quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Um ano de Visando Impro - Para qual direção agora?

Em 31 de janeiro de 2018, abri o blog e publiquei a primeira postagem (e faz um mês exato desde a última postagem).

Há um ano... Não estava nos planos morar em Portugal naquela época, e a gente segue improvisando consciente (ou na tentativa de). Justamente hoje renovei meu visto de estudante por mais um ano, mas sabe-se lá o que virá.


Fonte: https://medium.com/@FacilitaMovel/10-exemplos-de-sms-de-anivers%C3%A1rio-para-conquistar-seus-clientes-55d36c9148dc

Janeiro voou. O desmoramento brasileiro político e ambiental e educacional e... A dor e a saudade... Paçoquinahs para consolar a ausência de Carnaval. O ritmo de estudos aqui foi intenso, com os trabalhos do doutorado para entregar, reeinício dos treinos com o ImprovFX e Lilimprov. além de mais dois workshops bem bacanas de Impro. vou deixar as descrições dos dois workshops para a próxima postagem e compartilhar aqui uma das minhas produções acadêmicas quanto à Impro. Escolho este caminho porque acredito, desde a criação deste projeto, na importância de se compartilhar reflexões sobre a Impro, ainda mais no âmbito de investigação e, em português.

Uma das disciplinas que estive inscrita foi a de Metodologias de Investigação em Teatro e Artes Performativas. Tive que sesenvolver como trabalho final um Ensaio Crítico sobre o Estado da Arte na minha Área de Pesquisa. Afinalando o tema de Impro em relação a Direção em Impro e os questionamentos que o tema me impele, eu compartilho meu exercício.

Relembro que um dos meus objetivos pessoais, inseridos neste projeto do blog com o financiamento do FAC/DF, é o de produzir material sobre impro em português, e isto é levado em consideração no meu ensiao crítico como fio condutor e também objetivo de pesquisa.


Obs: Se alguém quiser o texto em pdf (porque a formatação aqui no blog por vezes sai um pouco esquisita... uns espaçamentos nada haver que eu não consigo arrumar, etc.), só me pedir!

E nesta escrita solitária cá do blog... aceito com muita querência feedbacks marotos!


***


DIRIGIR IMPRO
Luana Maftoum Proença

            A Impro, também conhecida como Improv ou Teatro de Improviso, é uma linguagem teatral na qual a improvisação é a base para a apresentação de ume espetáculo. Ou seja, o espetáculo é improvisado com a presença do publico enquanto a apresentação ocorre, de forma que o jogo teatral e a participação ativa de todas/os que estão presentes ficam expostos e, assim, são explorados para a criação conjunta de histórias, personagens, movimentos e cenas.
            Não há uma diferença exata entre o que é chamado Impro e a improvisação em si, já que “impro” é a abreviação da palavra improvisação. Porém, pode-se traçar uma linha de indicação entre o uso do improviso como ferramenta geral e como constituição de espetáculo, ou seja, uma linguagem ou gênero teatral. No Sumário de um dos mais conhecidos livros sobre improviso publicados em português, Improvisação para o Teatro de Viola Spolin, há uma unidade intitulada Teatro Formal e Teatro Improvisacional indicando a Impro como gênero. A improvisação é um campo, uma técnica e uma ferramenta utilizada pelo Teatro (e todas as outras áreas do conhecimento e vida cotidiana, a meu ver). A Impro, então, seria a articulação desta técnica enquanto espetáculo, como forma de arte não apenas no processo de criação em sala de ensaio, mas como a própria obra a ser apresentada. É uma divisão que existe na produção artística, que caracteriza tipo de espetáculo e confere especialidade a eventos como festivais que são dedicados à Impro. Há, entretanto, quem prefira não dividir o campo da improvisação entre técnica e forma artística, como Sandra Chacra em Natureza e Sentido da Improvisação Teatral que traz um subcapítulo intitulado Por que Improvisação Teatral e não Teatro Improvisado?. Nele argumenta: “Limitar a improvisação a um tipo de Teatro, seria restringi-la a uma espécie ou gênero. […] Partimos do princípio que a improvisação é elemento constituinte da vida teatral e que não pode ser descartada ou inserida em função de modelos dramáticos.” (Chacra, 2005, p.39). A partir desse ponto de vista, a palavra “impro” também é usada frequentemente na oralidade e literatura para designar qualquer prática de improvisação. Reconhecendo essas realidades do emprego do termo, definimos que quando nos referirmos aqui a Impro, estamos delimitando a Improvisação como espetáculo, o Teatro de Improviso, reconhecendo-o como forma de arte, que não se separa da improvisação, mas direciona seu uso específico para o fenômeno da apresentação.
            Percebemos a importância de se visualizar essa “diferença” sutil, por conta de uma série de questionamentos investigativos possíveis suscitados ao se pensar na improvisação como espetáculo: Como se articula um espetáculo de Impro? E a encenação: cenário, luz, figurino de improviso? Como se prepara a atriz e o ator para um espetáculo de Impro? Como se ensaia ou se treina? Qual a diferença entre treinar e ensaiar? Há diferença? Se aprende a improvisar? Se a improvisação é técnica e ferramenta, podem haver técnicas e ferramentas para se improvisar?
            E a partir de interpelações como essas se organiza toda uma outra perspetiva quanto à improvisação em si, o que determina a elaboração de uma bibliografia específica. O que se quer destacar é que podemos encontrar muitos estudos sobre a improvisação como ferramenta de criação em processos teatrais na história do Teatro. Ela está presente, por exemplo, nos escritos tanto do criar quanto do preparo de artistas nos apontamentos de Stanislavski, Meierhold, Artaud, Brecht, Grotóvski, Copeau, Lecoq, entre outras/os.

Considerando que todo ato teatral encerra, por si só, um elemento improvisacional, é de se supor que a improvisação esteja presente em toda a história do teatro. Fenomenologicamente, isto é certo, mas do ponto de vista histórico esta forma de expressão possui momentos de manifestação autônoma, passíveis de serem destacados da história geral do teatro. (Chacra, 2005, p.23).

            Um dos principais momentos históricos da arte teatral, de rápida referência à improvisação interferindo como cerne do ato de apresentação (como estrutura de espetáculo) é a Commedia Dell’Arte. A ela se dedicam inúmeros estudos específicos em todo o mundo, tanto pela curiosidade de se ter o improviso com extremo apuro técnico, quanto por sua própria importância histórica.
A existência de uma bibliográfica mundialmente vasta que fala da improvisação como ferramenta de criação para cena e treinamento de atrizes e atores, confunde-se um tanto com a bibliografia específica de Impro, devido justamente a Impro em si ser uma articulação técnica para uma forma de arte. “Confusão” acentuada por pontos de vistas teóricos, como o de Chacra, que não reconhecem o direcionamento específico da improvisação como espetáculo. Por sua vez, a partir de estudos e trabalhos artísticos como os do inglês Keith Johnstone, e das/os estadunidenses Viola Spolin, Del Close e Charna Halpern, o desenvolvimento de um estudo voltado a Impro, incentivou um outro olhar técnico para a improvisação num sentido global. O que se quer dizer é que os estudos específicos de Impro ampliaram o estudo técnico de improvisação no Teatro em geral não só numa perspetiva de usar o improviso, mas, e principalmente, em relação a como improvisar. Esta é, em si, a grande diferença e contribuição da Impro para o Teatro e seu uso da improvisação: não só se pensar os momentos em que o improviso pode contribuir num processo, ou como ele é potente e libertador da espontaneidade e do elemento da presença, mas pensar o como se fazê-lo, aprender a improvisar. Quantas/os atrizes/os não se veem numa arena segurando uma colher tendo um leão a correr em sua direção quando a/o professor/a pronuncia a sentença: “Improvise algo daí!” ou “É só improvisar!”. Esta é uma realidade fácil de se constatar ao se observar no Brasil e Portugal, por exemplo, os pouquíssimos cursos de formação de atrizes e atores que apresentem ao menos uma disciplina dedicada à improvisação e, que ainda assim, pense o como improvisar além do uso da ferramenta improviso.
Obviamente, em escritos dos mencionados grandes autores do Teatro pode-se encontrar indicações desse como improvisar, porém, é basicamente um trabalho de garimpo e filtro, pois os caminhos do como se relacionam mais a outros conceitos do que diretamente com a improvisação. Tomemos o exemplo do “Se Mágico” apresentado por Constantin Stanislavski em A Preparação do Ator nas palavras da personagem do diretor Tortsov diante de suas/seus alunas/os:

[…] o se atua como uma alavanca que nos ajuda a sair do mundo dos fatos, erguendo-nos ao reino da imaginação.
 […] quando usei a palavra se, reconheci francamente o fato de que lhes estava apenas propondo uma suposição. […] Vocês, por sua vez, não se obrigaram a aceitar a suposição como realidade, mas unicamente como suposição. (Stanislavski, 2012, p.76 e 77).

Stanislavski vai relacionar o “Se Mágico” ao uso do estímulo de uma situação hipotética, da criatividade, imaginação, da “vontade” da/o artista, da espontaneidade da ação, da “verdade cênica”. No “garimpar” do como improvisar, tendo a improvisação como o caminho do desenvolver da espontaneidade e criatividade em cena, podemos ler o “Se Mágico” como a proposta, a oferta, a sugestão que estabelece o jogo e a partir daí depará-la com os princípios de AceitaçãoXBloqueio ou o “Sim, e…” (aceitar e acrescentar) que são explorados na Impro neste como improvisar: a ideia que é trazida (ofertada, sugerida) é aceita, não há julgamentos ou aprovações, pois é dela que se desenvolverá e se estabelecerá o jogo. Como garantir que uma improvisação é coerente dentro do seu universo criado? Talvez esse princípio pareça óbvio, pois quando crianças isso nos seja natural no brincar, mas a atitude da/o adulta/o, e por assim, da/o artista é de avaliar se uma ideia sugerida é “digna”, é boa o suficiente para ser trabalhada, seja esta ideia vinda de si mesma/o ou de outra pessoa. Ao se treinar aceitar a “primeira ideia” não está a se treinar “Teatro” diretamente nos aspetos de personagem, texto, movimento de cena, estilização, etc., mas sim um comportamento ou um modo de pensar que permite improvisar. A integração do “Se Mágico” com o “Sim Mágico”. O aceitar é uma das primeiras questões a se aprender com Impro no como improvisar e, por mais óbvio que parece, não é (ou era) uma das lições populares em aulas de Teatro.
Já nos estudos de Lecoq e Copeau, por desenvolverem em suas escolas um programa que contemplava o ensino de improvisação e estabelecidos para si a ideia de “jogo cênico”, já podemos encontrar maiores apontamentos no como improvisar. Jacques Lecoq, por exemplo, vai começar seu trabalho de improvisação a partir do silêncio a fim de que suas atrizes e atores se entendam para além das palavras: “o grande tema-piloto, que domina as primeiras improvisações silenciosas, é A Espera. O principal motor da interpretação está nos olhares: olhar e ser olhado.” (LECOQ, 2010, p.62). Este “olhar e ser olhado” pode ser revisto nas teorias de Impro como a “escuta” ou “presença plena”, treinar perceber o que acontece e o que nos acontece. É a perceção da “oferta cega”, uma sugestão que não foi propositalmente feita para ser seguida, mas que está ali num movimento, num olhar, num estar e que é capitado e desenvolvido entre as/os presentes. Para tanto é preciso “escutar”, que tem haver com o manejo de ansiedade, o “esperar” que algo se manifeste. Lecoq também vai propor estruturas de improvisação, que mais que regras de jogos ou propostas de situação, são uma série de protocolos e ações possíveis que podem ser usadas em cena, numa escala de intensificação, a fim de guiar o trabalho de improviso. (Lecoq, 2010, p.66 e 67). Entretanto, mesmo que de grande valia, os apontamentos de Lecoq visam a ferramenta improviso para se atingir um grau e vigor de presença requerido por ele no palco e também como parte do trabalho da/o artista, vide que se encontram especificamente apenas 9 páginas dedicadas a improvisação em O Corpo Poético: Uma Pedagogia da Criação Teatral, uma obra de 237 páginas.
Jacques Copeau, ao se debruçar junto com Louis Jouvet nos estudos da Commedia Dell’Arte, já vai desenvolver um como improvisar num olhar que evoca o Teatro de Improviso, mas ainda perpetua na prática do ensaiar e criar para depois formatar uma obra “fechada”.

A improvisação não é apenas um exercício, um meio de atuar melhor, pensa Copeau, mas talvez se possa ressuscitar o gênero da comedia improvisada, com personagens e temas modernos. O ator tornar-se-ia quase autor. Entretanto, textos seriam trabalhados em termino de estudos, sobretudo os clássicos franceses, que "não oferecem pontos de fixação as afetações, aos fogos fátuos da habilidade". (Aslan, 1994, p.49).

Este percurso da improvisação nos sistemas de ensino e treinamento de grandes encenadoras/es da história do Teatro, assim como o aproveitar de conceitos, pode ser encontrado mais diretamente na obra já mencionada de Sandra Chacra Natureza e Sentido da Improvisação Teatral, em Improvisation in Drama de Anthony Frost e Ralph Yarrow, e também, com olhar atento para o tema em O Ator no Século XX de Odette Aslan.
A Impro como se conhece hoje, teve sua primeira grande onda de criação entre as décadas de  1950 e 1960 principalmente nos Estados Unidos (com Viola Spolin e seu filho Paul Skills) e Inglaterra (Keith Johnstone), se popularizando em outros países por volta da década de 1970. É possível se dizer que ao final dos anos 90 já estava inserida mundialmente, tanto difundida ou conhecida entre pequenos grupos artísticos. De forma que o material específico em Impro hoje já é bem rico principalmente em produções originais em inglês e suas traduções para outros idiomas como o Espanhol e o Alemão (que também produzem uma gama de materiais originais). Especificamente sobre Impro, sobre como improvisar, existem centenas de livros, blogs e por certo, dezenas de artigos acadêmicos sobre Impro no Teatro (pois a Impro, os princípios e técnicas de como improvisar, já são popularmente usados também para treinamentos no mundo dos Negócios, na Saúde e Terapias). Existem pelo mundo escolas especializadas em Impro, como o Loose Mouse no Canadá, O Centro de Treinamento Second City, o Upright Citizens Brigade (UCB), o iO e Groundlings nos Estados Unidos, só para citar as mais famosas.
Esta, porém, não é a realidade para os países de língua portuguesa. Não há escolas específicas, apenas workshops esporádicos ou um curso menor dentro de formação de longa duração de escolas de Teatro em geral. O material bibliográfico específico em Impro em português, é extremamente escasso, incluindo o material traduzido para o português. Temos algo como: 2 livros, 4 capítulos em Livros, 10 trabalhos acadêmicos de conclusão de curso, 14 artigos publicados, 12 publicações em Anais de Congressos de Artes Cênicas e 1 blog ativo.
Numa interseção entre Impro e práticas pedagógicas e sociais podem somar a estes números os trabalhos do brasileiro Augusto Boal, que também é muito citado na bibliografia mundial de Impro, e as traduções dos livros da estadunidense Viola Spolin. Os escritos e experimentações de Boal como o Teatro do Oprimido, a Dramaturgia Instantânea, o Teatro do Invisível e o Teatro Fórum, por exemplo, podem ser lidos como formatos de espetáculos de Improviso e recursos de jogos de treinamento, mas não se debruçam tanto no como improvisar, pois a visão do autor está mais vinculada na expressividade social e transformação do meio social usando o Teatro como ferramenta que, por sua vez, vai usar da improvisação como caminho para aprendizado e criação teatral para não-atores[1].
Spolin, por sua vez, tem um trabalho direta e indiretamente relacionado a Impro e seus quatro livros foram traduzidos no Brasil: O Fichário de Jogos Teatrais de Viola Spolin onde encontramos uma organização metódica de jogos para ensino de Teatro que usam a improvisação como base e orientações de aplicação dos exercícios; Jogos Teatrais na Sala de Aula que tem por perspetiva o uso de jogos teatrais no desenvolvimento de crianças e adolescentes, não necessariamente em Teatro, mas por meio do Teatro; O Jogo teatral no Livro do Diretor onde relaciona, como num manual de condução de exercícios e orientações, os jogos como caminhos de treinamento e criação de cena; e Improvisação para o Teatro no qual apresenta parte da teoria da Impro, ou seja, o como improvisar, jogos teatrais e como ler o sistema proposto, o próprio uso de jogos no ensino de Teatro e desenvolvimento da espontaneidade e criatividade, e ao final um glossário de termos relacionados ao livro e com isso, a Impro. Porém, a de se destacar, que Spolin se debruçou sobre a pedagogia teatral e esse material, assim como a maior parte de artigos, monografias, dissertações e teses derivados dele, vão falar da sala de aula e não necessariamente da forma de arte Impro. No Prefácio de autoria anônima da tradução brasileira de Improvisação para o Teatro podemos perceber como as interceções entre seu olhar pedagógico são tocadas pela ideia de espetáculos de Improviso:

Embora o material para publicação tenha sido reunido há muitos anos, sua forma final só foi atingida depois que a autora observou como a improvisação funciona profissionalmente no Second City em Chicago, o teatro improvisacional de seu filho, o diretor Paul Sills. O desenvolvimento deste sistema para o uso profissional trouxe novas descobertas e a introdução de muitos exercícios recém-inventados em suas oficinas de trabalho em Chicago. O manuscrito foi submetido a uma revisão total para incluir o material novo e para apresentar mais claramente o uso do sistema por profissionais, bem como pelo teatro amador e infantil. (Spolin, 2001, XXVIII).

Assim, em suas publicações conseguimos encontrar pontualmente e especificamente o olhar do como improvisar, que são de suma e grande validade para a Impro, no que se diz respeito ao espetáculo de Improviso em si, encontramos mais pinceladas referentes à forma de arte. Isso está explícito no próprio título que coloca a Improvisação à serviço do Teatro. Também pode ser percebido ao se ler a própria conceituação de improvisação dada pela autora:

IMPROVISAÇÃO – Jogar um jogo; predispor-se a solucionar um problema um qualquer preconceito quanto à maneira de solucioná-lo; permitir que tudo no ambiente (animado ou inanimado) trabalhe para você na solução do problema; não é a cena, é o caminho para a cena; uma função predominante do intuitivo; entrar no jogo traz para pessoas de qualquer tipo a oportunidade de aprender teatro; é “tocar de ouvido”; é processo, em oposição a resultado; nada de invenção ou “originalidade” ou “idealização”; uma forma, quando entendida, possível para qualquer grupo de qualquer idade; colocar um objeto em movimento entre os jogadores como um jogo; solução de problemas em conjunto; a habilidade para permitir que o problema de atuação emerja da cena; um momento nas vidas das pessoas sem que seja necessário um enredo ou estória para a comunicação; uma forma de arte; transformação; produz detalhes e relações como um todo orgânico; processo vivo. (Spolin, 2001, p. 341 – grifos nossos).

A produção de Impro, em geral, já se distancia do olhar de improviso como “resolução e problemas”, chegando a traçar escritos que valorizam o “se colocar em problema” na improvisação. Vale destacar que a publicação da primeira edição em inglês de Improvisation for the Theater (Improvisação para o Teatro) data de 1963 e a Impro já desenvolveu novos formatos dentro de si mesma. O formato curto (short-form) é o mais conhecido entre o publico em geral por conta de sua duração “curta” e do vínculo com a comédia que gera vídeos “virais” nas plataformas de digitais. As estruturas competitivas são as mais desenvolvidas neste formato como o Teatro-Esporte, o Match Improvisation, entre outros, em que as/os improvisadoras/es partem de sugestões do publico para improvisar cenas dentro de jogos que tem metas a serem alcanças. O formato longo (long-form) já tem a tendência de desenvolver histórias e personagens improvisadas a partir de uma sugestão do publico.

A maioria do improv formato longo dura ao menos dez minutos e consiste em um número de cenas curtas editadas pelas/os performers[2] no palco, às vezes por um chefe de palco ou outra fonte de fora. As partes de um formato longo devem estar relacionadas de alguma maneira. […] Improvisação Formato curto dura geralmente menos de dez minutos e tende a não conter qualquer edição interna. (Libera, 2004, p. 121 – tradução nossa[3]).

A estrutura (também chamada de formato[4]) mais famosa é The Harold, desenvolvida por Del Close e Charna Halpern no Teatro e escola de improviso iO, em Chicago e define três ciclos de cenas “aleatórias” que encontram conexão no último ciclo. A esta estrutura se dedicam livros e cursos exclusivos em Impro. Mesmo assim, os formatos curto ou longo variam em si de espetáculo a espetáculo, oferecendo estruturas diferentes, das mais simples como definir-se como formato curto ou longo, às complexas como The Harold.
Assim, dentro do que já se produziu bibliograficamente em Impro tem-se documentações históricas, registros das escolas e personalidades famosas que passaram por elas, biografias, manuais de como improvisar, como montar e treinar seu grupo, o que se treinar, e conjunto de exercícios e jogos para tanto. Giram em torno das ferramentas para se construir as cenas improvisadas: narrativa, personagens, relações, edições de cena, etc. É a partir daí que se desenvolvem outros pontos para aprofundamento de pesquisa, questões que ainda não foram olhadas com maior atenção ou dedicação, como o caso da Direção em Impro. Como se dirigi um espetáculo de Improviso? Dirigir improvisação não é por si contraditório? Se dirige o espetáculo, o grupo ou a cena? As/os improvisadoras/es enquanto atuam também se dirigem e dirigem o espetáculo? Desse material que existe de Impro, o que se aproveita para a Direção? Qual a diferença em Impro de se dirigir e se treinar um grupo? Onde isso se confunde e se separa? Será que se separa? E a partir daí, também se derivam questionamentos tais como: Qual a diferença de se dirigir Impro e qualquer outro espetáculo teatral? Impro é um processo colaborativo? Uma criação coletiva? E a Dança, com seu histórico de improvisação e contato-improvisação: como pode contribuir em metodologias e técnicas de Direção para a Impro?
Na bibliografia existente específica de Impro, encontra-se apenas o livro Directing Improv: Show the Way by Getting Out of the Way de Asaf Romen, publicado em 2017, além do caso dos livros de Viola Spolin O Jogo Teatral no Livro do Diretor e Improvisação para o Teatro que em inglês recebe o subtítulo: A Handbook of Teaching and Directing Techniques (Um Manual de Técnicas de Ensino e Direção – tradução nossa). Como Spolin mesma aponta em seu Prefácio, o seu trabalho não visava o Teatro de Improviso, embora tenha sido muito utilizado e contribui para o desenvolvimento do mesmo. (Spolin, 2013, p.15). Há também menções sobre o tema no formato de comentários, dicas ou um ou outro capítulo de livros de Impro. Não foram encontrados artigos científicos ou trabalho de conclusão de curso acadêmico dedicados a questão.
Um dos motivos para a ausência de material talvez seja porque, assim como acontece na realidade teatral em geral, o aprender a dirigir esteja vinculado com o aprender da/o performer na feitura da própria linguagem com o percurso artístico. “Existe pouco treinamento acessível que lida com como dirigir Impro. Ao ensinar o assunto, eu descobri que grande parte das pessoas aprenderam a arte da Direção e Impro simultaneamente. Isso acrescenta uma série de níveis de dificuldade a uma tarefa já repleta de ansiedade.”[5] (Romen, 2017 – tradução nossa[6]).
Outro ponto que “confunde” o material, é a proximidade da função de diretor/a e treinador/a em Impro, ou ainda com a função de professor/a. Isso é possível de perceber no prefácio escrito por Jonathan Pitts no livro de Romen:

De fato, muitas vezes, a direção e as/os diretoras/es são usualmente incompreendidas como uma arte, função ou um papel nos elencos, espetáculos e estruturas de impro. […] Asaf Romen, um artista de impro formato longo, criou um excelente livro sobre dirigir e treinar impro. […] para dirigir ou treinar tanto um espetáculo quanto um elenco. […]. Asaf claramente define muitos dos problemas e situações únicas para se dirigir e treinar impro. […] Por muitas vezes diretoras/es estão em um papel isolado em relação ao elenco, diretoras/es e treinadoras/es não tem frequentemente uma chance de conversar e aprender umas/uns com as/os outras/os; […] Por focar em direção e treinamento, o novo maravilhoso livro de Asaf preenche um vazio no catálogo de livros publicados de impro.[7] (Pitts in Romen, 2017 – tradução e grifos nossos).

            A associação sempre conjunta de Direção com treinamento no texto de Pitts é uma resultante da conexão entre os dois trabalhos, que ao mesmo tempo, por serem citados juntos sem um suprimir o outro, também copele que exista uma diferença entre ambos. Romen dedica inclusive um breve espaço de seu livro para “diferenciar” o dirigir, treinar e ensinar, e ao mesmo tempo, já faz por si algum “garimpo” quanto a comentários sobre Direção em Impro ao disponibilizar depoimentos (e não citações de obras) de outros profissionais desta especificidade. Kevin Mullaney aparece, por exemplo, comentando que: “Como diretor, a última coisa que eu quero fazer é ensinar alguém. Isso não é o que eu quero fazer quando estou dirigindo. Eu estou lá para ajudar a dar forma ao espetáculo. Se elas/es não estão prontas/os para fazer este espetáculo, então talvez elas/es não deveriam fazer parte desse processo.”[8] (Mullaney in Romen, 2017 – tradução nossa).
Spolin vai usar no Jogo Teatral no Livro do Diretor o binômio diretor/instrutor, contribuindo, por sua grande influência na Impro, para essa “confusão” de funções (que não deixa de, no seu confundir, ser fecunda e funcional). Pode-se dizer que este livro, como este mesmo é apresentado, é uma organização dos jogos teatrais e como instrui-los pela perspetiva da/o diretor/a. A metodologia de se dirigir por meio de jogos indica o tipo de Direção que Spolin descobriu e se dedicou: “Descobri que durante o jogo eu poderia continuar a dar instruções sem interromper o que os atores estavam fazendo. Minha direção começou então a constituir de instruções para o foco do jogo.” (Spolin, 2013, p.15). Também em Improvisação para o Teatro, Spolin vai dedicar duas páginas ao trabalho da Direção em geral, e um único parágrafo à relação direta a Impro:

Para o teatro improvisacional, a sua parte na ação teatral é ver e selecionar a cena ou estória na medida em que emerge do trabalho dos atores (enquanto solucionam um problema). O diretor deve sempre ver o processo em movimento (ou colocá-los em movimento quando os atores se sentirem perdidos), a partir do qual uma cena pode se desenvolver. (Spolin, 2001, p.285).

Em Long-Form Improv de Ben Hauck, há um capítulo dedicado a Direção juntamente com ensino de Impro formato longo no qual Hauck vê diferença ao mesmo tempo que não separa as funções: “Para mim, existe uma grande justaposição entre ensinar impro formato longo e dirigir impro formato longo. Como professor, eu estou dirigindo, e como diretor, geralmente estou ensinando.” (Hauck, 2012, p.239).
Ao “garimpar” em outras obras de Impro, entre os capítulos e passagens sobre Direção podemos encontrar, afim de exemplificar como o conteúdo aparece e é abordado: um pouco mais de uma página em Long-Form Improvisação & The Art of Zen: a Manual for Advanced Performers de Jason Chin; em Comedy Improvisation: Exercices & Techniques for Young Actors de Delton t. Horn, temos um subcapítulo para “liderança”; na obra de Johnstone Impro for Storytellers pode-se aproveitar os apontamentos do capítulo sobre feedbacks e um pouco mais especificamente a estrutura Gorilla Theatre que se baseia numa competição de Direção em Impro. Em The Improviser’s Way: A Longform Workbook de Katy Schutte, existem três parágrafos sobre Direção que falam mais da diferença quanto a função de treinador/a:

Enquanto eu estava dirigindo, eu trouxe o professor de formato longo Ryan Millar e outras/os para nos treinar durante os ensaios. O espetáculo tinha a minha visão, mas haviam habilidade que nós precisávamos trabalhar. […] Minha experiência como treinadora é a de que há um grupo ou elenco que traz alguém para elevar seu jogo. O grupo já decidiu o que quer. (Schuttle, 2017, p. 59 – tradução nossa).

            Nos casos de obras como Improvise: Scene from the Inside Out de Mick Napier, em que não há uma sessão destinada a Direção, mas pelo texto, mesmo que direcionado à/ao improvisador/a em cena, é possível selecionar indicações para se dirigir Impro e diferenciar a Direção do ensino ou treinamento:

Nós queremos ver o seu poder, não seu medo. Ninguém tem tempo para seu medo. Quando eu dirijo, presumo competência, não inabilidade. Isto é tudo que um/a diretor/a quer de um/a improvisador/a neste processo. Pegar as escolhas poderosas que ele ou ela criaram, e utilizá-las no espetáculo. Se eu, como diretor, tiver que constantemente dar tudo mastigado e sugerir e mimar a/o atriz/ator em relação a suas ideias, falas, e personagens então existe noventa por centro de chance de a pessoa estar a vir, já de começo, de um imenso lugar de insegurança. Está bem aí o problema, não na ideia, na personagem ou em qualquer coisa. Quanto mais você aborda a/o diretor/a ou outras/os atrizes/atores de uma maneira carente, mais você se alienará quanto ao poder da/o diretor/a e de si própria/o. Quando eu ensino, eu espero insegurança; quando eu dirijo, eu espero o oposto. […] Quando eu ensino, eu tenho espaço para escolhas inseguras; quando eu dirijo eu não tenho. Uma vez que você está proficiente neste comportamento, você terá o direito mais que bem-vindo de discutir sua cena comigo ou outra/o atriz/ator. A melhor coisa que você pode me dizer em críticas é, “Eu farei uma outra escolha, e vamos ver se funciona.”  (Napier, 2004, p.92-93 – tradução nossa).

            Percebe-se que há um pensamento quanto a Direção em Impro, que talvez na aliança com o treino e o ensino, acaba por ser pouco explorada na bibliografia, mesmo que se veja diferença entre as funções.
Outra questão que se pode levantar para a investigação ao retornar ao prefácio de Pills no livro de Romen é a existência em Impro de “áreas” ou “tipos” de Direção: de espetáculo ou de elenco, sendo que a primeira se refere a Direção de obras isoladas de Impro enquanto a segunda define um trabalho contínuo junto a um grupo de improvisadoras/es (que em Impro também são frequentemente chamados de times ou trupes). Uma classificação de trabalho que é mencionada, mas não explorada no livro. Para entendimento do que se desenvolve na obra, podemos verificar que Romen organiza-o em 12 capítulos que: 1) abordam sobre o que é, em sua perspetiva, o trabalho da/o diretor/a de Impro; 2) demonstram o trabalho em si; 3) discutem a questão dos feedbacks e desafios (que em Impro é algo a se avaliar com particularidade, já que o espetáculo não será “repetido”, então não é possível necessariamente “melhorar” ou mudar uma intenção, marca ou movimento, pois estes já não existem mais numa próxima apresentação); 4) orientam a formação de um elenco; 5) indicam como estruturar ensaios e oficinas; 6) abordam a técnica do sidecoaching; 7) designam caminhos para a criação de estruturas de espetáculos; 8) pensam a comunicação da Direção com a parte técnica e música (é muito natural a Impro dialogar cenicamente com uma musicista ou músico em cena. A Música tem por si muitos estudos quanto a improvisação na sua área); 9) exploram o desempenhar o papel de diretor/a e improvisador/a; 10) lidam com questões que podem aparecer em grupos (o que está relacionado com o trabalho de Direção em geral, mas que Romen usa exemplos específicos de Impro – ou da intensidade que aparecem na Impro – como o “roubar” a cena de alguém, não dar espaço à/ao outra/o parceira/o de cena, etc.); 11) trabalham a perspetiva de grupos mistos (a fusão de diferentes times); 12) desenvolvem as questões próprias do trabalho com crianças. Finaliza o livro ainda com a descrição de alguns exercícios, e a partilha histórias conhecidas ou vividas por ele próprio.
             Definitivamente, esta obra literária é um “pontapé” inicial ao se olhar a Direção de Impro com maior atenção. E justamente, por ser pioneira, abre o campo para outras inquietações, como se pensar qual é a real diferença entre se dirigir Impro e outras linguagens teatrais. Romen, como dito anteriormente, transcreve alguns depoimentos que apontam questões da Impro com a Direção, mas que sem dificuldade poderiam ser transpostas para qualquer outro processo teatral. Por exemplo, quando Mick Napier aborda o se tornar diretor/a, ele estabelece uma equivalência entre quem faz improviso (improvisadora/es) ou Teatro “em geral” (atrizes/atores):

A maior cilada, na minha opinião, é a crença de que a habilidade para ser um/a improvisador/a ou atriz/ator é suficiente para se dominar o ser diretor/a. É uma coisa totalmente diferente. Eu desejaria que toda/o futura/o diretor/a fosse um/a diretor/a assistente, ou ao menos assistisse e estudasse outras/os diretoras/es, antes delas/es decidissem fazer isso.[9] (Napier in Romen, 2017 – tradução nossa).

            Na linha desta comparação, tomemos o caminho contrário e outro ponto na análise do trabalho da Direção teatral em “geral”. A partir dos escritos da diretora estadunidense Anne Bogart em seu livro A Director Prepares: Seven Essays on Art and Theatre podemos falar do papel de observador/a ao dirigir: “Observar é perturbar. ‘Observar’ não é um verbo passivo. Como diretora eu tive que aprender que a qualidade da minha observação e atenção pode determinar o resultado do processo.”[10] (Bogart, 2005 – tradução nossa). Enquanto também se pode ler por este mesmo filtro o depoimento do diretor e improvisador Michael Gellman: “Se você negar sua inteligência ou negar sua responsabilidade como um/a observador/a apaixonada, então eu acredito que você realmente dececionou seu elenco. Elas/es estão contando com você para dar feedback e que você possa apoiá-las/os.”[11] (Gellman in Romen, 2017 – tradução nossa).
            E na sequência de questionamentos, em que a Direção também se coloca nos princípios da improvisação, com a escuta ou presença plena, numa qualidade de atenção, assim como se dispõe as atrizes/atores e, no caso, improvisadoras/es, levanta-se a investigação do binário da função diretora/improvisadora de cena. Cláudio Amado, no capítulo Atenção em seu livro Os princípios da improvisação: 40 jogos para aprender e improvisar lança uma premissa que é muito difundida na Impro: “O improvisador não é apenas ator. Quando improvisa em cena, ele é também escritor, pois está criando a história e os diálogos. É também um diretor, pois está criando as marcações e os códigos cênicos. (Amado, 2016). Então, como se estabelecem os papéis? Há uma hierarquia de decisões? Um limite? Como funciona esta relação e paradoxo de se ter um/a diretor/a o mesmo tempo que a peça em si, como obra, é improvisada? Podemos pensar a Impro como processo colaborativo ou criações coletivas?
            O que se pode dizer até aqui, de acordo com o que se percebe do material vasto de Impro que se tem em outras línguas, é que a Direção de Impro é um assunto que permeia o universo da Impro, mas que não se tem um olhar dedicado às várias questões que este assunto podem suscitar, mesmo que a prática da Direção em Impro exista em intensa e constante atividade. Isso, como apontado, deve-se ao fato de que na produção artística da linguagem, a Direção foi/é aprendida no fazer e desenvolver da forma artística, no próprio aprendizado das/os improvisadoras/es. E justamente, por se ter tantas diretoras e diretores a trabalhar e tão pouco desta experiência compartilhada pontualmente quanto a Direção em si, é que se abre todo um novo espaço no âmbito acadêmico científico e também da bibliografia da área para se explorar e desenvolver mais este assunto.
            Possibilidades para trilhar este caminho se debruçam em compartilhamento de experiências por entrevistas; nos estudos de genética teatral em Impro em continuidade de grupos e/ou trabalhos isolados; na análise crítica da correspondência de experiências cênicas da Dança (que possuiu o seu histórico de Direção e criação em improvisação); pesquisas de caso; ou ainda em trabalhos de Prática como Investigação em que se possa criar um espetáculo de Impro que abra a Direção, o que é dirigir em si no próprio ato da apresentação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Amado, Cláudio. (2016) Os princípios da improvisação: 40 jogos para aprender e improvisar. Rio de Janeiro: Amazon. Kindle Edition.

Aslan, Odette. (1994) O Ator no século XX. São Paulo: Perspectiva.

Bogart, Anne. (2005) A Director Prepares: Seven Essays on Art and Theatre. Londres e Nova Iorque: Routledge e Taylor & Francis e-Library. Kindle Edition.

Chacra, Sandra. (2005) Natureza e Sentido da Improvisação Teatral. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva.

Hauck, Bem. (2012) Long-Form Improv. Nova Iorque: Allworth Press.

Lecoq, Jacques. (2010) O Corpo Poético: Uma Pedagogia da Criação Teatral. São Paulo: SENAC.

Libera, Anne (org.). (2004) The Second City: Almanac of Improvisation. Evanston: Northwestern University Press.

Napier, Mick. (2004) Improvise: Scene From the Inside Out. Portsmouth: Heinemann.

Spolin, Viola. (2013) O Jogo teatral no Livro do Diretor. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva.
                        (2001) Improvisação para o Teatro. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva.

Stanislavski, Constantin. (2012) A Preparação do Ator. 21ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Schutte, Katy. (2017) The Improviser’s Way: A Longform Workbook. Londres: Nick Hern Books.

Romen, Asaf. (2017) Directing Impro: Show the Way by Getting Out of the Way. Nova Iorque: YESand Publishing. Kindle Edition.




[1] Boal relaciona a termologia “ator” a aquelas/es que tem o Teatro como profissão e “não-ator” a qualquer pessoa que esteja a desempenhar a função de ator/atriz numa prática cênica.
[2] Na citação de Libera, originalmente em inglês, encontramos o uso da palavra performer para designar a/o artista que executa a performance teatral.
[3] Em traduções nossas do inglês para o português disponibilizadas aqui, iremos manter a opção por uma grafia que traz a visibilidade do sujeito feminino junto ao masculino no decorrer de todo o texto. Obviamente, em respeito ao texto original a ser traduzido, isso só ocorrerá quando a/o autor/a não especificar o gênero do sujeito.
[4] Preferimos aqui o uso da palavra estrutura, pois em Impro a palavra formato também é usada para designar categoria de espetáculos em Impro em relação a sua duração: formato curto ou longo. Ressalta-se ainda que estrutura aqui é ligada a ideia de esqueleto, o conjunto de acordos para uma apresentação, não confundir o uso da palavra estrutura aqui com a definição de termo em Improvisação para o Teatro de Viola Spolin em que estrutura significa: “O Onde, Quem e o Quê; o campo sobre o qual o jogo tem lugar.” (Spolin, 2001, p. 339). Esta definição de Spolin tem haver com o estruturar, traçar os elementos edificantes de uma cena improvisada dentro de um jogo teatral.
[5] “There is little accessible training that deals specifically with how to direct improv. Int the teaching I have done on the subject, I have found that too many people learn the art of directing and improv simultaneously. This adds several levels of difficulty to a task already fraught with anxiety.” (ASAF, 2017).
[6] No caso de citações com tradução nossa de e-books, optamos por transcrever o texto original nas notas de rodapé para que o trecho possa ser facilmente encontrado na obra digital, já que não se é possível determinar a página da citação deste tipo de publicação.
[7] “In fact, often times, directing and directors are often misunderstood as an art, function and role within improv’s ensembles, shows and structures. […] Asaf Ronen, a longform improv artist, has created an excellent book on improv directing and coaching. […] direct or coach either a show or an ensemble […]. Asaf has clearly defined many problems and situations unique to directing and coaching improv. […] Too often directors are in a isolated role in relationship to the ensemble, directors and coaches don’t often have a chance to talk and learn from each other; […] By focusing on directing and coaching, Asaf’s wonderful new book fills a void in the improv canon of published books.” (Pitts in Romen, 2017).
[8]As a director, the last thing I want to do is teach someone. That’s not what I am there for when I’m directing. I’m there to help them shape a show. If they’re not ready to make that show, then maybe they shouldn’t be part of that process.” (Mullaney in Romen, 2017).
[9]The biggest pitfall in my opinion is the belief that the skill for being an improviser or an actor is enough to manage being a director. It’s a whole different thing. I wish every would-be director would be an assistant director, or at least watch and study other directors, before they decided to take it on.” (Napier in Romen, 2017).
[10]To observe is to disturb. ‘To observe’ is not a passive verb. As a director I have learned that the quality of my observation and attention can determine the outcome of a process.” (Bogart, 2005).
[11] If you negate your intelligence or you negate your responsibility as the passionate observer, then I think you’ve really let your cast down. They’re counting on you to give the feedback and that can be supportive. You don’t have to be an asshole. You don’t have to be an autocrat. You don’t have to be a cretin about it. You have to be honest; you have to be fair, while at the same time encouraging. Sometimes, you give them a little sugar with the slap or whatever.” (Gellman in Romen, 2017). 

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Desejos de Ano Novo!

Ano novo! Cuidado com o que deseja, pode realmente se tornar realidade.

Já estou a desejar me debruçar sobre a Impro faz tempo. Em 2016 tomei a decisão e comecei a tlrihar alguuns caminhos. Foi quando eu me inscrevi para o edital do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Havia no edital de Áreas Culturais, a modalidade e Pesquisa Cultural. Fiz um plano a partir do orçamento do edital mais economias próprias e... no final de 2017 saiu o resultado e o financiamento. Assim, eu comecei 2018 com um mergulho intenso em Impro por diferentes lugares no mundo.

Janeiro: Criação e primeira publicação do Blog Visando Impro (atividade do projeto Visando Impro - FAC)

Arte: Fred Reis

Fevereiro: Curso de Impro pelo Estúdio Janela no espaço do Coletivo Janela.

Arte: Diego Bresani

Março, Abril e Maio: Cursos de Impro no The Second City Training Center de Los Angeles (atividades do projeto Visando Impro - FAC). 


Foto: Luana Proença

Maio/Junho: Ida para a Colômbia, via México com apoio de financiamento Coletivo e por conta própria para colher entrevistas na Casa do Humor (Cidade do México) e no IX Diplomado de Improvisacíon Teatral em Bogotá.

Fonte: https://www.uelbosque.edu.co/educacion-continuada/diplomado/
ix-diplomado-internacional-de-improvisacion-teatral-japon-israel

Junho: Ida ao Festival Mount Olymprov Grécia (atividade do projeto Visando Impro). Participação em workshops e Jam (por conta própria).

Foto: Luana Proença

Julho/Agosto: Volta para o Brasil. O que será de mim agora? Resultado do Doutoramento em Estudos de Teatro na Universidade de Lisboa. Porjeto de Pesquisa em Impro aprovado. Um mês de muito treino pessoal em Impro do meu solo. 
Participação do curso de Impro avançado Dramaturgia do Ator com Gustavo Miranda em São Paulo (atividade d projeto Visando Impro - FAC).
Instagram Escola do Quintal

Agosto: Aulas de Impro para o projeto Mosaico do Amor em Brasília. 2 palestras sobre Impro trasmitidas ao Vivo pela Internet que foram executadas no esaço do Coletivo Janela em Brasília (atividades do projeto Visando Impro). E por conta própria: 3 apresentações do meu solo longform "Aleatório" no SESC da 504 Sul de Brasília. Participação no curso de Dramaturgia Espontânea do Ator com Rocardo Berhens.
Logo oficial do Projeto
Arte: Fred Reis
Arte: Fred Reis

Setembro: mudança para Portugal. Início de treinos com o ImprovFX em Lisboa.

Foto: Zeca Carvalho

Outubro: Participação no Festival NIM - Noites Imprevistas em Queluz. Improvisadora convidada do espetáculo "A Origem do Medo" do grupo Sem Rede em Sintra. Fundação e início dos  treinos do grupo Lilimprov.
NIM. Foto: Luana Proença
Arte: André Sobral 
Lilimprov. Foto: Rita Tavares.

Novembro: Ida ao Festival Circuito Impro no Rio de Janeiro (atividade do projeto Visando Impro - FAC). Teve também minha "invasão/convidada" na aula de longform do Claudio Amado no Rio. As tais portas abertas...
Ida para Atenas, Grécia para criar o espetáculo de longform "Us".

Fonte: Facebook Circuito Impro

Dezembro: Apresentações dos espetáculos "Us" com Stelios Melas em Atenas, Grécia; "A Vila" com o ImprovFX e "Branca de Neve e os Sete Anões" com o Sem Rede em Portugal.

Arte: Luana Proença
 Arte: André Sobral
Foto: Luana Proença

Fora as leituras, espetáculos, escritas do blog e trabalhos do Doutoramento sobre Impro.

Minhas observações quanto à estas experiências:

Impro é teatro. Um tipo de teatro, uma linguagem teatral, se preferir. Assim como o teatro de formas animadas, ou teatro de sombras, a Impro é teatro e tem as suas particularidades conceituais e técnicas que não a afastam em anda dos fundamentos teatrais.
A encenação em Impro pode ser rebuscada o simples... como qualquer teatro. depende do espetáculo, dos objetivos, das vontades, dos recursos, etc. Como qualquer espetáculo teatral. Essas não são descobertas, são mais reafirmações baseadas agora numa experiência além dos livros e da tentativa e erro dos meus laboratórios.
A questão da mulher na Impro se fez mais evidente para mim, muito porque a questão da mulher na sociedade, como condição humana, se fez mais evidente para mim. Criamos (como artistas e publico, sim, publico cria) a aprtir das nossas referências. Somos sujeitos em comunidade, não criamos do nada. O que reforça que não se improvisa realmente do nada. Mas quando falo da questão das mulheres vou além da particpação de mulheres no palco, isso é evidente em todos os setores e vamos mudando, a passos lentos e com puxões para traz... com afirmações no estilo da futura ministra brasileira do Ministério da Mulher, Direitos Humanos e da família... Ai, ai... Mas amplio a discussão com o papel de mulher: as personagens que são designadas às improvisadoras, ou a maneira como os homens improvisam as mulheres. Isso vale sim para qualquer esteriótipo. E não me entendam mal, eu acredito na força do esteriótipo e do ciclê, como diz a diretora estadunidense Anne Bogart, os esteriótipos são continentes de memória. É possível se entender uma sociedade inteira e o pensamento humano ao olhar estes espaços. Mas são espaços, é preciso preenche-los para que a interpretação não fique literalmente vazio. E por que não, transborda-los. Falar dos moldes, dos tipos, é também uma maneira de questiona-los, de altera-los. Surgiu por aqui no blog inclusive a questão de status em cena, no sentido de observar um padrão na questão de status nos gêneros de personagens ou de artistas.

Eu me questionei muito quanto auto-sabotagem, quanto a medo. Porque sim, foi um ano de muitas conquistas, vitórias e de um terror imenso e constante. Improvisar em inglês foi difícil para porra! Mas também foi uma boa desculpa para eu não ir alem do que eu podia. Professoras/es elogiavam como eu me jogava e não dava a mínima... Mas eu sempre tinha ali na ponta da língua a desculpinha de: "Ah, eu não falo inglês!". Até mesmo aqui em Portugal, eu vivo usando (além de piada, que ok, funciona) a desculpa: "Eu sou do Brasil, nõ entendo o português daqui.". Olha, eu cresci muito como improvisadora, como atriz e artista. Mas teve desvios internos para não deixar tudo mudar de vez dentro de mim. E perceber isso foi importante. Me perceber vulnerável e me permitir (quando me permito) vulnerável no palco. É poderoso.

Trocar com gente de outros países, culturas, histórias pessoais, línguas não foi só importante pelo intercâmbio em si. Mas a receptividade. Foi um caminho um tanto solitário este ano ao abandonar tudo e me jogar nesse caminho em que eu tinha gente por perto, mas que não tava na mesma trilha. E eu não tive minha casa. Só em novembro eu desfiz minhas malas (e ainda assim eu fiz outras por que viajei muito no final do ano). Se não fosse mesmo a abertura das turmas que eu tive nos cursos, os grupos e improvisadoras/es que conheci nessas andanças de abrirem as portas das casas, de confiarem nessa desconhecida de mochila nas costas... Poxa, se foi difícil para mim, imagina para quem não me conhecia. A Impro abriu-me mais esse entendimento. É uma atitude que eu aprendi no exemplo da minha casa, da minha família, mas sabendo que esse não é o comprotamento "normal", que não é qualquer pessoa que abre a casa para você. E muitas casas se abriram porque eu sou improvisadora (e agradável, e simpática, e... O que? Eu sei me comportar, meus pais me educaram, se eu não escolho usar sempre a educação, é outra história, hehehehe). Sei que parece romântico, mas é bem verdade que nessa comunidade Impro eu tive muito apoio para me jogar. Eu dei sorte também, eu sei. Se é que sorte existe. Mas que seja sincronicidade afiada do universo, os ecnontros foram receptivos.

E tem haver com escuta. Escuta na Impro como presença plena. Estar, observar e decidir simultaneamente. Não, não acontece o tempo todo. Eu mesma sou um tratorzinho de ideia e energia, quando vejo já passei por cima de uma galera, uma malta. Mas eu vou treinando a escuta, e volto, ou nem avanço e... eu sou ouvida também nessa minha força, e respeitada e... então há diálogo. Nem parece que eu estou falando de teatro... Mas eu também não estou. Esta última frase é esquisitamente precisa.

Do que não gostei do que vi de Impro: displicência por preguiça, por desculpa, por ser fácil ser displicente. Opções que reforçam o vazio do esteriótipo que a Impro é colocada e assim a desvaloriza. Que seja simples, mas que seja para valer: validade, valor: colocar energia.

Dos meus devaneios psicológicos e emotivos para uma outra visão do ano. Preparem-se! Sou filha de matemática e analista de sistemas!

2018
365 dias no ano
141 no Brasil (115 em Brasília, 8 em São Paulo, 7 em Maceió, 7 em São José dos Campo, 4 no Rio de Janeiro)
108 nos Estados Unidos
87 em Portugal
15 na Grécia
6 no Reino Unido
4 dias em ponte aérea (Espanha, Alemanha, Canadá e Suiça)
3 em Bogotá
1 no México

55 entrevistas com improvisadoras/es do Brasil, Argentina, Espanha, EUA, Canadá, Polônia, Romênia, Grécia, Chile, Venezuela, Colômbia, México, Austrália, Israel, UK, Portugal, e França - para ação do projeto sob financiamento do FAC-DF (mas sem recurso orçamentário para esta ação);

10 cursos fora do Brasil como aluna (Estados Unidos e Grécia) - 5 com financiamento do FAC-DF (incluindo passagens de ida e volta para os EUA e o pagemnto dos cursos);

2 cursos no Brasil com aluna (São Paulo e Brasília - Festival Cena Contemporânea) - 1 com financiamento do FAC-DF (incluindo passagem de ida e volta e pagamento do curso)

1 curso de Impro no Brasil como professora;

2 Festivais de Impro (1 na Grécia e 1 no Brasil - Rio de Janeiro) - Passagens de Idas e voltas financiadas pelo FAC-DF;

13 apresentações de Impro como improvisadora (1 nos EUA, 2 na Grécia, 3 no Brasil e 7 em Portugal);

2 palestras sobre Impro trasmitidas ao vivo pela internet - ações do projeto sob finacniamento do FAC-DF (mas sem recurso orçamentário para esta ação);

55 postagens no blog - 16 como ações do projeto sob financiamento do FAC-DF (mas sem recurso orçamentário para esta ação);

+- 55 espetáculos de Impro assistidos (22 nos EUA, 17 na Grécia, 1 na Colômbia, 8 no Brasil, 7 em Portugal).


Outros números:

Segundo o registro da plataforma do blogspot, de 31/01/2018 a 30/12/2018:
Foram 7181 visualizações do blog.
Sendo:
3790 do Brasil
1046 dos Estados Unidos
570 de Portugal
205 da Alemanha
179 do Peru
128 da França
106 da Polônia
75 do México
58 da Argentina
56 da Grécia
968 visalizações em pequenas quantidades espalhadas por aí entre: Bélgica, Espanha, Rússia, Austrália, Romênia, Canadá, e o que a plataforma vai chamar de Região desconhecida...

Uma média de 132 visualizações por postagem.


E para 2019, o que já sabemos?

Pelo projeto Visando Impro - FAC, faltam executar:
- A publicação de 1 artigo sobre Impro (em fase de escrita)
- Subir aquelas 2 palestras de Impro para o youtube com legenda em português (acessibilidade)
- E tão prometido documentário caseiro com legendas também (vou começar a edição em janeiro. Aí é o tempo que tiver que levar, porque, né? Financiamento para a execução documentário em si, não há ainda).

DOS MEUS PROJETOS PESSOAIS EM IMPRO
- Encontro em abril da Network Internacional de Impro THE SIN que agora faço parte;
- Ida a Festivais (de acordo com calendário e bolso)
- Temporadas do meu solo por aqui... e por ali... e por lá
- Novos espetáculos com Lilimprov... E Sem Rede... E ImprovFX... e quem mais chamar
- Novas apreentações de "Us" com Stelios Melas
- Estreia e apresentações de "Room 3" com as improvisadoras estadunidenses Amy Lamier e Jamie Graham
- Seguir com a pesquisa de doutorado com firmesa (e conseguir uma bolsa porque tá começando a apertar)
- Voltar a dar aula... Sinto falta. Sinto muita falta.

E agora, eu pergunto... Para quem teve paciência de ler até aqui

QUAIS SÃO OS DESEJOS DE 2019 PARA CÁ?
DAQUI PARA FRENTE, O QUE DESEJA LER NESTE BLOG?
O QUE VOCÊ GOSTARIA DE LER SOBRE IMPRO?
O QUE QUER QUE EU TRAGA PARA CÁ?
O QUE QUER QUE EU COMPARTILHE?

Eu sou muito grata, imensamente grata. E eu quero mais! Quero mais coragem, que não é o oposto de sentir medo. É sentir e ir assim mesmo. É permitir o choro que limpa. Resistência: Li algo mais ou menos assim estes dias no facebook do querido Victor Hugo Leite: "Se me jogar no chão, eu me esparramo e viro raíz". Está preparada/o? Eu não! A gente dá as mãos e está tudo, já desde o dia 01 de janeiro, de mãos dadas!


Ilustração: Thereza Nardelli

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

A Vila e Branca de Neve

Dois espetáculos na última semana. Um completamnete inédito e outro, inédito para mim em uma total nova experiência (nutrida de anteriores).

O Improv FX apresentou na quarta-feira 12/12/2018 o espetáculo de impro Longform A VILA, uma novela teatral improvisada. No elenco além do ImprovDF (André Sobral, Hugo Roda e João Cruz) estávamos como convidadas/os eu e Rui Neto. Ambos participantes contínuos dos treinos abertos do grupo.

No sábado 15/12/2018 o Sem Rede apresentou o seu espetáculo de Impro infantil "Branca de Neve e os Sete Anões" e eu pude estar no elenco como substituta.

Aqui vão as partilhas de experiências e formatos.

A VILA (ImprovFX)

Arte: André Sobral

Vale apontar que o espetáculo foi apresentado no Centro Cultural de Moscavide, local onde o ImprovFX ensaia, gratuitamente como contrapartida pelo uso do espaço. Permutas artísticas.

Com a direção de André Sobral o espetáculo toma por base uma vila do interior (no caso Portugal, então pense na pessoa perdida, hehehe... Nem foi, mas poderia ter sido). A plateia escolhe com a orientação do André 3 personagens típicos de uma vila, ex.: padre, beata, bêbada/o, peixeira/o, prefeita/o, etc. As personagens são escritas em papéis e colocados na frente do palco. As/os quatro improvisadoras/es entram e se posicionam aleatoriamente na frente dos papéis. A plateia então designa para cada um/a, sem saber quem fará qual personagem, um problema. Ex.:  contas atrasadas, obsessão por selos, perder a carteira continuamente, etc.

As personagens são então reveladas. Um/a improvisador/a tem o papel em branco e então definirá sua personagem no decorrer das cenas. Também está livre para usar ou não seu probelma sugerido pelo publico.

Última orientação antes da história começar: quando se ouvir os sinos da igreja, tudo pára. Nós no palco congelamos e o André vai ao publico e pergunta a plateia que personagem querem cohecer mais um pouco, ver se desenvolver mais. Este é o gatilho para a ação seguinte.

Foto: Rita Tavares

A primeira cena é realizada também pela sugestão di publico num evento da vila onde todas as personagens estarão. NEsta cena conehcemos rapidamente cada uma, um cheirinho que ajuda o publico a escolher a primeira destas pessoas que vamos desenvolver mais. Como jogo interno nesta apresentação "roubávamos" uma palavra da conversa de alguém para nossa conversa paralela.

Como mecanismo interno, afim de possibilitar o interesse da plateia por mais personagens, procuramos alternar as duplas das cenas iniciais a fim de não repetir quem acabou de estar em cena.

Com o decorrrer da peça, outras intervenções do sino da igreja ocorrem, já com o intuito de direcionar as redes de histórias desta novela pelo olhar do publico. Depois as intervenções deste tipos já não sõa mais necessárias.


Foto: Rita Tavares

 Foto Rita Tavares.



Jeans e camisa quadriculada como figurino padrão. Palco livre com 4 cadeiras disoníveis. O André operava/improvisava som e luz do palco.

É um formato bem instigante de se fazer, pois sua estruturação principal tem haver com o início do espetáculo seguindo mais uma linha "free form" para o desenvolvimento das histórias. E este estilo mais livre é o lugar/momento (variáveis de tempo e espaço) em que nos olhamos e escutamos mais em cena. A tal da presença. A tal da vida no placo que a gente vai descobrindo. Por exemplo: As durações de treinos e apresentação giraram por volta dos 50 minutos e fomos construindo entre nós a noção de tempo de duração e fechamento.

Eu particulamente me identifico com a rede de histórias, é umt anto a proposta do meu solo "Aleatório": vidas que seguem seus caminhos e se cruzam: o encontro porvocando transformações sutis ou de impacto profundo. Bem novela mesmo, se formos pensar, hehehe.


BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES (Sem Rede)


Treze anos de Teatro Infantil pela Cia Teatral Néia e Nando... Mais uns vários trabalhos infantis pelos anos... Mais a pesquisa de Impro e, eu nunca havia feito um espetáculo infantil de Impro. Assisti um espetáculo de Impro infantil pela primeira vez este ano em Los Angeles no the Second City "Really Awesome Improv Show" (postagem número 08, dia 13/03/2018).

A estética do espetáculo é toda em balões: cenário e adereços "figurinísticos". Sob a base de figurino preta e tênis brancos vestem-se esculturas de balões pré-moldadas (mas que ainda sim ganham formas criativas conforme a/o improvisador/a se vestir). Já há mão há a floresta e balões, espadas, a casa dos anões, a estrutura do espelho mágico, e as propostas de vestidos e adereços de cabeça (laços, coroa) para Branca de Neve e Rainha.

 Foto: Luana Proença

 Foto: Luana Proença


 Foto: Luana Proença


Ao publico é explicado que naquele dia será improvisada a história de "Branca de Neve e os sete anões", e se pede que a plateia nos conte a história e nomeie personagens: quem fará a Branca de Neve, quem fará a Madrasta e... no caso que fomos só três improvisadoras/es: quem fará todo o resto (Em cena neste dia éramos eu, André Sobral e Paulo Cintrão). Da entrevista com a plateia ainda se retiram sugestões de: o motivo pelo qual Branca de Neve de repente se tornou a mais bela (um acontecimento), um animal, uma palavra, estilos de interpretação e filmes, e um local.

A partir da sugestão de local é inciada a primeira cena. Tendo a estrutura narrativa do conto da maneira como foi contado pelo publico se desenvolve a nova velha história em que a partir do acontecimento Branca de Neve se torna a mais bela de todas, enfurecendo sua madrasta. Eis que na cena do caçador, quando ele decide não amis matar Branca e Neve e que levará o coração de um outro bicho à rainha, se utiliza a sugestão do animal.

A história continua a se desenrolar. A qualquer momento alguém das/os improvisadoras/es pode falar a palavra sugerida pelo publico. A cena congela e continua a partir de um dos estilos coletados também no início. Quem escolhe o estilo do momento é a pessoa que paralizou a cena.

Para a cena dos sete anões, a/o improvisador/a que faz a Madrasta assume um, a/o improvisador/a faz-tudo assume outro e os demais são feitos por adultos do publico. (Momento para as criancás verem pais, mães, tias, tios, avós em cena).

Ao final, uma criança do publico é chamada para salvar a Branca de Neve de seu sono eterno...

Debutei em Impro Infantil (e a Sandra Cruz que debutou muito bem no trabalho de técnico de som e luz de uma vez só). Espetáculos infantis fazem aprte da minha história, da minha formação, então foi como voltar para casa... mas meio que de surpresa, meio que com roupas novas, um novo corte de cabelo, sei lá... algo que vai se ajustando, um familiar que é desconhecido.

E eu até ganhei um presentinho de debute... acho que me comportei bem no consultório, hehehe



Gratidão ao Sem Rede e ao ImprovFX por abrirem as portas para mim.

***

Próxima postagem, última postagem do ano, vou fazer um balanço dessa jornada enlouquecedoramente fértil de 2018.
Se tens algum tópico que queira que eu comente, só falar! Até dia 28/12/2018, recebo as sugestões. A nova postagem sai dia 31/12/2018... último dia do ano.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

US: quando as distâncias nos aproximam

Na última postagem eu falei sobre a importância de Festivais. Em junho deste ano eu estive no Festival Internacional de Impro Mount Olymprov em Atenas (Grécia). Lá eu participei de workshops, assisti a espetáculos e conversei com outras/os improvisadoras/es (além de cantar em karaokê). Destes encontros, e justamente nas festas e saídas, projetos novos surgiram, parcerias inusitadas se formaram e agora um deles se concretiza em cena.

US (NÓS) é um espetáculo de longform que teve sua estreia experimental neste último sábado, 1 de dezembro de 2018, nos palcos da ImproVIBE, Atenas, Grécia. É um projeto meu com o improvisador grego Stelios Melas. 

Foto: Nickolas Drandakis. Arte: Luana Proença.

Traços da Genética Teatral do gesto criador (olha o Doutoramento influenciando minha escrita!): Stelios trabalha com e é apaixonado por jogos de tabuleiros. Eu daqui gosto bastante e me divirto, ams há um abismo na intensidade de interesse, hehehe. Entre alguns jogos e conversas no Festival de junho, ele mencionou que nós dois nunca conseguiríamos jogar o jogo "Fog of Love", porque era um jogo de relacionamentos e eu, por ser competitiva e dominadora como sou (palavras dele, loooooonge de ser verdade... só que é, hehehehe) não iria conseguir "perder" no jogo e aí não conseguiríamos vencer juntos porque o jogo tem disso de ceder para ganhar juntas/os. (Observação: eu gosto tanto de ganhar que eu perderia para ganhar, ok? hehehhe). Desta conversa, eu aceitei a provocação, e comecei a aumentar estas características. Dali surgiu uma brincadeira de casal e, por sermos duas/dois improvisadoras/es, cenas surgiram também e com isso um novo comentário do Stelios: "A gente podia muito fazer um espetáculo de impro com isso.". 
Relacionamentos, problemas de casal, uma sessão de terapia. Nos despedimos em junho com essa sideias em mente. Eu voltei aos Estados Unidos... depois ao Brasil... vim para Portugal... uma visita rápida ao Brasil novamente... Portugal e esta semana voltei a Grécia para colarmos em prática presencialmente todas as conversas e ideias que se manifestaram em conversas via messenger nestes quase 6 meses de criação.

Nosso formato:

Somos 3 improvisadoras/es em cena. Eu e Stelios como o casal e sempre termos um/a improvisador/a convidada/o para fazer a/o terapeuta. Nesta primeira apresentação tivémos a maravilhosa improivsadora estadounidense Carolyn Janis.

Da esquerda para direita: Eu, Carolyn Janis e Stelios Melas. Foto: Nickolas Drandakis.

Assim a/o terapeuta abre a cena chamando para a sessão o casal que se encontra no publico. Neste momento, neste levantar e sentir o publico criamos o primeiro respirar das personagens. Subimos ao palco e provocadas/os pela/o terapeuta começamos a desenvolver o probelma da relação que transparece um pouco já das personalidades também. Quando se menciona um momento específico ou interessa de ver como "aquele" fato da relação começou, fazemos uma cena flashback em que se "vive" a relação.

Fazemos de 03 a 04 cenas de flashbacks (esta decisão fica a cargo da/o terapeuta pela quantidade de informação, ápice e tempo). Estas cneas equilibram entre momentos bons e ruins do casal e também mostram lados diferentes do caráter de cada personagem. Desta forma conhecmos mais profundamente que são estas pessoas, porque ficaram juntas e nos resta saber se continuarão. Congelamos e a/o terapeuta pergunta ao publico que repsonde por palmas se elas/es devem se separar ou continuar o relacionamento. A partir da resposta, a terapeuta cria narrativamente como foi a separação ou a decisão de ficar juntas/os e nos joga para o que aocntecerá 10 anos após aquele ponto. 

Foto: Nickolas Drandakis.

Esta é a última cena, na qual temos a liberdade inclusive de reatar, separar depois de anos da tentativa passada, ou manter a decisão do publico. O final pode ser feliz ou não para as ambas as personagens, ou somente para uma.

Foto: Nickolas Drandakis.

Foto: Nickolas Drandakis.


Obervações do formato:
- Não temos a obrigatoriedade de fazermos um casal hétero, mas reconhecemos a tendência de o fazermos por ser o nosso universo pessoal.
- Estamos ainda a discutir se partimos de uma sugestão do publico para criar as personagem e/ou o problema principal da relação.
- O uso da música nos agrada, principalemnte instrumental. Usamos initeeruptamente nos ensaios, mas ainda não a usamos em cena nesta primeira experimentação.
- Nós ou a/o terapeuta pode encerrar o flashback.
- Experimentamos nos ensaios e nos agrada, mas não usamos na experimentação um trabalho de gesto abstrato para fazer a conexão de cenas da realidade com o flashback. Talvez a música seja um elemento condutor também para isso.
Esteticamente tentamos equilibrar cores quentes e frias no figurino casual. Mas temos algo muito elaborado no momento e talvez nem o seja necessário.


Curiosidades:
- Uma semana antes desta minha viagem a Grécia, descobri em Portugal um jogo de Impro que parte desta mesma ideia de terapia. Nada de novo sob o céu, sempre novo nos encontros.
- O publico ficou bem dividido nesta primeira apresentação entre querer a separação ou a continuidade da relação, o que nos foi interessante já que parece ser um indício de que conseguimos equilibrar a história.
- Ficamos muito sentadas/os neste dia, tanto na terapia (que tende a ser sentada) quanto nas cenas flashbacks. Algo curioso do dia, mas há de se notar que foi muito diferente dos ensaios. COmo é semrpe diferente, inclusive ter a Carolyn nos fazendo descobrir outros pontos da relação. Foi escolha dela, por exemplo, tratar aquela como mais uma sessão e não a primeira, o que dá um outro tom as criações de todas/os.

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Acredito ser importante destacar que nos foi possível esta primeira apresentação porque a ImproVIBE abre este espaço de experimentação de grupos. Há também este espaço para se apresentar na Grécia em inglês (porque eu não falo nada de grego), o que permite ainda mais este intercâmbio de países na performance em cena.

A Impro diluiu as distâncias geográficas e linguísticas da criação, permitindo o encontro e o novo. O que realmente é distância? Uma relação espcial. Relações. Pessoas. Nós.

Que venham outras oportunidades como esta. Que possamos voltar sempre a falar sobre NÓS (US).