Vivi na última semana emoções intensas em Improvisação. Dia 19/08 fiz 3 sessões do espetáculo solo de Impro Long Form ALEATÓRIO de forma independente com o apoio do SESC e da Guinada Produções (esta última que também fez a produção). Dias 24 e 25/08 com a Cia Novos Candangos participei do Festival Internacional de Teatro de Brasília Cena Contemporânea com o espetáculo OS BEATNIKS EM "PSICOSE". Este não é um espetáculo de Impro propriamente, mas tem uma grande abertura ao improviso, principalmente quando a natureza improvisa e traz chuva em plena seca de Brasília, forçando a gente a mudar o espetáculo de lugar já iniciada a sessão de sábado.
Hoje trago relatos e explicações de estruturas e protocolos desses dois trabalhos que me envolvem no momento e me enchem de alegria e riscos.
Sobre ALEATÓRIO
Foto: Samuel Araújo
Tinha programado (Ah, programações...) para fazer duas sessões do espetáculo no dia 19/08/2018. O objetivo era a filmagem do espetáculo para ter o registro para inscreve-lo em festivais internacionais e nacionais, por isso às 19h a sessão foi em inglês e 20h30 a sessão em português. Porém... Ah, porém! Não é que a câmera não pegou o final da sessão em inglês? É improviso, não dá para repetir... Então fizemos uma terceira sessão às 21h30 (com o super e necessário apoio do SESC).
Após 3 sessões eu estava morta. Lembrei de um comentário do improvisador e professor estadunidense Rich Baker sobre o tempo de um espetáculo de Impro, algo em torno de 30 minutos porque é de uma intensidade corporal e mental extrema. Eu achei pouco... mas ok, falamos de uma média e eu senti literalmente na pele, principalmente por ser solo, ou seja, não ter outras pessoas para dividir cena e a ação. Ufa! Mas ainda acredito num tempo maior... Para encaixar no formato de festivais reduzi meu tempo habitual de 45 a 50 minutos para 30 minutos.
Um solo... por que fazer um solo, Luana? Como já disse Júlia Horta do nosso grupo de improviso Saída Sul, nós levamos o nome do grupo à sério e cada uma de nós pegou uma saída da cidade ou do foco da Impro, sobrando só eu, até então. Assim eu tinha quatro opções para continuar:
1) Parar de praticar Impro... ok, não era uma opção para continuar.
2) Treinar um novo grupo de voluntárias/os do zero... pela quarta vez em Brasília... e esperar mais um a dois anos para chegarmos num ponto onde eu poderia começar a treinar em conjunto sem só ser guia... não é uma boa opção.
3) Mudar do DF para treinar com outras/os improvisadoras/es... uma boa, mas seria preciso juntar um sinheiro, o que também iria tomar tempo.
4) Fazer um solo... que eu não queria, não ambicionava e tinha um medo... Mas era uma saída de qualquer forma para continuar treinando enquanto juntasse o dinheiro para o empreendimento em outro estado ou país.
Foto: Hugo Veiga
Eis então como chegamos a um solo. Quanto a temática e com isso a estrutura desse solo... Me perguntei como poderia treinar um solo sem ter plateia para sugerir... Aplicativos, listas... ok, mas eu queria alguma outra interação mais forte, condutora se preferir. Aí me veio a ideia das músicas. Usar músicas como inspiração e colocar no modo aleatório. Abri uma playlist colaborativa no Spotfy e divulguei nas redes sociais o motivo. Muitas pessoas colcaboraram e eu tinha então um imenso repertório surpresa para treinar. A música também me inspira a mudar ou itensificar humores, emoções. Como isso me toca, eu também trago uma história pessoal no início que pode ser diferente a cada apresentação e que, passadas as histórias fictícias improvisadas, fecha o espetáculo conectando toda a narrativa.
O símbolo da aleatoridade, duas setas em linhas opostas que se cruzam em um "x" e seguem em diferentes linhas opostas, direcionou a ideia de protocolo geral do espetáculo: duas histórias diferentes que se cruzam e a partir do "encontro" se transformam e mudam seus caminhos. Este se tornou o protocolo dramatúrgico. Mas ainda se estabeleceram por este símbolo os protocolos de luz, som e topografia (viewpoint). As setas da aleatoridade são "desenhadas" pelo meu percurso no palco (o que me ajuda a preenche-lo e explrar o espaço) e determinam pontos de comunciação com a luz e som das etapas da dramaturgia: apresentação das personagens, encontro e desfecho das personagens.
Imagens Diário de Bordo de Luana Proença
Dessa forma, ALEATÓRIO parte de uma média de 5 a 6 músicas e se desenrola nas etapas:
1) Entrada de publico com Música #1
- esta música inspira a história pessoal
2) Abertura (Centro do Palco - Ponto A)
- Explicação do espetáculo
- História Pessoal
3) Música #2 (Livre no Palco e termina no Ponto B)
- É um prólogo imagético do espetáculo: movimentos, gestos e ações que serão retomados nas histórias
- Inspira a criação da Personagem 1 (P1)
4) Apresentação verbal de P1 (Livre. Termina no Ponto B)
- Define-se inspirada na música #2 nome, características de perosnalidades, sonhos, profissão, sua rotina, etc. Ou seja: Plataforma/Rotina de P1
5) Música #3 (Começa no Ponto B e Termina no Ponto C)
- Gestual de Dia a Dia peculiar de P1: neste dia algo quebra a rotina
- A música inspira o que quebrará a rotina e o humor de P1
6) Transição por Associação para P2 (Do Ponto C para o Ponto D)
- Por associação de palavras se contrói/inspira a Personagem 2 (P2) e seu conflito
7) P2 em Conflito (Do ponto D para o Ponto E)
- Em desafabo com o público P2 recolhe gestual da plateia e amplifica sua emoção a aprtir de fato que já quebrou sua rotina. A repetição (viewpoints) de gestos (viewpoints) como numa dança e a localização do espaço puxam a próxima música
8) Música #4 (Do Ponto E, passando por A e Terminando em B)
- O Encontro em gestual de P1 e P2 pela perspectiva de P2
- Desfecho de P2
9) Transição por Associação para P1 (Do ponto B para o Ponto C)
- Por associacão de palavras volta-se a primeira palavra dita na transição anterior, voltando o ciclo para P1
10) O Encontro de P1 e P2 pela perspectiva de P1 (Do ponto C, passando por A e Termina no Ponto D)
- Narração com cena
11) Música #5 (Livre. Termina no Ponto A)
- Desfecho de P1: transformação em gestual
12) Fechamento/Conexões de Histórias
- Conexão das Histórias de P1 e P2 com a história pessoal contada no início
13) Epílogo Gestual com Música #6
- Refazer imageticamente os gestuais pontuais do espetáculo nos espaços em que aconteceram (repetição).
Para estudar as intesidades das personagens e o tempo do espetáculo, gráficos me ajudam a visualizar e organizar as ideias.
Imagens do diário de Bordo de Luana Proença
O figurino do espetáculo é pensado de forma a ter linhas em diferentes direções e trazer a ideia de aleatoriedade de peças que também possuem harmonia em conjunto. Olhar meu com Julieta Zarza.
Foto Júlia Horta
Ficha Técnica das apresentações do dia 19/08/2018:
Realização: Grupo de Improviso Saída Sul (Fernanda Rocha, Julieta Zarza, Julia Horta, Luana Proença e Marina Zoé)
Concepção, direção e performance: Luana Proença
Designer de Luz: Marina Zoé e Luana Proença
Improvisador de Luz: Rafael Soul
Trilha sonora: O Publico e Luana Proença
Improvisador de Som: Filipe Moureira
Figurino: Julieta Zarza e Luana Proença
Produção: Guinada Produções
Fotos de Estúdio: Thiago Sabino
Arte gráfica: Fred Reis
Apoio: SESC
Agradecimentos especiais: Hugo Veiga (fotografia de espetáculo), Diogo Silva (montagem de luz), Samuel Araújo (responsável do SESC), Guilherme Angelim (responsável Guinada Produções), meus Avós e Coletivo Janela (locais de ensaio).
Sobre OS BEATNIKS EM "PSICOSE"
Foto: Thiago Sabino. Arte: Ramon Lima
Pelo Grupo Novos Candangos, o espetáculo é considerado um suspense ácido pop-chapolinesco. No limiar entre realidade e ficção o publico assiste ao grupo fictício Os Beatniks filmar sua versão do clássico do "Psicose" do diretor Alfred Hitchcock. Ao mesmo tempo que se assiste aos bastidores da filmagem, se assiste também ao filme que é feito por projeção em tempo real no local da apresentação. A peça critica as relações abusivas, com ênfase no maxismo explorando tanto as evidências feminicidas da história do filme (e livro de Robert Bloch), quanto as relações de equipe de filmagem encontradas nas obras sobre os bastidores so filme.
Foto: Rafael Lignani
O texto realmente decorado do espetáculo diz mais respeito ao texto dito palas personagens do filme que são itnerpretadas por personagens da peça, os membros do grupo Beatniks. Já as ações e falas do grupo possuem roteiro e direções, mas não necessariamente falas decoradas. Assim, temos uma grande abertura de improvisação que seguem alguns protocolos para jogo, tais como:
1) A palavra "pelicano" nos ensaios é usada para determinar que estamos no local de fala da realidade do grupo Novos Candangos. Como uma palavra de segurança que existe para não se confundir a ficção (que também se trata de um grupo de teatro, os Beatniks) com as dúvidas, questões e necessidades de ensaio reais dos Novos Candangos.
Então, sempre que o diretor Diego de León dos Novos Candangos (que faz o diretor Fred dos Beatniks) ou qualquer outra pessoa do grupo precisa passar uma orientação ou tirar uma dúvida, essa pessoa diz "Pelicano" e a partir dali todas/os sabemos que não estamos mais em perosnagem ou performance.
Para esse dispositivo funcionar é necessário se escolher uma palavra fora totalmente do contexto, que não aparecerá naturalmente em cena.
2) Como as próprias atrizes e atores operam som, luz e camera, os protocolos de um set de cinema se estabelecem na comunicação: uso de claquete, termos, etc.
3) Definir a plateia como figuração
4) Momento da briga de equipe:
- desencadeada sempre pelo mesmo motivo, porém nem sempre todas/os estão do mesmo lado na briga.
- Intensificar a discussão até o destempero extremo do diretor.
- Sustentação de silêncio.
- Retomada da cena e consequências da briga
5) Todo o aspecto é de baixo orçamento e há a estética pop-chapolinesca, logo soluções de efeitos e cenas cinematográficas permeiam o "tosco" e o "arranjado" (o que popularmente é tido como improvisado... mas que já entendemos por agora que a qualidade do improviso está relacionada ao empenho e não ao fato de ser improvisado).
Pensado para espaços alternativos, o espetáculo estreou no Hostel 7 de Brasília e também se apresentou no Hostel 7 em Goiânia. Com a participação no festival Cena Contemporânea, o espaço usado foi o jardim anexo e a Sala Adolfo Celi da cAsa D'Itália em Brasília. Uma hora e pouco de espetáculo aocnteciam nos espaços do jardim e somente os últimos 10 a 15 minutos dentro da sala de teatro, como uma escolha a adentrar no famoso "Bates Motel", local dos assassinatos, somente quando o mistério fosse revelado.
É da natureza do espetáculo aproveitar o espaço que se apresenta, procurando modifica-lo o mínimo possível.
- No Hostel 7 em Brasília usávamos na parte de convivência do térreo e trasnmitíamos o filme pela TV existente. Há um sofá em formato de carro na recepção que também era o carro da fuga da personagem. A recepção era... a recepção. Subíamos para o Rooftop e lá a projeção era feita na aprede do prédio ao lado. Infelizmente a famosa cena do banheiro, por questões de distância de trasmissão e aocmpanhamento do publico não era possível de ser feita num banheiro. então o Ivan Zanon e Rafael Toscano criaram a nossa "traquitana" com bacia, regador e mangueira onde simulamos o banheiro. Foi a única "construção" de cenário. (Não acompanhei as apresetnações no hostel 7 de Goiânia, sendo substituída pea querida Carina Alcântara que também se apresentou no Cena contemporânea no elenco de sexta, 24/08/2018).
- Na Sala Adolfo Celi e seu jardim cercado, usamos a grande mesa do centro também para centralizar a maior parte das ações. A própria parede do Teatro, torneou-se a tela de projeção. Decidimos entrar na Sala só no momento em que as personagens finais entrassem e descobrissem o interior do Motel. O publico assim também acompanha. Por essa escolha e para evitar deslocamentos de publico constantes que poderíam desliga-lo do espetáculo, a cena do banheiro também era feita do lado de fora com nossa "traquitana". A cena do carro era feita em um carro de verdade nosso estacionado na entrada de carros do jardim. Do lado de dentro da sala Adolfo Celi usamos as portas de camarim e depósito como as portas dos quartos do Motel. Tivemos que pendurar um tecido lá dentro para ser nossa tela de projeção, e essa foi a única modificação de cenário no espaço interno.
Se o aproveitamento do espaço é da natureza do espetáculo, no sábado, 25/08/2018, em especial, a natureza nos surpreendou com uma chuva nos primeiros 5 minutos de espetáculo. Entramos para o teatro e fizemos todo o espetáculo numa caixa preta. Nos nossos ensaios já passamos o espetáculo em salas, porém não havíamos determinado nada em relação a localizações e luzes para aquele espaço. E as relações e cenas novas foram criadas para "resolver" e envolver as necessidades do espaço e da entrada às pressas. Das maravilhas desse improviso: Fizemos a cena do banheiro pela primeira vez em um banheiro, podendo referenciar o filme com a imagem do sangue escorrendo pelo ralo. A cena do carro foi feita com projeção da cena do filme que tinha sido uma carta na manga um dia antes caso o carro de verdade não funcionasse. Um exemplo especial para mim foi o momento em que a atriz Tati Ramos me ajudou com a câmera, quando minha personagem Layla, descobria o livro "Psicose" que nos revelaria o final. Nesta cena, normalmente a câmera está num acessório de cabeça deixando minhas mãos livres para segurar com uma o livro e com outra a lanterna. Sem achar o apoio de cabeça e sem ter mãos suficientes para todos os objetos, a atriz Tati Ramos veio ao meu apoio. Ela interpretava Mary ou Marion Tanto Faz, a mocinha que morreu na emblemática cena do banheiro, enquanto eu interpretava a sua irmã que procura respostas do seu desaparecimento. Essa ajuda, em improviso foi ressignificada como o espírito da irmã assassinada conduzindo a outra no caminho da justiça.
Foto: Rafael Lignani
Confiança, jogo, conexão, cumplicidade, prontidão e pacto. Sangue nos olhos e anelina por toda parte. O publico conosco, querendo nos ver "sobreviver" as "armadilhas" daquela noite. Armadilhas como as que Norman Bates aponta: "Eu nasci na minha, já nem me importo mais". Intenso, forte, improvisado e vitorioso. Um salve, um axé, um abraço imenso. Novos Candangos não é um grupo de Impro, apesar de termos um certo treino desde o primeiro espetáculo do repertório. Mas é um grupo que pratica os princípios da Impro, conscientemente ou não, nas suas relações de criação e partilha: escuta, presença, jogo, aceitação, confiança e afeto. Afeto sim! Que haja afeto!
Ficha Técnica OS BEATNIKS EM "PSICOSE" no Cena Contemporânea:
Direção e Dramaturgia: Diego de León
Produção: Luciana Lobato
Equipe de Criação: Novos Candangos, Ivan Zanon e Leonardo Shamah
Elenco: André Rodrigues, Carina Alcântara, Diego de León, Ivan Zanon, Luana Proença, Rafael Toscano e Tati Ramos
Produção: Luciana Lobato
Equipe de Criação: Novos Candangos, Ivan Zanon e Leonardo Shamah
Elenco: André Rodrigues, Carina Alcântara, Diego de León, Ivan Zanon, Luana Proença, Rafael Toscano e Tati Ramos
Cenografia e Figurino: Novos Candangos
Iluminação: Marcelo Augusto Santana
Sonoplastia: Novos Candangos e Rafael Toscano
Fotos de cena: Iran Lima
Iluminação: Marcelo Augusto Santana
Sonoplastia: Novos Candangos e Rafael Toscano
Fotos de cena: Iran Lima
Fotos de Estúdio: Thiago Sabino
Arte: Ramon Lima
Realização: Novos Candangos
Realização: Novos Candangos
Agradecimentos: Denis Camargo, Joaquim, Aroldo, Sal, Coletivo Janela e Hostel 7.
E que a Impro e olhar para técnicas de Improviso se tornem mais abertos para que aprendamos a nos ouvir e jogar com confiança.