempo. Apesar de não estar a produzir conteúdo para o blog, tenho contribuído para nossa bibliogtrafia na tradução oficial da revista Status. A revista é digital e mensal e cada edição custra 1 euro, ou, a assinatura mensal 10 euros. É uma revista que vive de doações e assinaturas. Por isso, piratear algo tão ok de pagar é só sacanagem, né? Todo mês a revista traz uma entrevista com improvisadoras e improvidadores do mundo à fora, uma matéria sobre técnicas realcionadas ou ferramentas para Impro e outras questões. Para assinar: https://payhip.com/b/ZAFy 
Fica a dica, a edição de julho tem entrevista com Keith Johnstone.

Mas a gente não vai parar por aí. O carioca Zeca Carvalho, um dos organizadores do Festival Unviersitário de Impro no Rio de Janeiro, veio à Portugal fazer seu Pós-Doc na Universidade de Lisboa. E transformou sua tese em um livro. Sim, agora temos mais um livro em Português. A tiragem é independente, são pouquíssimas edições, por isso o Zeca está disponibilizando gratuitamente, sim, eu disse gratuitamente, o livro em PDF para quem quiser ler seu estudo sobre corporeidade entre Brasil e Portugal na Impro: "O Corpo no Teatro de Improviso".




E aqui está o link para você fazer o dowload do livro!

Vamos ler e discutir e produzir e usar e criar e... e... e... Adoro!!!!




segunda-feira, 11 de março de 2019

Dos perigos de se tornar um/a Improvisador/a

Devo dizer que o título desta postagem é perfeito para o que eu vou dizer, mas provavelmente não é o que você está a pensar que eu vou dizer. A imagem da água também. Bebe uma água, lê com carinho e abertura. Beber água é tão importante quanto se perceber. Aliás, beber água é se perceber: o que você precisa e como passa seu dia.

Fonte: https://mamaonoticias.blogspot.com/2016/09/e-incrivel-o-que-um-copo-dagua-mais.html

O que quero dizer que eu realmente vou falar dos "perigos" que eu vejo em se assumir e se dedicar a ser um/a improvisador/a, mas não devem ser exatamente aqueles perigos que vem à mente de imediato.

Primeiro me pergunto o que se é ser tornar um/a improvisador/a? e me perfunto com o mesmo teor do que é se tornar artista? No meu caso, o campo é o Teatro, este é o contexto, mas sinta-se livre para adaptar para a arte em geral.

Para esta questão vou me apropriar de uma conceituação de Augusto Boal. Ele foi um diretor, professor e encenador brasileiro que foi nomeado ao Prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho com Teatro, o Teatro do Oprimido (que, entre outras formas de Teatro desenvolvidas por Boal, tem a improvisação bem ali no treinamento e estrutura de encenação... E por isso ele aparece citado em várias bibliografias de Impro, fica a dica!) Boal usa o conceito de não-ator/atriz para as pessoas que em determinado momento desempenham a função de ator/atriz, mas que não se dedicam à profissão. As/os profissionais sao, por ele, chamados de atrizes/atores e dedicam tempo, treinamento, energia, projetos para seu desenvolvimento na área e o desenvolvimento da própria área. Gosto desde ponto de vista porque não desvaloriza o trabalho de ninguém, mas mantém um olhar quanto à intensidade de empenho. Só dispensaria a negação e palavra "não" para o conceito, mas transmite a idéia. 

Tenho para mim que quando você escolhe se dedicar à profissão de artista, a sua vida vai girar em torno disso, como acontece com um/a médica/o, advogada/o, etc. Porém, não tem botão de desligar. Você vai subir na roda gigante e olhar para os carros e analisar o padrão de cores, a direção de arte, as linhas simétricas ou assimétricas da vida. Nosso objeto de estudo é a vida cotidiana, então isso nos grita a todo momento. (Eu também acredito que em qualquer profissão não se desliga a maneira de pensar e ver o mundo a partir deste filtro, mas o grau de interferência é menos visível ou perceptível).

Ao escolher ser artista, se isso for tão somente uma escolha, tudo vai lhe ser político (não necessariamente politizado), roubando mais um pouco dos dizeres de Boal: Todo teatro é político. Tem algo a dizer, um ponto de vista, uma ideia, ou uma pergunta.

Bebe um gole de água.

Dito isso, olho para a Impro e vejo a interferência ainda mais ativa na minha vida e na de outras pessoas que se debruçam sobre ela (vida ou Impro). Gente, pelo amor da Deusa, sem romantização de como artistas são especiais, etc. Porque, até pelo próprio olhar do Boal, todas/os somos artistas (não-atores/atrizes). Sim, Impro! 

Quando se começa a dedicar a arte da Impro você entende a aceitação como princípio longe de ser um limite ouuma regra do que se pode ou não fazer. Nas primeiras aulas, você aprende a dizer "sim" para basicamente toda ideia colocada em cena. É uma metodologia de aprendizagem MUITO eficaz, pois quebra comportamentos bloqueadores que estão enraizados em nós socialmente. Mas com o tempo, é possível perceber e vivenciar que a aceitação inclui o "não" também, por isso é um princípio. Nas últiams aulas com Rich Baker no Second City de Los Angeles (2018) ele fazia um exercício no final da aula do último dia em que tínhamos que negar tudo, fazer o oposto de tudo que aprendemos. E as cenas eram divinas, divertidíssimas, coerentes... E por que? Porque mesmo fazendo tudo "errado", aceitávamos a proposta de fazer tudo "errado".  E para fazer "errado" tínhamos que ouvir o que acontecia em cena, mesmo para não ouvir o que acontecia em cena. Ok, vou dar um exemplo: "Temos que ouvir nossa/o colega em cena". Para quebrar essa premissa, ou seja, não ouvir a/o colega em cena, eu tinha que ouvi-la/o para me provocar a não ouvir. Porque o ouvir no caso é no sentido de escutar falas e sons, mas também ver o que se faz, trocar olhares, o que o gesto e o toque propõe, estar presente.

Aí então também percebe que existe uma pessoa muito importante para ouvir, não mais não menos importante, e extremamente importante (repito de propósito porque é importante): Você. Ouvir a sua voz, suas propostas e vontandes tanto quanto de quem está à volta. Em adendo para acentuar que eu realmente não vejo uma diferença entre ser atriz/ator e improvisador/a (além de se especificar numa linguagem teatral, mas que ainda é teatro), trago este trecinho de A Porta Aberta de Peter Brook: "Na Índia, os grandes contadores de histórias que narram o Mahabharata [...] Têm um ouvido voltado para o seu interior e o outro para fora. É o que deveria fazer todo ator de verdade: estar em dois mundos ao mesmo tempo." (2005, p.27).

Essa preciosidade de se ouvir me fez muito sentido no me ouvir na condição mulher (Simone Beauvouir). Ouvir meu corpo em suas necessiades e limitações que mudam de dia para dia, de hora para hora. Ouvir meus ideais, a minha política, as minhas tolerâncias e intolerâncias... Acredito que agora começa a ver os perigos dos quais vou falar.

Bebe um gole de água.

Aprendi como improvisadora/atriz e mulher que eu aceito discursos e comportamentos machistas, o que não quer dizer que os tolere. Como assim? Em cena (ou fora dela): quando eu escuto (no sentido da escuta plena, presença) alguma sugestão sexista, eu a recebo, não a ignoro. E é isso. Eu não a ignoro. Eu a olho de frente e não deixo passar despercebida, fingir que não vi porque é feio ou porque a encarar vai "constranger" quem queria ignorar (que falou/fez ou ouviu/viu). Não significa cair numa briga. Por favor, deixemos este esteriótipo de que a mulher que vai falar sobre o que a afeta e incomoda, que 98% (talvez mais) das vezes vai ser sobre questões machistas, que ela vai brigar, ficar louca ou "histérica". Esse olhar é extremamente velho e... adivinha? Machista. Lembrando que o machismo não existe só no homem, é de toda uma sociedade que o sustenta, como podemos ver pela "ministra" da Mulher e da Família no Brasil. Então, respire e me escute. Não tem nada em caixa alta (caps look) aqui, então não há gritos ou esbravejamentos. Abre uma cerveja, um vinho, serve um suco ou um chá. Estamos bem? Siga quando estiver pronta/o. Se escute também.

Aceitar a existência das coisas é justamente usa-las, e não se resignar a elas. Pelo menos é o que eu aprendi na improvisação ao se aceitar uma ideia, ela não é uma condenação que me prende, é uma ferramenta, um degrau, um tijolo de consrução. Eu a uso, estou presente, há escolha. Há escolha. Percebe o perigo duplo: 1) tudo que trazemos para a cena vai ser ouvido, não vai passar despercebido e vai ser usado. Então não dá para "pedir" para deixar batido, fingir que não ouviu/viu/sentiu. Vai contra o princípio. Aquela é a oferta. 2) Há escolha: como vamos usar isso. E esta escolha está no afeto, em como nos afetamos, nas nossas políticas, em como ouvimos nosso interior em relação direta ao exterior.

Talvez fosse possível (e é, porque é uma escolha também) tentar fingir que não aconteceu. Mas tem que ser uma escolha de todo mundo, até do publico, porque estava lá. Mas aí está o perigo em se tornar improvisador/a: você agora está treinada/o, e você "quer", escolhe, ouvir/ver/sentir. Ignorar e fingir que não viu, vai ser uma escolha contra essa natureza.

E é aí que eu não entendo comentários do tipo: "a Luana sempre vai fazer a coisa ser sobre machismo". Escuto isso e acho até graça na formação da frase, porque eu não fiz o machismo, ele tava bem ali, eu só não deixei passar. Ah, sim, essa é uma escolha minha. Outra aspecto que vejo nesta observação é que na verdade eu não "faço" nada sobre o machismo, e sim sobre o feminismo. Que não é o oposto (mais uma vez: feminismo não é o posto do machismo. Feminismo é um movimento pela igualdade de direitos e respeito. Machismo é uma conduta e pensamento social que dá desvaloriza a mulher em relação ao homem.). O feminismo não ignora o machismo, lhe encara de frente e luta para sua extinção. Então, vou adorar ouvir: "a Luana sempre enxerga a força do feminismo". Tá... ok, é bem romântico. Eu enxergo o machismo. E muitas vezes (e talvez não o suficiente) enxergo em mim também. A mudança é bruta. Por isso escolho não ignorar.

Quando uma pessoa posta uma "piada" ridicularizando as mulheres, eu falo que não gostei. Não brigo (necessariamente), mas não deixo mais passar, fingir que não vi, que essas pessoas são assim mesmo então nem adianta... Tenho tolerância com a pessoa e não com a coisa. Eu já me entendi neste lugar, pelo menos agora na minha vida. E vou re-agir, no sutil, no direto, no indireto, é da minha atual natureza responder ao que vejo/sinto/escuto.

Bebe um gole de água.

Mas de tudo isso, eu gostaria de pensar agora especificamente em relação às/aos demais improvisadoras/es. Quando "a Luana [ou qualquer outra pessoa, homem e mulher] faz alguma coisa sobre o machismo", você também não vê? Digo, talvez não tenha percebido no momento, mas quando é evidenciado pela pessoa, você não vê? Se não... bom, tem uma pessoa propondo algo, talvez pudesse se esforçar para ver/ouvir/sentir a proposta. Se sim... Qual é o incômodo? Realmente, qual é? É o "toda vez"? É um cansaço de falar no assunto? Se for isso, o que tenho a dizer é que é cansativo mesmo e que está em todos os comportamentos, então é sempre e toda vez mesmo. E talvez aquela pessoa não precisasse fazer isso "toda vez", se ela não fosse a única a fazer. Sabe? Cansa estar sozinha. Cansa repetir e não ecoar. Cansa ouvir: "mas são assim mesmo"... Cansa perceber que todo mundo percebeu o que foi dito/feito/sentido, porque na hora que isso acontece todos olham para você para ver a sua reação. Por que te olhariam? Porque ouviram, viram e sentiram. E o que escolhem fazer? Essa é a pergunta do perigo aqui: O que você escolhe fazer? Vai ignorar? Vai jogar a bola para aquela pessoa de sempre e dar um peso para o "toda vez"? Vai dizer ou fazer alguma coisa? Vai dividir o peso? 

E agora que você é um/a improvisador/a, como você pode ignorar isso? "Grandes poderes trazem gradnes responsabilidades" (Tio Ben - Homem Aranha). Mais uma vez, não é um intento à briga (às vezes é, as intensidades tem a ver com as situações, não é mesmo?). Eu mesma, intensa na minha fala como sou para tudo, nem brigo ou grito. Sim, eu reajo, e é grande, na intensidade do afeto. Salvemos as proporções das intensidades, os contextos, e até mesmo o cansaço da repetição para ambos os lados (e aqui não é entre mulheres e homens, mas sim em quem fala e escuta). Estamos todas/os cansadas/os e cheias/os de uma discussão que se finge discutir. Uma realidade que dura milênios, queremos que se resolva em cinco minutos. Vai ser todo dia, grão por grão, gota a gota. Toda vez, todo dia, toda ação. Dá medo e tudo parece a gota d'água. (Bebe água) Eu sei que medo é esse?  E em ti: o que te incomoda? Mesmo, olha para o medo e o incômodo sem uma resposta preparada. "Não esteja preparada/o" (Keith Johnstone). Você sabe que incomôdo é esse seu?

Parece que fui longe, mas eu estou mais perto que nunca. Numa lente de aumento.  uma evidência, dessas que a gente escuta/vê/sente e não deixa passar. É a mesma coisa que qualquer professora/a de Impro lhe diria sobre qualquer proposta de cena: algo está acontecendo diante de ti: o que vai fazer à respeito? Vai bloquear o que aconteceu? Ou vai aceitar e...? 

É que o aceitar implica em dar continuidade, em tomar um partido e ser política/o. A bola fica contigo, aceitar que aconteceu e construir algo dali, somar, acrescentar um tijolo a essa casa. 

No palco, na conversa do bar, no seu dia a dia: O que será o seu "e..."?


***

Algumas perguntinhas feministas em relação a Impro para se pensar (não tenho resposta, vou adorar conversar):

1) Quando sugerem uma profissão ou uma personagem, quantas vezes se escolhe interpreta-la como mulher? Exemplo: bombeiro, pedreiro, senador, jókei, etc. (provocação extra: percebem como a linguística nos leva a pensar no masculino?)
2) Quando homens interpretam mulheres e quando mulheres interpretam homens: 
- E a definição do gênero acontece no meio da cena: você muda a sua forma de falar e se movimentar? Como? Por que?
- Você se apóia num esteriótipo? Qual?
- Quantas vezes você repete o mesmo esteriótipo "homem" e "mulher" no mesmo ensaio?
3) Já discutiu condutas sobre assédio (em cena e fora dela) no seu grupo?
4) Existem ou já percebeu se existem protocolos de conduta e vestimenta para mulheres que seja diferente para homens? (to falando dos ensaios e apresentações, mas serve reparara se os da vida cotidiana se aplicam cá também). 
- Por que existem? Ex.: Qual é o problema, se é um problema, uma mulher não usar sutiã numa apresentação? E num ensaio? 
- Se isso lhe aprece óbvio, já se perguntou se óbvio para s/os demais? 
- As mulheres: elas se sentem a vontade para não usar sutiã se não quiserem?
5) Quantos grupos você conhecem que tem a proporção de 50/50% entre homens e mulheres? E quantos tem mais homens que mulheres? E quantos tem mais mulheres do que homens?
6) Quantos grupos você conhece só de mulheres? E quantos só de homens?
- Por que "existe" (se é que existe)  uma necessidade de haver grupos só de mulheres?


Um beijo, me liga, me escreve! Conversemos tomando uma cerveja, vinho, suco, água e chá. Ah, gente, bebe água! É vital!




Bilbiografia mencionada:

2005. Brook, P. A Porta Aberta. Rio de janeiro: Civilização Brasileira. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Descobrindo o mês de Janeiro de 2019

Eu prometi que compartilharia aqui os workshops que fiz parte em janeiro de 2019 por estas terras portuguesas. Então aqui vai já no final de Fevereiro, o que foi este Janeiro!

Workshops de Impro SyFy com Isaac Simon
14/01/2019, das 20h às 23h no Centro Cultural de Moscavide. 
#improvfx #isaacsimon

O grupo ImprovFX aproveita a vinda de improvisadoras e improvisadores de outros países para realizar workshops com o grupo e, como os treinos abertos, também abrem (quando possível) estes workshops. Eis que eu me adentrei neste com minhas nerdices e coração geek a palpitar. 
Vamos lembrar aqui que esta é a minha maneira de escrever e que os nomes dos exercícios não importam porque eu nem sei se foi isso mesmo que foi dito, hehehe.

O Issac Simon é estadunidense e mora atualmente na Holanda. O workshop foi conduzido em inglês.

Exercício #1: Evolução

Há 7 estágios de evolução no exercício que seguem uma ordem: Ovo (andar no plano baixo agaxadas/os como ovos); Galinha (andar no plano médio/baixo como Galinhas); Dinossauros (Andar no plano médio/baixo como Dinossauros T-Rex); Humanas/os (Andar de pé); Mulheres e Homens de Negócios (De pé a resolver problemas ao celular/telemóvel, computador, etc.); Jedi (De pé com seu sabre de luz e a força); Semi-Deus/a (Ah... a plenitude). Todas/os começam como Ovos. E quando cruzam o olhar com alguém, jogam pedra, papel e tesoura. Quem ganha: "evolui", no caso para Galinha (seguindo a ordem de "evolução"). Você só pode jogar Pedra, Papel e Tesoura com alguém que está no seu mesmo nível de "evolução". A partir do nível da Galinha, quem perde o Pedra, Papel e Tesoura, "des-evolui", ou seja, volta um nível. Ou seja, se duas pessoas como Galinhas jogam Pedra, Papel e Tesoura, quem ganha "vira" Dinossauro e quem perde "volta" a ser Ovo, nenhuma das duas ficou como Galinha. O mesmo acontece em qualquer nível, sempre "voltando" ou "subindo" um nível na "escala evolutiva". Quando se atinge o nível Semi-Deus/a, pode se retirar do campo de jogo e observar.

Observações:
- Ótimo aquecimento
- Sou competitiva para cara...mba

Exercício #2: Gênero Cultural

Em roda, com uma vinheta que determina um ritmo para se iniciar o jogo, alguém delimita um gênero cultural ou estilo: Zumbi, Comédia Romântica, Apocalipse, Distopia, etc. Depois disso, como que se jogasse algo para o meio da roda, cada um que tem uma referência desse universo estipulado, a fala. Pode ser objetos, descrições de espaços, frases, o que seja. Até que se considera esgotado e passa-se para a vinheta e recomeça com novo gênero.
Ex.: Zumbi!
- Cérebros
- Sangue
- Vírus
- Andar armada/o
- Ruas destruídas
- Silêncio
- "Se me morderem, por favor, me mate!"

Observação:
- Bom jogo para trazer referências de grupo e atiçar o imaginário antes de improvisar.

Exercício #3: Pintar a Cena e Viver a Cena

Todas/os pintam a cena: descrevem algo no ambiente: de objetos a cheiros, temperaturas, etc. Tudo somático compondo o mesmo espaço. Se desloca para o espaço para "pintar" a imagem, mostrar onde ela se encontra. Depois duas pessoas entram e contracenam nesse ambiente.
Ex.:
- Uma lâmpada pendurada com a luz a falhar
- Uma janela quebrada que mal contém o vento frio que faz a lâmapda balançar
- Um rádio velho chiando nas prateleiras da parede de trás
- Baratas pelo chão e paredes, a maioria mortas
- Um sofá de dois lugares velho e destruído, com as molas aparentes, num tecido que já foi vermelho, no canto esquerdo abaixo das prateleiras.

Orientações para este workshop:
- Cenários de Distopia
- Terminar a cena sabendo quais as relações e o que fazem naquele espaço, o que é aquele espaço para as personagens. 

Exercício #4: Camadas da Cena

Cena de 4 pessoas. Primeira vez a cena é feita "realisticamente" a partir de uma ação que todas/os fazem. O diálogo deve ser sobre nada, absolutamente desinteressante. A segunda vez, faz a mesma cena, tenta-se manter o diálogo criado na primeira, porém há uma nova camada de intenção ou realidade. Ex: 4 pessoas datilografando num escritório falam sobre leite. Antes de se repetir, cada pesoa escolhe alguém para estar apaixanoda/o. Repete a cena e diálogos com essa intenção. Nova camada, repetir a cena como se tivessem acabo de descobrir que têm mãos. 

Exercício #5: Não pode Sair

Cenas de 2 pessoas. Sugestão inicial de distopia e situação. Não se pode sair de cena. Vamos descobrindo a realidade desta distopia, as regras que a governam, durante a cena. Ex.: Distopia: Não poder demonstrar emoções. Situação: Casal à porta de casa depois do primeiro encontro, em que ambas/os gostaram. A cena se desenvolve, uma pessoa está sempre a olhar para os lados (descobrimos que há vigilância), etc.

Exercício #6: Propagandas de Distopia

Sugestão inicial de algum problema real atual que será transformado em distopia. Seguem-se omprovisações de propogandas que mostram como se articula essa Distopia. 
Ex.: problema dos transportes públicos que estão sempre cheios. 
Propoganda 1: Agora todas as pessoas moram e andam juntas, se tudo está cheio, nada está! Viva a sociedade do Aglomerado!
Propaganda 2: Não tenha contato com ninguém, adquira seu holograma flex e se isole do contato físico! Deixe o HOlograma não sentir por você!

Exercício #7: Distopia Longform

É estabelecida uma Distopia inicial. Improvisação livre longform a partir da Distopia.


Foto: André Sobral. Self desfocado do grupo... Ou uma interferência Syfy



Foi interessantíssimo trabalhar o conceito de Distopia como base da cena. É um descobrir de regras de um Universo outro que tem muito haver com o nosso, mas que se articula aos poucos numa outra realidade. 

***

Workshop Stephen Thornton
26/01/2019, das 14h às 18h no Pólo Cultural das Gaivotas. 
#stimprov

Uma das coisas que eu adoro é conhecer alguém no dia a dia, em situações umas e poder ver essa/esse alguém como professor/a. Estamos a improvisar com o Stephen há alguns meses nos treinos abertos do ImprovFX. Já o conheço de alguma, e agora tenho 4 horas de sua acunha como professor. Camadas de nós mesmos!

O Stephen é estadunidense e atualmente mora em Lisboa. O Workshop foi conduzido em inglês, tendo uma improvisadora tradutora (Inês Lucas) conjuntamente para qualquer necessidade.

Anotações iniciais do que captei da proposta:

Objetivo: Trabalhar o desenvolver de cenas sem uma premissa pré-determinada

Quadro inicial apresentado:
1) Make active, positive choices (Faça escolhas ativas e positivas)
2) Support and enjoy the physical, verbal and emotional reality of the scene (Dê suporte à realidade física, verbal e emocional da cena)
3) Be right here, right now! (Esteja aqui, agora!)

Exercício #1: Nomes com troca

Andando pelo espaço, contato visual. Por quem passa, fala-se o própro nome e escuta o da outra pessoa. Depois de um tempo nesta dinâmica, começa-se a falar o nome de quem encontra e não o próprio. 

Exercício #2: Passar palmas

Inicialmente em roda. Passa-se a "bola" por palmas, para as pessoas ao lado e depois de um tempo a "bola" pode saltar para qualquer pessoa. É estabelecido um sinal para que, quando alguém que está com a "bola" o fizer, todas/os tenham que trocar de lugar.
Repete-se o exercício substituindo as palmas por estalos de dedos (como movimento).
Repete-se o exercício mais uma vez substituindo os estalos por acenos de cabeça.
Na última "repetição", é o olhar (sem aceno) que guia o passar da "bola".


Exercício #3: Siga seu espelho

Em roda. Cada pessoa, na sua vez, aponta para alguém no círculo. Esta, por conseguinte, aponta para outra, até que o ciclo se feche e todas/os tenham uma pessoa apontando para si e que também estejam a apontar para alguém. Assim se define quem é o espelho guia de quem: a pessoa para quem se aponta é a pessoa que você deve seguir os movimentos, como um espelho, procurando ser o mais preciso e simultânea/o possível.

Exercício #4: Banco em silêncio

Um banco (ou cadeiras poscionadas uma do lado da outra). Duas pessoas entram e se colocam em posição no banco. Sinal de luz (ascende), em silêncio, se deixam afetar pela presença da outra pessoa, percebe-se a outra pessoa. Sinal de luz (apaga). O grupo que assiste comenta o que viu e percebeu, suas interpretações e especulações. 

Observação:
- Perceber as diversas leituras e que nenhuma é correta ou errada.

Exercício #5: Banco + diálogo

Mesmo exercício do #4, mas agora, quando sentirem o momento, um diálogo previamente determinado é falado:
A: I love you. (Eu te amo.)
B: I love you too. (Eu te amo também.)
A: Really? (Sério?)
B: Yes, really. (Sim, sério.)

Observações:
- Diferentes perscepções de intencões e possíveis histórias (especulações) do público.


Comentários e anotações avulsas da oficina até então:

- Improvisation in the end of the day is discover. (Improvisação no final do dia é descobrir.)
- If the improviser is surprise, the audience will feel the surprise. (Se a/o improvisador/a é surpreendida/o, o publico vai sentir a surpresa.)
- You will know what you need to know when you need to know what you need to know. (Você vai saber o que precisa saber quando você precisar saber o que precisa saber.)

Exercício #6: Iniciações 3 e 4


Existem 7 tipos de Inciniações de cenas (traduzindo Sthephen)
1. Algo dito/escutado
2. Física (atividade ou movimento abstrato)
3. Emocional
4. Observação (você parece... Você me faz sentir...)
5. Opinião (Eu acredito que...)
6. Premissa exterior (vem de uma oferta cega)
7. Premissa interior (não vem de uma oferta, é uma oferta)



Cena de 2 pessoas. Começa com as 2 andando pelo espaço. Ao comando da/o professor/a: congelam. Blackout. Quando a luz ascende a cena começa a partir daí e da percepção da verdade do momento. Perceber quais são as verdades, o que se sabe. Então alguém fala "Eu sinto ____________" e tem que ser uma verdade e não premissa, uma tentativa de estabelecer e definir algo. Perceber como isso faz a/o outra/o se sentir e seguir a cena. Descobir então os elementos ao longo da cena (ou não).

Indicações de protocolos para, em side coach, se potencializar as relações:
- Cosntruir uma ideia de cada vez
- Andar/mover para sua próxima fala
- Contar/revelar um segredo

Comentários e Observações:
- A verdade primeiro antes da premissa
Dizer seus sentimentos: o que você sente no momento que você sente seus sentimentos.
A mágica do descobrir
Você não está aqui para contar/controlar uma história (a premissa faz isso)
- Quando você chega no ponto em que "eu realmente quero saber" é a hora que eu posso definir (labled). Mas você não precisa.
Você é o canal para a história. 
* Me lembrei da história do Yoshi Oida (Oida, Yoshi. "O Ator Invisível". São Paulo: Via Lettera, 2007.)

No teatro kabuqui, há um gesto que indica "olhar para a lua", quando o ator aponta o dedo indicador para o céu. Certa vez, um ator, que era muito talentoso, interpretou tal gesto com graça e elegância. O público pensou: "Oh, ele fez um belo movimento!"Apreciaram a beleza de sua interpretação e a exibição de seu virtuosismo técnico.
Um outro ator fez o mesmo gesto; apontou para a lua. O público não percebeu se ele tinha ou não realizado um movimento elegante; simplesmente viu a lua. Eu prefiro este tipo de ator: o que mostra a lua ao público. O ator capaz de se tornar invisível. (Oida, 2007, p. 21)


Foto: Inês Lucas (via timer da câmera)

Foto: Inês Lucas


Quintas de Improviso- Sem Rede
31/01/2019, das 21h às 23h30 no AnexXo (Sintra) - Byfurcação Teatro. #semrede #byfurcação

O grupo Sem Rede inicia os trabalhos da Quinta de Improviso do ano. Em que às quinta-feiras à noite abrem as portas do AnexXo para ensaios abertos com participação de quem se disponibilizar a ir, ou apresentações de improviso.


Foto: Sandra Cruz

Foto: Sandra Cruz


Ensaios abertos, meu povo. Jams. Palco de experimentação de improviso. Cervejas pós encontros. Podcast. Blogs. Vamso nos ecnontrar e trocar. Viver essa improvisação qeu nos cerca e liga. Como há a Impro Festa em São Paulo. Façamos mais, encontremos mais.

Além da troca com demais imrpovisadoras/es e com outros públicos é um grande oportunidade de permitir seu grupo em outros contextos. O mês de janeiro foi um tanto assim para o Lilimprov (#lilimprov). Estivemos juntas, as três, nas 3 oficinas/encontros aqui mencionados e fomos juntas assistir a um espetáculo de Impro também. Uma experiência sem tamanho nos assistir com outras pessoas, ou contracenarmos juntas com olhares e conduções de outras epssoas. Que encontros com nós mesmas tivemos!

Encontremo-nos. Afinal, no final do dia, é sobre descobrir. 


Self Lilimprov por Luana Proença

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Improvisar fora da sua Língua Materna

Nesta semana me deparei com o texto de Gino Galotti: DOING IMPROV OUTSIDE OF YOUR MOTHER TONGUE.

Me chamou a atenção porque partilho do óbvio: as dificuldades e sensações conflitantes internas, de se improvisar em outra língua (como postei muito aqui sobre os cursos internacionais em inglês) e por também acreditar que o assunto vale uma discussão continuada. Vale a atenção, principalmente porque espero ver o Brasil (e agora também espero mais de Portugal) se inserir num circuito mais internacional de Impro, o que levará ao encontro com as diferentes línguas (e linguagens).

Lembro como fiquei comovida (até escrevo sobre isso na dissertação de Mestrado) quando meu professor Micah Philbrook em 2011, no Centro de Treinamento The Second City em Chicago, disse que nós nos juntaríamos nas últimas horas do curso para improvisar com outra turma. Que mesmo que não tívessemos feito os mesmos exercícios, conseguiríamos jogar juntas/os porque agora falámos uma mesma língua: a Impro. Me fez um sentido especial por ser uma não-nativa ali. E por mais sinceramente poético e verdaeiro que isso seja, eu ainda tinha que improvisar em inglês, e isso, colegas, é outra vida!

Nos treinos abertos do ImprovFX que participo semalmente, temos improvisado em inglês. Me proponho a participar de encontros e festivais de Impro... em inglês... 

E nesta semana, temos o espetáculo: IMPROV COMEDY - FEAUTING: FOUR MISFIT IMPROVISERS será nesta terça-deira, 12/02/2019 às 20h30 em A Carpintaria, próximo do Cais do Sodré em Lisboa. Nele, eu, André Sobral, Hugo Rosa e Stephen Thornton vamos nos apresentar pela primeira vez  (juntas/os) em inglês em Lisboa com jogos de formato curto. O Stephen é o único nativo em língua inglesa... Então, percebemos como o assunto está aí o tempo todo.

Então segue aqui a tradução do texto do Gino Galotti, com autorização dele, justamente porque ele pretende continuar a discutir e ouvir as pessoas à respeito da experiência de se improvisar fora da língua materna.


A tradução é do inglês para o português, por isso lembro que a maneira de escrita em que o gênero feminino é visível no coletivo é uma proposta minha e não do texto original necessariamente.


***



Fonte Imagem e Texto original: 

FAZENDO IMPRO FORA DA SUA LÍNGUA MATERNA

Gino Galotti



Impro é uma forma de arte que ganha terreno em mais países cada ano. Da uúltima que chequei, somente 13% das pessoas que mencionaram "improvisação" no Facebook (usando públicos de Facebook) vinham dos EUA. O próximo da lista estava o México com 10%, Brasul com 10% e Itália com 5%. É impressionante ver como a improvisação se espalha!

Eu tomei a decisão de aprender e atuar impro em inglês, como muitas/os outras/os. Mas há um assunto que tem me interessado: Como improvisar na minha terceira língua afeta minhas performances?

Eu não estou falando sobre o óbvio, como se sentir menos confortável com sotaques ou não partilhar das mesmas referências culturais. Eu quero falar de como improvisar em uma língua não-nativa afeta nossa maneira de jogar? Existe algum formato que é mais difícil por causa disso? Ou jogos mais fáceis? Nós conseguimos adaptar nossas aulas para um publico internacional? Eu tenho me perguntado alguma destas questões pelo meu teatro e decisdir também compartilhar com vocês.

Em uma realmente breve biografia (você pode ler a versão longa aqui): Eu sou Gino, um espanhol que começou a improvsar em Denmark. Na minha primeira aula, existiam 3 eslovenos, 2 falantes nativos de inglês e 10 outras/os de todos os lugares. Quando eu me graduei, um terço era esloveno e um terço eram falantes nativos. Nós conseguimos evitar esse grande abandono de não-nativos? Nós conseguimos lhes apoiar para termos um elenco mais diversificado?


Como improvisar fora da língua materna nos afeta?


Eu me pergunto isso o tempo todo.

Eu algumas vezes preciso de um segundo extra para responder quando estou jogando jogos de rítmo-rápido. Exemplos são os jogos de formato-curto que exigem respostas rápidas ou inciações como Pintar Cenas (Painting Scenes). Em relação ao que virá, o jogo realmente se destaca quando o ritmo aumenta até que as pessoas estejam praticamente falando uma por cima da outra. E eu não queria admitir que isso era uma questão, mas eu posso dizer que essa velocidade é um desafio para mim.

Eu não havia percebido que o inglês estava subsconsientemente afetando meu jogo até que eu entrei em um curso em Londres (onde eu era o único não-britânico), e joguei exercícios que eram focados em entrar no espaço mental "intuitivo" ("intuition" headspace). Alan Marriott nos explicou as três maneiras de reagir.

* Emocionalmente, seguindo nossas entranhas/instintos, na maior parte das vezes só fazendo sons e frunidos.
* Intelectualmente, quando nós processamos a informação e encontramos a resposta correta.
* Intuitivamente, quando nós sentimos estar no piloto automático, quando você não está consciente da resposta até deposis que você a disse.

Ele explicou quão poderoso é improvisar neste estado e propôs alguns exercícios. Em um deles, nós tínhamos que trazer objetos de uma caixa imaginária num ritmo tão rápido que você não podia preparar o que viria depois. A maioria das pessoas precisou de 40-60 coisas em alguns minutos para conseguir chegar num ponto de não pensar, mas eu achei isso impossível de alcançar em inglês. Aqueles 5 milisegundos - que eu não tinha ciência de que precisava - para chegar as palavras estava quebrando o exercício para mim. Quando eu mudei para espanhol... pareceu-me fácil!

O que me preocura são todas as formas que improvisar em inglês está afetando minha performance, sem que eu tenha consciência. Eu só posso trabalhar com algo se eu estou ciente disso!


O que se manter em mente quando se joga com falantes não-nativas/os. 


O que nós devemos manter em mente quando jogamos com (ou ensinamos) um time não-anglófono? Essa é uma das perguntas que me tenho me feito. Eu nào tenho uma lista extensa ainda, mas eu espero continuar adicionando notas de novas experiências como as suas.

Quanto mais físico, mais inclusiva é a improvisação. Eu talvez seja tendencioso por ter uma parceria com a Commedia dell'arte, mas a maioria das pessoas concorda que a fisicalidade é um campo honesto. Treinar cenas com limitação de fala ou com foco nos nossos movimentos irá empoderar as/os performers independentemente da sua perícia em inglês.

Esteja atenta/o a técnicas como a tag runs ou outras inciações rápidas. Eu adoro jogos de ritmo-rápido. Mas, eu tneho que admitir, eu gosto mais quando estou com um elenco apoiador que entende que a velcoidade não é o meu forte. Eu vou, obviamente, embarcar no jogo; mas eu fico ansioso quando eu sinto que eu tenho que ser quem vai guiar o grupo. 

O nível de conforto em se falar inglês tem implicações no estabelecer da plataforma da cena. Kadi, um/a amiga/o improvisador - que está a estudar o uso do inglês como língua franca - partilhou esse pensamento comigo. "Eu não tenho a visão de que aquelas/es de nós que usam o inglês (diariamente) como uma segunda língua estão quebrados ou com defeito e devem aspirar a algum tipo de padrão nativo. Mas eu acho que em alguns momentos deve-se também ter foco em dar apoio linguisticamente falando quando nós estamos sendo treinados a fazer cenas de impro. Eu vejo isso como parte e parcela de aprender a fazer cenas com literalmente qualquer um/a - nós todas/os temos diferentes forças como improvisadoras/es".


As forças que as/os falantes não-nativas/os trazem à mesa 


Eu acredito profundamente que existem muitas vantagens em se ter uma maior diversidade (em qualquer jeito possível) no elenco. 

A mais óbvia? Produz novas vozes, novos pontos de vistas ao cenário. Existe um novo mundo de possibilidades que é trazido à mesa. Nós teremos referências culturais diferenciadas, com todas as nuances que isso traz. E eu não estou apenas me referindo às nossas referências televisivas (por sorte, nós não podemos usar nenhuma em nosso teatro com um publico tão diversificado!).

Trazer o comunismo para esta cena? Será realçado por termos um/a parceira/o romena/o a quem a família realmente foi afetada pelos anos. Jogar como aquele garçon italiano? Você vai jogar no auge da sua inteligência com sua/seu amiga/o milanês/a ao seu lado.

Ter comando sobre várias línguas é uma regalia poderosa, especialmente quando seu teatro está localizado perto de um hostel. Eu já vi gargalhadas ruidosas quando um membro do elenco falhou em falar uma frase comum em dinamarquês; ou usando sua língua materna para realçar uma cena, dando uma jóia extra para um membro sortudo da plateia. Há inúmeros jogos de formato-curto onde nós podemos usar isso. Eu tenho uma memória adorável de uma amiga romena performando uma cena em espanhol somente com falas de telenovelas que ela aprendeu pela TV!

Use todos os pequenos erros como presentes. Se a/o sua/seu parceira/o de cena está confortável contigo, você pode honrar como seus problemas de pronúncias não-nativas podem inspirar uma cena. Durante um dos espetáculos principais do Festival CIIF, a/o única/o performer não-estadunidense pronunciou jail walking ao invés de jaywalking; e isso serviu de inspiração para a performance inteira!

Finalmente, eu não conseguiria contar todos os diferentes usos do inglês que nós fazemos só de sermos poliglotas. Eu relamente recomendo o inscrível TED talk que explica com a língua molda nosso jeito de pensar.



Pessoas trabalhando com o impacto da língua em impro.


Eu não tenho ouvido muitas pessoas estudando ou trabalhando sobre os desafios de se improvisar fora da nossa língua materna, foi por isso que eu decidi comerçar a conversar com a minha comunidade! Mas existem muitos cursos relacionados com as dificuldades mencionadas. Eu estou planejando contactar algumas/alguns professoras/es de improvisação para ouvi-las/os sobre suas experiências para que nós possamos compartilhar lições aprendidas!

No festival de Lyon, você pode encontrar vários cursos explorando a improvisação sem um língua compartilhada. Joe Bill está ensinando "Jogando com a Linguagens da Impro" ("Playing with the Languages of Improv"), explorando as diferentes formas de se comunicar em uma cena, algumas usando sua língua materna. Tim Orr está comandando um curso de "Cena Silenciosa" ("Silent Scene"), também.

Dada a situação única que nós temos no teatro, e estou ansioso por fazer mais pesquisas! Vamos fazer da improvisação ainda mais inclusiva! 


Você procura ajuda


Não existem publicidades neste blog. Eu não estou vendendo cursos. Você pode até vir assistir meus espetáculos. Se eu estou tomando tempo para escrever isso é porque eu acredito que nós possamos crescer juntas/os. E, para isso, eu realmente preciso de ajuda.

Inglês é a sua língua materna? Quais são suas experiência em improvisar em Inglês? Quais exercícios você acha particularmente desafiadores? Você ensina?

Sinta-se a vontade de comentar. Se você quiser uma conversa mais profunda no assunto ou se você quer compartilhar algo, meu email está mais que aberto: gino.galotti@gmail.com. Eu estou planejando em continuar a perguntar por aí e aprender sobre o assunto para que esta não seja a última postagem sobre improvisação com falantes não-nativas/os em inglês.

***

Comentários finais (Luana Proença)

Vale ressaltar que este ano a décima edição do Diplomado Internacional de Improvisação Teatral (Colômbia) vai dar ênfase à fisicalidade, o que pode levantar discussões interessantes. Acredito que ainda dê tempo de se inscrever!

Outro ponto inclusivo em linguagem que penso à respeito da impro é o uso da Linguagem de Sinais (que, opa, é física!). É uma tradução simultânea do que é falado e nào compete em som com o que é dito. Pensem a respeito apra suas paresentações e festivais, de forma que isso seja, literalmente, incorporado, e nào apenas uma ação deslocada ao canto do palco.

Sigamos! Let's keep going!