Nos dias 14 e 16 de agosto fui uma das ministrantes convidadas do projeto MOSAICO DO AMOR, um projeto de um parceiro brasilienses dos palcos: Rômulo Mendes. A premissa desse projeto é se explorar a perspectiva do cromosso do amor e sua potencialidade poética.
Já sou fã tanto do trabalho que o Rômulo desenvolve em arte em geral, quanto com este foco particular. Também tenho aí na minha história com muito orgulho uns 13 anos dentro do curso de Teatro Néia & Nando em Brasília-DF, trabalhando artísticamente e pedagogicamente com inclusão. Então ao aceitar o convite, veio o carinho e respeito pelo profissional anfitrião, tanto quanto minha afinidade afetiva e interessada pela experiência anterior, mas principalmente pela perspectiva da potencialdade poética.
Digo isso principalmente porque o que aprendi nas turmas de inclusão no curso teatral da Néia e Nando é que ninguém gosta de ser subestimada/o. Somos diferentes sim nas questões de cuidados e atenções, não só por uma condição genética, mas pelas situações cotidianas também. Uma aluna com cólicas menstruais, um aluno gripado, uma grávida, uma pessoa que acabou de comer muito antes da atividade física: todas/os necessitam de atenção diferenciada, por exemplo. Foi isso que entendi na vera em sala de aula, todas/os merecemos ser tratadas/os com o mesmo respeito em nossas particularidades, momentâneas e/ou permanentes. Daí o desafio e o estar presente em sala de aula. Por que é uma mudança diária da equação dos encontros. Não estamos da mesma maneira todos os dias. E isso é outra questão que é um tanto injusta no tratar com uma pessoa com Down, por exemplo. Ao invés da classificação, diagnóstico, prognóstico, seja lá como quiser chamar,ao invés da "caixinha" nos indicar uma gama de possibilidades para convivermos em respeito e harmonia, acaba muitas vezes gerando os preconceitos e as injustiças do tipo: uma aluna com Down com cólica menstrual é reduzida ao aspecto "down" (aqui entre parênteses de propósito) como se ela não pudesse ter seus dias ruins.
E é por esse meu viéz de educar o olhar constante ao particular que me fez cair de amores pelo explorar da potencialidade poética. E com Impro!!!!! Pense em alguém empolgada!
Foto Fernanda Resende Fotografias - Instagram @frfotografiabsb
O projeto Mosaico do Amor também trabalha com a ideia de inclusão, e o faz numa perspectiva equilibrada no 50%. Nas minhas aulas tive cerca de 28 participantes, entre alunas/os e equipe que também participa das atividades. Das/os 28, de 14 a 16 eram portadoras/es da síndrome de Down. Essa realidade meio a meio foi nova para mim, o que já havia vivenciado eram turmas de 15 pessoas com no máximo 3 portadoras/es. Aqui tivemos a real representatividade, palavra e argumento cada vez mais chave para a quebra de preconceitos.
Duas aulas de duas horas para se trabalhar com esse grupo o Improviso para Fluir suas Capacidades Poéticas! Vale dizer que a maioria do grupo já tem um tempo trabalhando com o Rômulo, mas o projeto do Mosaico do Amor, com o financiamento do FAC (Fundo de Apoio à Cultura do DF), começou agora no mês de agosto. Então temos pessoas novas no grupo e um novo formato de lidar com o desenvolvimento pedagógico e artístico a partir da participação de profissionais convidados de especialidades diferenciadas.
DIA #1: 14/08/2018 (Terça-feira) das 19h30 às 21h30. Escola Parque 307/308 Sul (Brasília-DF)
Foto Fernanda Resende Fotografias - Instagram @frfotografiabsb
Exercício #1: Eu quero que você se transforme em...
Na roda, cada um/a na sua vez aponta para alguém (que fala o nome e assim a gente já vai aprendendo) e diz o que quer que a pessoa se trasforme. Ex.: Um guarda-chuva! Um gato! Uma vilã de novela... Vamos percebendo gostos, vontades, qualidades diferenciadas de gestos e: dizendo sim para a proposta da/o outra/o.
Já no meio do exercício, o grupo todo se envolve completando a ideia da/o transformada/o. Por exemplo: Um guarda-chuva teria a turma fazendo o barulho da chuva. Uma gata teria a turma chamando a gata para brincar, etc.
Aqui já se vai quebrando a ideia de espectativa e a transformando em conexões, em propostas. Eu quero que a minha espectativa se transforme em proposta. Ninguém vai fazer exatamente o que foi pensado por outra pessoa: aceitação. E o que nos pareceu errado ou ilógico, é mais a nossa cabeça querendo atender à expectativa, então olhemos novamente para o potencial poético e tracemos conexões e, daí: criemos histórias. Um exemplo: "Quero que você se transforme num pássaro!" E a pessoa começa a rastejar... Ao invés de julgar (Isso não é pássaro... Ah, não entendeu!...), pergunte-se e responda com a história: Um pássaro que rasteja... machucado e não consegue voar... foi educado por cobras e não sabe que é pássaro... está dentro da barriga de uma cobra tentando sair...
Escuta - Resposta Sinestésica em Espontaneidade - Aceitação. Impro e Viewpoints...
Exercício #2: Personagem Topografia
São definidas topografias para se andar no espaço: desenhando quadrados, zig-zag, círculo, etc. Depois, para cada topografia solicitada se identifica um tipo de personagem. exemplo: Se a topografia era quadrada, como seria uma personagem Quadrada?
Exercício #3: Associação de Palavras
Em duplas. "A" diz uma palavra e "B" diz uma palavra associada com a que ouviu. Para ajudar a não se perder na associação da sua própria cabeça, a frase "Essa palavra me lembra a palavra ________" lembra as/os jogadoras/es da associação com o que se ouviu e não com o que se pensou.
Exercício #4: Associação de Gestos
Mesmo exercício que o 3, porém agora com um movimento, um gesto. "A" começa um gesto. "B" diz "Isso me parece _________". Ex.: "A" começa a jogar algo para o alto com as duas mãos. "B" diz: "Isso me parece alguém brincado com uma bola.". Então "B" faz outro gesto e "A" associa.
Trabalhamos aqui a Definição a partir de uma proposta cega ou oferta aberta. (Lembrando da postagem do dia 06 de agosto do cruso Dramaturgia do ator com Gustavo Mirangel, em que oferta cega é uma proposta que nem tinha pretenção de ser, mas foi tomada como oferta. E uma oferta aberta é uma ideia que se joga mas sem todas as informações definidas).
Exercício #5: Sim, Vamos!
Uma pessoa vai para o centro da roda e propõe um lugar. Todas/os respondem: "Sim, vamos!" e num tempo pré-determinado montam uma foto desse lugar. A atenção é que é o mesmo lugar para o grupo como um todo.
O que me foi "diferente" desse jogo para turmas não inclusas, é que eu aumentei o tempo por questões de dificuldades de locomoção que algumas/ns alunas/os tem. E só! Lembrei do Deto Montenegro, que foi meu professor de teatro na adolescência pela Oficina dos Menestréis. Ele contando uma vez que quando fez o espetáculo "Noturno" com cadeirantes só precisou mesmo adaptar o tempo de coreografias porque se necessitava de um tempo (rítmico) a mais para se travar a cadeira.
Exercicio #6: Eu sou...
Uma pessoa vai ao centro da roda e faz uma pose e fala o que é. Exemplo: Vai para o meio e abre os braços: "Eu sou uma árvore". Outra pessoa vem e complementa essa imagem da mesma maneira. Exemplo: Deita no chão no pé da árvore e diz: "Eu sou a grama". E assim, segue, uma pessoa de cada vez.
Exercício #7: Eu sou... (com justificativa)
O mesmo exercício, mas agora além de se falar o que é, se justifica sua existência na história que vai se traçando.
Exemplo:
"A" se posicona no centro e diz: "Eu sou uma manequim".
"B" se coloca sentado no chão na frente e diz: "Eu sou um mendingo pedindo esmola na frente da loja com manequim". (definiu que se tratava de um manequim objeto e não pessoa e onde estavam)
"C" se coloca na frente de "B": "Eu sou a dona do restaurante do lado dando um sanduíche para o mendigo."
E no final, um/a narrador/a conta a história toda fazendo as conexões.
Eu optei por ser a narradora e fazer uma surpresa. Primeiro, tirei todos da roda para que achassem que o exercício tinha acabado. Aí comecei a contar a história em outro tom, começando até com "Era uma vez...". Aos poucos foram percebendo que se tratava da história criada por todas/os nós e foi o êxtase, porque aquela história muito legal que estava sendo contada não era só minha.
Exercício #8: Transformação de gesto com objeto
Em roda. Cada pessoa entra na sua vez com um objeto (que no caso foi pedido na aula anterior para ser levado) e começa a fazer uma ação que faria normalmente com aquele objeto. E a partir da repetição ou mudança de tamanho ou ritmo, ou até mesmo sem mudar o movimento em si, se transforma o gesto em outra ação. Exemplo: Ler um livro se transforma em servir o almoço numa bandeja.
Um momento bem inteligentemente fofo foi quando um dos alunos lembrou da cena do filme mais recente da versão de "Karatê Kid" (que diga-se de passagem é Kung Fu, mas a gente deixa passar). A seuqeuncia do filme é o treinamento do menino tirando o casaco e clocando o casaco repetidas vezes até um momento que ele se revolta por aquilo não parecer luta e o seu mestre o ataca. O menino se defende com os momentos em reflexo pela repetição de tirar o casaco e colocar o casaco. Pois é... tipo a base do exercício pedido. E um dos alunos refez a cena do filme. Não nos subestimemos!
Extra: No final da aula um dos alunos pediu para refazer um exercício de uma aula anterior. O exercício do abraço. em que uma pessoa vai ao centro, faz contato visual com outra. Se abraçam. O resto do grupo se junta num abraço coletivo e respira junto para então se separar. Eu e minha resistência a abraços coletivos (meio caustrofóbico para mim) me colocaram entre as últimas, mais do lado de fora... Pequenas fugas...
Percepções da aula Impro no Mosaico do Amor:
Não nos subestimemos: olhar o pontencial para contar histórias, para associar ideias e para saírmos da caixinha.
Obviamente eu mudei TODO meu planejamento. Fui para exercícios mais avançados em Impro com muita rapidez, talvez porquê a espontaneidade fluia numa zona natural sem muito esforço.
DIA #2: 16/08/2018 (Quinta-feira) das 19h30 às 21h30. Escola Parque 307/308 Sul (Brasília-DF)
Foto Fernanda Resende Fotografias - Instagram @frfotografiabsb
Exercício #1: Coreografia de Gestos
Uma pessoa faz um movimento. Todas/os repetem. Outra pessoa faz um segundo movimento. Todas/os repetem o primeiro somado ao segundo. Até termos uma coreografia de pelos menos uns 10 gestos.
Então nos perguntamos gesto a gesto o que eles nos lembram, e, associando gestos memórias e percepções repetimos a coreografia com as intenções definidas, criando inclusive uma história.
Exercício #2: Escutar e Observar
Uma parte do grupo se posiciona numa relação de palco italiano com o restante. O comando é: "Não façam nada". Quem observa diz o que percebe e o que pensa que esse "fazer nada" (que na verdade é muito) pode ser. Exemplo: Alguém coça a sombrancelha e a partir daí quem observa fala: "Ela está tendo uma reação alérgica".
Depois de um tempo definindo o que se vê por meio da imaginação, as pessoas que estão na frente começam a executar o que lhes foi "lido". No exemplo da alergia, a pessoa iria começar a se coçar inteira.
Exercício #3: Diferentes Estilos de Interpretação
A partir de um texto pré-determinado ensinado na hora, um grupo de 5 a 6 pessoas faz a cena, por exemplo:
FILHA: Óh, mãe, que dia lindo!
MÃE: Lindo, filha!
PIPOQUEIRA: Olha a pipoca, pipoquinha, pipoca quentinha!
FILHA: Mãe, eu quero uma pipoca!
MÃE: Moça, me vê uma pipoca!
ASSALTANTE: Atenção, isso aqui é um assalto! Passa o dinehiro e a pipoca! (foge. Mãe e Pipoquiera desmaiam)
FILHA: Ambulância!!!!
AMBULÂNCIA: (entra fazendo braulho de sirene. Vai até a Pipoqueira). Ela está morta! (vai até a mãe). Ela também!
Depois que a cena é entendida, como em um set de cinema, se é definida uma emoção que deve dominar a cena por completo sem mudar o texto ou as ações. Exemplo: Tristeza. Todas/os devem fazer a cena tristes. Cada grupo repete a cena neutra (para inclusive lembrar o texto) e depois recebe uma emoção/estilo para refazer a cena.
Aqui, depois do terceiro grupo, já se queria incrementar a história, com policiais, tiros, etc. Escuta, percepção, aceitação e senso de humor para seguir!
Exercício #4: O Trem
A partir da ideia originada com o formato TREM (postagem do dia 01 de junho de 2018) misturam-se cenas de movimento abstrato e contra-cenas. Exemplo: Uma pessoa limpando a casa para receber visitas. A partir do movimento de varrer outras pessoas entram ampliando este movimento que aos poucos se transforma em tacos de golfe e uma nova cena começa no campo de golfe.
Aconteceu aqui uma certa atitude passiva para com o exercício. E analisando depois percebo que ter determinado o espaço como plateia e palco, onde quem não está na cena senta-se de frente para assistir e entrar quando estiver inspirada/o, acabou por "inibir" a participação. Não no sentido de oprimir a entrada, mas no determinar os papéis: agora eu assisto, e se eu assisto eu não faço.
Percebo isso porque quando se puxou a participação: as imagens e cenas que surgiram eram fortes e potentes e cheias de ideias. Sem falar que se tratava de exercícios já praticados, somente agora colocados como sequencia. Óh, Espaço, você nos trazendo o óbvio e a atenção para nossas escolhas e comandos.
Como final, eu tinha combinado com um dos alunos apra ele puxar o exercício do abraço (que ele me pediu no início da aula para refazermos).
Exercício #5: Tudo menos o Objeto
Um objeto no centro, cada pessoa entra e interage com este objeto definindo-o como um objeto diferente que: não pode ser o que realmente é (uma bola não pode ser uma bola) e não pode repetir o que já foi feito por outra pessoa.
Eu não precisei, pela primeira vez nesse exercício, dar ênfase a interação com o objeto e não à fala. Todas as outras vezes que puxei esse jogo as pessoas começam só falando o que é e não realizando ações. "É um globo", ao invés de interagir com o globo, criando cena e movimento.
Exercício #6: Adeus com uma palavra!
Em roda. Dizer uma palavra para fecharmos a experiência do dia.
Algumas frases inteiras, discursos e danças foram também aparecendo... Aff, emoção! Ah, sim, com exercício do abraço novamente... Respira na resistência do abraço coletivo, aceita!
Percepções da aula Impro no Mosaico do Amor:
O espaço define papéis. Atenção ao espaço na criação poética...
É uma liberdade tanto para quem faz e muito para quem conduz a atividade, quando não há julgamentos e se dispõe a jogar, mais que acertar, o jogo flui sem dificuldades. E foi isso que aconteceu. E aí estavam os principios da Impro: escuta, presença, espontaneidade, aceitação, jogo... Pontenciais poéticos!
Sobre espectativas, que sejam sonhos e não muros. Se você esperava que eu falasse algo de diferente aqui sobre as diferenças entre turmas inclusivas e sem inclusão, fruste-se, pois as diferenças são as minúsculas comentadas que, dependendo do dia de cada pessoa, podem inclusive nem ser diferentes, como o tempo que se dá um exercício, a repetição de comandos para lembrar entre grupos, etc. E as diferenças são imensas porque as pessoas são imensamente diferentes e representatividade é uma coisa poderosa! Não nos subestimemos! E dito isso, acredito que os "valores" dessa experiência em Impro na continuidade do projeto vão ser principalmente: o investimento na capacidade de criar histórias por sinestesia e as particularidades expressivas individuais das/os participantes que forma aparecendo em estilos e personalidades.
Observações finais: O projeto Mosaico do Amor também tem um documentário como resultado. Eu dei meu depoimento depois da chuva de amor e abraços... Quem achar que eu sou uma amorzinho porque eu estou emocionada na entrevista, não se engane! Ok, eu até sou um amorzinho às vezes, mas não um amorzinho inchado de chorar!
Em breve devem lançar o Instagram do projeto Mosaico do Amor.
Uma boa maneira de acompanhar o projeto. Sim que lançarem, eu edito essa parte da postagem com o perfil.
Que sigamos no amor e respeito! Axé! Salve!
Foto Fernanda Resende Fotografias - Instagram @frfotografiabsb
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