segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

US: quando as distâncias nos aproximam

Na última postagem eu falei sobre a importância de Festivais. Em junho deste ano eu estive no Festival Internacional de Impro Mount Olymprov em Atenas (Grécia). Lá eu participei de workshops, assisti a espetáculos e conversei com outras/os improvisadoras/es (além de cantar em karaokê). Destes encontros, e justamente nas festas e saídas, projetos novos surgiram, parcerias inusitadas se formaram e agora um deles se concretiza em cena.

US (NÓS) é um espetáculo de longform que teve sua estreia experimental neste último sábado, 1 de dezembro de 2018, nos palcos da ImproVIBE, Atenas, Grécia. É um projeto meu com o improvisador grego Stelios Melas. 

Foto: Nickolas Drandakis. Arte: Luana Proença.

Traços da Genética Teatral do gesto criador (olha o Doutoramento influenciando minha escrita!): Stelios trabalha com e é apaixonado por jogos de tabuleiros. Eu daqui gosto bastante e me divirto, ams há um abismo na intensidade de interesse, hehehe. Entre alguns jogos e conversas no Festival de junho, ele mencionou que nós dois nunca conseguiríamos jogar o jogo "Fog of Love", porque era um jogo de relacionamentos e eu, por ser competitiva e dominadora como sou (palavras dele, loooooonge de ser verdade... só que é, hehehehe) não iria conseguir "perder" no jogo e aí não conseguiríamos vencer juntos porque o jogo tem disso de ceder para ganhar juntas/os. (Observação: eu gosto tanto de ganhar que eu perderia para ganhar, ok? hehehhe). Desta conversa, eu aceitei a provocação, e comecei a aumentar estas características. Dali surgiu uma brincadeira de casal e, por sermos duas/dois improvisadoras/es, cenas surgiram também e com isso um novo comentário do Stelios: "A gente podia muito fazer um espetáculo de impro com isso.". 
Relacionamentos, problemas de casal, uma sessão de terapia. Nos despedimos em junho com essa sideias em mente. Eu voltei aos Estados Unidos... depois ao Brasil... vim para Portugal... uma visita rápida ao Brasil novamente... Portugal e esta semana voltei a Grécia para colarmos em prática presencialmente todas as conversas e ideias que se manifestaram em conversas via messenger nestes quase 6 meses de criação.

Nosso formato:

Somos 3 improvisadoras/es em cena. Eu e Stelios como o casal e sempre termos um/a improvisador/a convidada/o para fazer a/o terapeuta. Nesta primeira apresentação tivémos a maravilhosa improivsadora estadounidense Carolyn Janis.

Da esquerda para direita: Eu, Carolyn Janis e Stelios Melas. Foto: Nickolas Drandakis.

Assim a/o terapeuta abre a cena chamando para a sessão o casal que se encontra no publico. Neste momento, neste levantar e sentir o publico criamos o primeiro respirar das personagens. Subimos ao palco e provocadas/os pela/o terapeuta começamos a desenvolver o probelma da relação que transparece um pouco já das personalidades também. Quando se menciona um momento específico ou interessa de ver como "aquele" fato da relação começou, fazemos uma cena flashback em que se "vive" a relação.

Fazemos de 03 a 04 cenas de flashbacks (esta decisão fica a cargo da/o terapeuta pela quantidade de informação, ápice e tempo). Estas cneas equilibram entre momentos bons e ruins do casal e também mostram lados diferentes do caráter de cada personagem. Desta forma conhecmos mais profundamente que são estas pessoas, porque ficaram juntas e nos resta saber se continuarão. Congelamos e a/o terapeuta pergunta ao publico que repsonde por palmas se elas/es devem se separar ou continuar o relacionamento. A partir da resposta, a terapeuta cria narrativamente como foi a separação ou a decisão de ficar juntas/os e nos joga para o que aocntecerá 10 anos após aquele ponto. 

Foto: Nickolas Drandakis.

Esta é a última cena, na qual temos a liberdade inclusive de reatar, separar depois de anos da tentativa passada, ou manter a decisão do publico. O final pode ser feliz ou não para as ambas as personagens, ou somente para uma.

Foto: Nickolas Drandakis.

Foto: Nickolas Drandakis.


Obervações do formato:
- Não temos a obrigatoriedade de fazermos um casal hétero, mas reconhecemos a tendência de o fazermos por ser o nosso universo pessoal.
- Estamos ainda a discutir se partimos de uma sugestão do publico para criar as personagem e/ou o problema principal da relação.
- O uso da música nos agrada, principalemnte instrumental. Usamos initeeruptamente nos ensaios, mas ainda não a usamos em cena nesta primeira experimentação.
- Nós ou a/o terapeuta pode encerrar o flashback.
- Experimentamos nos ensaios e nos agrada, mas não usamos na experimentação um trabalho de gesto abstrato para fazer a conexão de cenas da realidade com o flashback. Talvez a música seja um elemento condutor também para isso.
Esteticamente tentamos equilibrar cores quentes e frias no figurino casual. Mas temos algo muito elaborado no momento e talvez nem o seja necessário.


Curiosidades:
- Uma semana antes desta minha viagem a Grécia, descobri em Portugal um jogo de Impro que parte desta mesma ideia de terapia. Nada de novo sob o céu, sempre novo nos encontros.
- O publico ficou bem dividido nesta primeira apresentação entre querer a separação ou a continuidade da relação, o que nos foi interessante já que parece ser um indício de que conseguimos equilibrar a história.
- Ficamos muito sentadas/os neste dia, tanto na terapia (que tende a ser sentada) quanto nas cenas flashbacks. Algo curioso do dia, mas há de se notar que foi muito diferente dos ensaios. COmo é semrpe diferente, inclusive ter a Carolyn nos fazendo descobrir outros pontos da relação. Foi escolha dela, por exemplo, tratar aquela como mais uma sessão e não a primeira, o que dá um outro tom as criações de todas/os.

***

Acredito ser importante destacar que nos foi possível esta primeira apresentação porque a ImproVIBE abre este espaço de experimentação de grupos. Há também este espaço para se apresentar na Grécia em inglês (porque eu não falo nada de grego), o que permite ainda mais este intercâmbio de países na performance em cena.

A Impro diluiu as distâncias geográficas e linguísticas da criação, permitindo o encontro e o novo. O que realmente é distância? Uma relação espcial. Relações. Pessoas. Nós.

Que venham outras oportunidades como esta. Que possamos voltar sempre a falar sobre NÓS (US).

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