segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Psicoses Aleatórias - Espetáculos, Desventuras e Conexões Poderosas

Vivi na última semana emoções intensas em Improvisação. Dia 19/08 fiz 3 sessões do espetáculo solo de Impro Long Form ALEATÓRIO de forma independente com o apoio do SESC e da Guinada Produções (esta última que também fez a produção). Dias 24 e 25/08 com a Cia Novos Candangos participei do Festival Internacional de Teatro de Brasília Cena Contemporânea com o espetáculo OS BEATNIKS EM "PSICOSE". Este não é um espetáculo de Impro propriamente, mas tem uma grande abertura ao improviso, principalmente quando a natureza improvisa e traz chuva em plena seca de Brasília, forçando a gente a mudar o espetáculo de lugar já iniciada a sessão de sábado.

Hoje trago relatos e explicações de estruturas e protocolos desses dois trabalhos que me envolvem no momento e me enchem de alegria e riscos.

Sobre ALEATÓRIO

Foto: Samuel Araújo

Tinha programado (Ah, programações...) para fazer duas sessões do espetáculo no dia 19/08/2018. O objetivo era a filmagem do espetáculo para ter o registro para inscreve-lo em festivais internacionais e nacionais, por isso às 19h a sessão foi em inglês e 20h30 a sessão em português. Porém... Ah, porém! Não é que a câmera não pegou o final da sessão em inglês? É improviso, não dá para repetir... Então fizemos uma terceira sessão às 21h30 (com o super e necessário apoio do SESC).

Após 3 sessões eu estava morta. Lembrei de um comentário do improvisador e professor estadunidense Rich Baker sobre o tempo de um espetáculo de Impro, algo em torno de 30 minutos porque é de uma intensidade corporal e mental extrema. Eu achei pouco... mas ok, falamos de uma média e eu senti literalmente na pele, principalmente por ser solo, ou seja, não ter outras pessoas para dividir cena e a ação. Ufa! Mas ainda acredito num tempo maior... Para encaixar no formato de festivais reduzi meu tempo habitual de 45 a 50 minutos para 30 minutos.

Um solo... por que fazer um solo, Luana? Como já disse Júlia Horta do nosso grupo de improviso Saída Sul, nós levamos o nome do grupo à sério e cada uma de nós pegou uma saída da cidade ou do foco da Impro, sobrando só eu, até então. Assim eu tinha quatro opções para continuar: 
1) Parar de praticar Impro... ok, não era uma opção para continuar.
2) Treinar um novo grupo de voluntárias/os do zero... pela quarta vez em Brasília... e esperar mais um a dois anos para chegarmos num ponto onde eu poderia começar a treinar em conjunto sem só ser guia... não é uma boa opção.
3) Mudar do DF para treinar com outras/os improvisadoras/es... uma boa, mas seria preciso juntar um sinheiro, o que também iria tomar tempo.
4) Fazer um solo... que eu não queria, não ambicionava e tinha um medo... Mas era uma saída de qualquer forma para continuar treinando enquanto juntasse o dinheiro para o empreendimento em outro estado ou país.

Foto: Hugo Veiga

Eis então como chegamos a um solo. Quanto a temática e com isso a estrutura desse solo... Me perguntei como poderia treinar um solo sem ter plateia para sugerir... Aplicativos, listas... ok, mas eu queria alguma outra interação mais forte, condutora se preferir. Aí me veio a ideia das músicas. Usar músicas como inspiração e colocar no modo aleatório. Abri uma playlist colaborativa no Spotfy e divulguei nas redes sociais o motivo. Muitas pessoas colcaboraram e eu tinha então um imenso repertório surpresa para treinar. A música também me inspira a mudar ou itensificar humores, emoções. Como isso me toca, eu também trago uma história pessoal no início que pode ser diferente a cada apresentação e que, passadas as histórias fictícias improvisadas, fecha o espetáculo conectando toda a narrativa.

O símbolo da aleatoridade, duas setas em linhas opostas que se cruzam em um "x" e seguem em diferentes linhas opostas, direcionou a ideia de protocolo geral do espetáculo: duas histórias diferentes que se cruzam e a partir do "encontro" se transformam e mudam seus caminhos. Este se tornou o protocolo dramatúrgico. Mas ainda se estabeleceram por este símbolo os protocolos de luz, som e topografia (viewpoint). As setas da aleatoridade são "desenhadas" pelo meu percurso no palco (o que me ajuda a preenche-lo e explrar o espaço) e determinam pontos de comunciação com a luz e som das etapas da dramaturgia: apresentação das personagens, encontro e desfecho das personagens.


Imagens Diário de Bordo de Luana Proença

Dessa forma, ALEATÓRIO parte de uma média de 5 a 6 músicas e se desenrola nas etapas:
1) Entrada de publico com Música #1 
- esta música inspira a história pessoal
2) Abertura (Centro do Palco - Ponto A)
- Explicação do espetáculo
- História Pessoal
3) Música #2 (Livre no Palco e termina no Ponto B)
- É um prólogo imagético do espetáculo: movimentos, gestos e ações que serão retomados nas histórias
- Inspira a criação da Personagem 1 (P1)
4) Apresentação verbal de P1 (Livre. Termina no Ponto B)
- Define-se inspirada na música #2 nome, características de perosnalidades, sonhos, profissão, sua rotina, etc. Ou seja: Plataforma/Rotina de P1
5) Música #3 (Começa no Ponto B e Termina no Ponto C)
- Gestual de Dia a Dia peculiar de P1: neste dia algo quebra a rotina
- A música inspira o que quebrará a rotina e o humor de P1
6) Transição por Associação para P2 (Do Ponto C para o Ponto D)
- Por associação de palavras se contrói/inspira a Personagem 2 (P2) e seu conflito
7) P2 em Conflito (Do ponto D para o Ponto E)
- Em desafabo com o público P2 recolhe gestual da plateia e amplifica sua emoção a aprtir de fato que já quebrou sua rotina. A repetição (viewpoints) de gestos (viewpoints) como numa dança e a localização do espaço puxam a próxima música
8) Música #4 (Do Ponto E, passando por A e Terminando em B)
O Encontro em gestual de P1 e P2 pela perspectiva de P2
- Desfecho de P2
9) Transição por Associação para P1 (Do ponto B para o Ponto C)
- Por associacão de palavras volta-se a primeira palavra dita na transição anterior, voltando o ciclo para P1
10) O Encontro de P1 e P2 pela perspectiva de P1 (Do ponto C, passando por A e Termina no Ponto D)
- Narração com cena
11) Música #5 (Livre. Termina no Ponto A)
- Desfecho de P1: transformação em gestual
12) Fechamento/Conexões de Histórias
- Conexão das Histórias de P1 e P2 com a história pessoal contada no início
13) Epílogo Gestual com Música #6
- Refazer imageticamente os gestuais pontuais do espetáculo nos espaços em que aconteceram (repetição).

Para estudar as intesidades das personagens e o tempo do espetáculo, gráficos me ajudam a visualizar e organizar as ideias.



 Imagens do diário de Bordo de Luana Proença


O figurino do espetáculo é pensado de forma a ter linhas em diferentes direções e trazer a ideia de aleatoriedade de peças que também possuem harmonia em conjunto. Olhar meu com Julieta Zarza.

Foto Júlia Horta

Ficha Técnica das apresentações do dia 19/08/2018:
Realização: Grupo de Improviso Saída Sul (Fernanda Rocha, Julieta Zarza, Julia Horta, Luana Proença e Marina Zoé)
Concepção, direção e performance: Luana Proença
Designer de Luz: Marina Zoé e Luana Proença
Improvisador de Luz: Rafael Soul
Trilha sonora: O Publico e Luana Proença
Improvisador de Som: Filipe Moureira
Figurino: Julieta Zarza e Luana Proença
Produção: Guinada Produções
Fotos de Estúdio: Thiago Sabino
Arte gráfica: Fred Reis
Apoio: SESC
Agradecimentos especiais: Hugo Veiga (fotografia de espetáculo), Diogo Silva (montagem de luz), Samuel Araújo (responsável do SESC), Guilherme Angelim (responsável Guinada Produções), meus Avós e Coletivo Janela (locais de ensaio).


Sobre OS BEATNIKS EM "PSICOSE"

Foto: Thiago Sabino. Arte: Ramon Lima

Pelo Grupo Novos Candangos, o espetáculo é considerado um suspense ácido pop-chapolinesco. No limiar entre realidade e ficção o publico assiste ao grupo fictício Os Beatniks filmar sua versão do clássico do "Psicose" do diretor Alfred Hitchcock. Ao mesmo tempo que se assiste aos bastidores da filmagem, se assiste também ao filme que é feito por projeção em tempo real no local da apresentação. A peça critica as relações abusivas, com ênfase no maxismo explorando tanto as evidências feminicidas da história do filme (e livro de Robert Bloch), quanto as relações de equipe de filmagem encontradas nas obras sobre os bastidores so filme.

Foto: Rafael Lignani

O texto realmente decorado do espetáculo diz mais respeito ao texto dito palas personagens do filme que são itnerpretadas por personagens da peça, os membros do grupo Beatniks. Já as ações e falas do grupo possuem roteiro e direções, mas não necessariamente falas decoradas. Assim, temos uma grande abertura de improvisação que seguem alguns protocolos para jogo, tais como:

1) A palavra "pelicano" nos ensaios é usada para determinar que estamos no local de fala da realidade do grupo Novos Candangos. Como uma palavra de segurança que existe para não se confundir a ficção (que também se trata de um grupo de teatro, os Beatniks) com as dúvidas, questões e necessidades de ensaio reais dos Novos Candangos.
Então, sempre que o diretor Diego de León dos Novos Candangos (que faz o diretor Fred dos Beatniks) ou qualquer outra pessoa do grupo precisa passar uma orientação ou tirar uma dúvida, essa pessoa diz "Pelicano" e a partir dali todas/os sabemos que não estamos mais em perosnagem ou performance.
Para esse dispositivo funcionar é necessário se escolher uma palavra fora totalmente do contexto, que não aparecerá naturalmente em cena.
2) Como as próprias atrizes e atores operam som, luz e camera, os protocolos de um set de cinema se estabelecem na comunicação: uso de claquete, termos, etc.
3) Definir a plateia como figuração
4) Momento da briga de equipe:
- desencadeada sempre pelo mesmo motivo, porém nem sempre todas/os estão do mesmo lado na briga.
- Intensificar a discussão até o destempero extremo do diretor. 
- Sustentação de silêncio.
- Retomada da cena e consequências da briga
5) Todo o aspecto é de baixo orçamento e há a estética pop-chapolinesca, logo soluções de efeitos e cenas cinematográficas permeiam o "tosco" e o "arranjado" (o que popularmente é tido como improvisado... mas que já entendemos por agora que a qualidade do improviso está relacionada ao empenho e não ao fato de ser improvisado).

Pensado para espaços alternativos, o espetáculo estreou no Hostel 7 de Brasília e também se apresentou no Hostel 7 em Goiânia. Com a participação no festival Cena Contemporânea, o espaço usado foi o jardim anexo e a Sala Adolfo Celi da cAsa D'Itália em Brasília. Uma hora e pouco de espetáculo aocnteciam nos espaços do jardim e somente os últimos 10 a 15 minutos dentro da sala de teatro, como uma escolha a adentrar no famoso "Bates Motel", local dos assassinatos, somente quando o mistério fosse revelado.

É da natureza do espetáculo aproveitar o espaço que se apresenta, procurando modifica-lo o mínimo possível. 

- No Hostel 7 em Brasília usávamos na parte de convivência do térreo e trasnmitíamos o filme pela TV existente. Há um sofá em formato de carro na recepção que também era o carro da fuga da personagem. A recepção era... a recepção. Subíamos para o Rooftop e lá a projeção era feita na aprede do prédio ao lado. Infelizmente a famosa cena do banheiro, por questões de distância de trasmissão e aocmpanhamento do publico não era possível de ser feita num banheiro. então o Ivan Zanon e Rafael Toscano criaram a nossa "traquitana" com bacia, regador e mangueira onde simulamos o banheiro. Foi a única "construção" de cenário. (Não acompanhei as apresetnações no hostel 7 de Goiânia, sendo substituída pea querida Carina Alcântara que também se apresentou no Cena contemporânea no elenco de sexta, 24/08/2018).

- Na Sala Adolfo Celi e seu jardim cercado, usamos a grande mesa do centro também para centralizar a maior parte das ações. A própria parede do Teatro, torneou-se a tela de projeção. Decidimos entrar na Sala só no momento em que as personagens finais entrassem e descobrissem o interior do Motel. O publico assim também acompanha. Por essa escolha e para evitar deslocamentos de publico constantes que poderíam desliga-lo do espetáculo, a cena do banheiro também era feita do lado de fora com nossa "traquitana". A cena do carro era feita em um carro de verdade nosso estacionado na entrada de carros do jardim. Do lado de dentro da sala Adolfo Celi usamos as portas de camarim e depósito como as portas dos quartos do Motel. Tivemos que pendurar um tecido lá dentro para ser nossa tela de projeção, e essa foi a única modificação de cenário no espaço interno.

Se o aproveitamento do espaço é da natureza do espetáculo, no sábado, 25/08/2018, em especial, a natureza nos surpreendou com uma chuva nos primeiros 5 minutos de espetáculo. Entramos para o teatro e fizemos todo o espetáculo numa caixa preta. Nos nossos ensaios já passamos o espetáculo em salas, porém não havíamos determinado nada em relação a localizações e luzes para aquele espaço. E as relações e cenas novas foram criadas para "resolver" e envolver as necessidades do espaço e da entrada às pressas. Das maravilhas desse improviso: Fizemos a cena do banheiro pela primeira vez em um banheiro, podendo referenciar o filme com a imagem do sangue escorrendo pelo ralo. A cena do carro foi feita com projeção da cena do filme que tinha sido uma carta na manga um dia antes caso o carro de verdade não funcionasse. Um exemplo especial para mim foi o momento em que a atriz Tati Ramos me ajudou com a câmera, quando minha personagem Layla, descobria o livro "Psicose" que nos revelaria o final. Nesta cena, normalmente a câmera está num acessório de cabeça deixando minhas mãos livres para segurar com uma o livro e com outra a lanterna. Sem achar o apoio de cabeça e sem ter mãos suficientes para todos os objetos, a atriz Tati Ramos veio ao meu apoio. Ela interpretava Mary ou Marion Tanto Faz, a mocinha que morreu na emblemática cena do banheiro, enquanto eu interpretava a sua irmã que procura respostas do seu desaparecimento. Essa ajuda, em improviso foi ressignificada como o espírito da irmã assassinada conduzindo a outra no caminho da justiça.

Foto: Rafael Lignani

Confiança, jogo, conexão, cumplicidade, prontidão e pacto. Sangue nos olhos e anelina por toda parte. O publico conosco, querendo nos ver "sobreviver" as "armadilhas" daquela noite. Armadilhas como as que Norman Bates aponta: "Eu nasci na minha, já nem me importo mais". Intenso, forte, improvisado e vitorioso. Um salve, um axé, um abraço imenso. Novos Candangos não é um grupo de Impro, apesar de termos um certo treino desde o primeiro espetáculo do repertório. Mas é um grupo que pratica os princípios da Impro, conscientemente ou não, nas suas relações de criação e partilha: escuta, presença, jogo, aceitação, confiança e afeto. Afeto sim! Que haja afeto!

Ficha Técnica OS BEATNIKS EM "PSICOSE" no Cena Contemporânea:

Direção e Dramaturgia: Diego de León
Produção: Luciana Lobato
Equipe de Criação: Novos Candangos, Ivan Zanon e Leonardo Shamah
Elenco: André Rodrigues, Carina Alcântara, Diego de León, Ivan Zanon, Luana Proença, Rafael Toscano e Tati Ramos
Cenografia e Figurino: Novos Candangos
Iluminação: Marcelo Augusto Santana
Sonoplastia: Novos Candangos e Rafael Toscano
Fotos de cena: Iran Lima
Fotos de Estúdio: Thiago Sabino
Arte: Ramon Lima
Realização: Novos Candangos
Agradecimentos: Denis Camargo, Joaquim, Aroldo, Sal, Coletivo Janela e Hostel 7.



E que a Impro e olhar para técnicas de Improviso se tornem mais abertos para que aprendamos a nos ouvir e jogar com confiança.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Impro e o Cromossomo do Amor - Dois dias com o projeto Mosaico do Amor



Nos dias 14 e 16 de agosto fui uma das ministrantes convidadas do projeto MOSAICO DO AMOR, um projeto de um parceiro brasilienses dos palcos: Rômulo Mendes. A premissa desse projeto é se explorar a perspectiva do cromosso do amor e sua potencialidade poética.

Já sou fã tanto do trabalho que o Rômulo desenvolve em arte em geral, quanto com este foco particular. Também tenho aí na minha história com muito orgulho uns 13 anos dentro do curso de Teatro Néia & Nando em Brasília-DF, trabalhando artísticamente e pedagogicamente com inclusão. Então ao aceitar o convite, veio o carinho e respeito pelo profissional anfitrião, tanto quanto minha afinidade afetiva e interessada pela experiência anterior, mas principalmente pela perspectiva da potencialdade poética.

Digo isso principalmente porque o que aprendi nas turmas de inclusão no curso teatral da Néia e Nando é que ninguém gosta de ser subestimada/o. Somos diferentes sim nas questões de cuidados e atenções, não só por uma condição genética, mas pelas situações cotidianas também. Uma aluna com cólicas menstruais, um aluno gripado, uma grávida, uma pessoa que acabou de comer muito antes da atividade física: todas/os necessitam de atenção diferenciada, por exemplo. Foi isso que entendi na vera em sala de aula, todas/os merecemos ser tratadas/os com o mesmo respeito em nossas particularidades, momentâneas e/ou permanentes. Daí o desafio e o estar presente em sala de aula. Por que é uma mudança diária da equação dos encontros. Não estamos da mesma maneira todos os dias. E isso é outra questão que é um tanto injusta no tratar com uma pessoa com Down, por exemplo. Ao invés da classificação, diagnóstico, prognóstico, seja lá como quiser chamar,ao invés da "caixinha" nos indicar uma gama de possibilidades para convivermos em respeito e harmonia, acaba muitas vezes gerando os preconceitos e as injustiças do tipo: uma aluna com Down com cólica menstrual é reduzida ao aspecto "down" (aqui entre parênteses de propósito) como se ela não pudesse ter seus dias ruins.

E é por esse meu viéz de educar o olhar constante ao particular que me fez cair de amores pelo explorar da potencialidade poética. E com Impro!!!!! Pense em alguém empolgada! 

Foto Fernanda Resende Fotografias - Instagram @frfotografiabsb


O projeto Mosaico do Amor também trabalha com a ideia de inclusão, e o faz numa perspectiva equilibrada no 50%. Nas minhas aulas tive cerca de 28 participantes, entre alunas/os e equipe que também participa das atividades. Das/os 28, de 14 a 16 eram portadoras/es da síndrome de Down. Essa realidade meio a meio foi nova para mim, o que já havia vivenciado eram turmas de 15 pessoas com no máximo 3 portadoras/es. Aqui tivemos a real representatividade, palavra e argumento cada vez mais chave para a quebra de preconceitos.

Duas aulas de duas horas para se trabalhar com esse grupo o  Improviso para Fluir suas Capacidades Poéticas! Vale dizer que a maioria do grupo já tem um tempo trabalhando com o Rômulo, mas o projeto do Mosaico do Amor, com o financiamento do FAC (Fundo de Apoio à Cultura do DF), começou agora no mês de agosto. Então temos pessoas novas no grupo e um novo formato de lidar com o desenvolvimento pedagógico e artístico a partir da participação de profissionais convidados de especialidades diferenciadas.

DIA #1: 14/08/2018 (Terça-feira) das 19h30 às 21h30. Escola Parque 307/308 Sul (Brasília-DF)

Foto Fernanda Resende Fotografias - Instagram @frfotografiabsb


Exercício #1: Eu quero que você se transforme em...

Na roda, cada um/a na sua vez aponta para alguém (que fala o nome e assim a gente já vai aprendendo) e diz o que quer que a pessoa se trasforme. Ex.: Um guarda-chuva! Um gato! Uma vilã de novela... Vamos percebendo gostos, vontades, qualidades diferenciadas de gestos e: dizendo sim para a proposta da/o outra/o.
Já no meio do exercício, o grupo todo se envolve completando a ideia da/o transformada/o. Por exemplo: Um guarda-chuva teria a turma fazendo o barulho da chuva. Uma gata teria a turma chamando a gata para brincar, etc.

Aqui já se vai quebrando a ideia de espectativa e a transformando em conexões, em propostas. Eu quero que a minha espectativa se transforme em proposta. Ninguém vai fazer exatamente o que foi pensado por outra pessoa: aceitação. E o que nos pareceu errado ou ilógico, é mais a nossa cabeça querendo atender à expectativa, então olhemos novamente para o potencial poético e tracemos conexões e, daí: criemos histórias. Um exemplo: "Quero que você se transforme num pássaro!" E a pessoa começa a rastejar... Ao invés de julgar (Isso não é pássaro... Ah, não entendeu!...), pergunte-se e responda com a história: Um pássaro que rasteja... machucado e não consegue voar... foi educado por cobras e não sabe que é pássaro... está dentro da barriga de uma cobra tentando sair...

Escuta - Resposta Sinestésica em Espontaneidade - Aceitação. Impro e Viewpoints...

Exercício #2: Personagem Topografia

São definidas topografias para se andar no espaço: desenhando quadrados, zig-zag, círculo, etc. Depois, para cada topografia solicitada se identifica um tipo de personagem. exemplo: Se a topografia era quadrada, como seria uma personagem Quadrada?

Exercício #3: Associação de Palavras

Em duplas. "A" diz uma palavra e "B" diz uma palavra associada com a que ouviu. Para ajudar a não se perder na associação da sua própria cabeça, a frase "Essa palavra me lembra a palavra ________" lembra as/os jogadoras/es da associação com o que se ouviu e não com o que se pensou.

Exercício #4: Associação de Gestos

Mesmo exercício que o 3, porém agora com um movimento, um gesto. "A" começa um gesto. "B" diz "Isso me parece _________". Ex.: "A" começa a jogar algo para o alto com as duas mãos. "B" diz: "Isso me parece alguém brincado com uma bola.". Então "B" faz outro gesto e "A" associa.

Trabalhamos aqui a Definição a partir de uma proposta cega ou oferta aberta. (Lembrando da postagem do dia 06 de agosto do cruso  Dramaturgia do ator com Gustavo Mirangel, em que oferta cega é uma proposta que nem tinha pretenção de ser, mas foi tomada como oferta. E uma oferta aberta é uma ideia que se joga mas sem todas as informações definidas).

Exercício #5: Sim, Vamos!

Uma pessoa vai para o centro da roda e propõe um lugar. Todas/os respondem: "Sim, vamos!" e num tempo pré-determinado montam uma foto desse lugar. A atenção é que é o mesmo lugar para o grupo como um todo.

O que me foi "diferente" desse jogo para turmas não inclusas, é que eu aumentei o tempo por questões de dificuldades de locomoção que algumas/ns alunas/os tem. E só! Lembrei do Deto Montenegro, que foi meu professor de teatro na adolescência pela Oficina dos Menestréis. Ele contando uma vez que quando fez o espetáculo "Noturno" com cadeirantes só precisou mesmo adaptar o tempo de coreografias porque se necessitava de um tempo (rítmico) a mais para se travar a cadeira.

Exercicio #6: Eu sou...

Uma pessoa vai ao centro da roda e faz uma pose e fala o que é. Exemplo: Vai para o meio e abre os braços: "Eu sou uma árvore". Outra pessoa vem e complementa essa imagem da mesma maneira. Exemplo: Deita no chão no pé da árvore e diz: "Eu sou a grama". E assim, segue, uma pessoa de cada vez. 

Exercício #7: Eu sou... (com justificativa)

O mesmo exercício, mas agora além de se falar o que é, se justifica sua existência na história que vai se traçando. 

Exemplo:

"A" se posicona no centro e diz: "Eu sou uma manequim".

"B" se coloca sentado no chão na frente e diz: "Eu sou um mendingo pedindo esmola na frente da loja com manequim". (definiu que se tratava de um manequim objeto e não pessoa e onde estavam)

"C" se coloca na frente de "B": "Eu sou a dona do restaurante do lado dando um sanduíche para o mendigo."

E no final, um/a narrador/a conta a história toda fazendo as conexões.

Eu optei por ser a narradora e fazer uma surpresa. Primeiro, tirei todos da roda para que achassem que o exercício tinha acabado. Aí comecei a contar a história em outro tom, começando até com "Era uma vez...". Aos poucos foram percebendo que se tratava da história criada por todas/os nós e foi o êxtase, porque aquela história muito legal que estava sendo contada não era só minha.

Exercício #8: Transformação de gesto com objeto

Em roda. Cada pessoa entra na sua vez com um objeto (que no caso foi pedido na aula anterior para ser levado) e começa a fazer uma ação que faria normalmente com aquele objeto. E a partir da repetição ou mudança de tamanho ou ritmo, ou até mesmo sem mudar o movimento em si, se transforma o gesto em outra ação. Exemplo: Ler um livro se transforma em servir o almoço numa bandeja.

Um momento bem inteligentemente fofo foi quando um dos alunos lembrou da cena do filme mais recente da versão de "Karatê Kid" (que diga-se de passagem é Kung Fu, mas a gente deixa passar). A seuqeuncia do filme é o treinamento do menino tirando o casaco e clocando o casaco repetidas vezes até um momento que ele se revolta por aquilo não parecer luta e o seu mestre o ataca. O menino se defende com os momentos em reflexo pela repetição de tirar o casaco e colocar o casaco. Pois é... tipo a base do exercício pedido. E um dos alunos refez a cena do filme. Não nos subestimemos!

Extra: No final da aula um dos alunos pediu para refazer um exercício de uma aula anterior. O exercício do abraço. em que uma pessoa vai ao centro, faz contato visual com outra. Se abraçam. O resto do grupo se junta num abraço coletivo e respira junto para então se separar. Eu e minha resistência a abraços coletivos (meio caustrofóbico para mim) me colocaram entre as últimas, mais do lado de fora... Pequenas fugas...

Percepções da aula Impro no Mosaico do Amor: 
Não nos subestimemos: olhar o pontencial para contar histórias, para associar ideias e para saírmos da caixinha.

Obviamente eu mudei TODO meu planejamento. Fui para exercícios mais avançados em Impro com muita rapidez, talvez porquê a espontaneidade fluia numa zona natural sem muito esforço.


DIA #2: 16/08/2018 (Quinta-feira) das 19h30 às 21h30. Escola Parque 307/308 Sul (Brasília-DF)


Foto Fernanda Resende Fotografias - Instagram @frfotografiabsb


Exercício #1: Coreografia de Gestos

Uma pessoa faz um movimento. Todas/os repetem. Outra pessoa faz um segundo movimento. Todas/os repetem o primeiro somado ao segundo. Até termos uma coreografia de pelos menos uns 10 gestos.

Então nos perguntamos gesto a gesto o que eles nos lembram, e, associando gestos memórias e percepções repetimos a coreografia com as intenções definidas, criando inclusive uma história.

Exercício #2: Escutar e Observar

Uma parte do grupo se posiciona numa relação de palco italiano com o restante. O comando é: "Não façam nada". Quem observa diz o que percebe e o que pensa que esse "fazer nada" (que na verdade é muito) pode ser. Exemplo: Alguém coça a sombrancelha e a partir daí quem observa fala: "Ela está tendo uma reação alérgica".

Depois de um tempo definindo o que se vê por meio da imaginação, as pessoas que estão na frente começam a executar o que lhes foi "lido". No exemplo da alergia, a pessoa iria começar a se coçar inteira.

Exercício #3: Diferentes Estilos de Interpretação

A partir de um texto pré-determinado ensinado na hora, um grupo de 5 a 6 pessoas faz a cena, por exemplo:

FILHA: Óh, mãe, que dia lindo!
MÃE: Lindo, filha!
PIPOQUEIRA: Olha a pipoca, pipoquinha, pipoca quentinha!
FILHA: Mãe, eu quero uma pipoca!
MÃE: Moça, me vê uma pipoca!
ASSALTANTE: Atenção, isso aqui é um assalto! Passa o dinehiro e a pipoca! (foge. Mãe e Pipoquiera desmaiam)
FILHA: Ambulância!!!!
AMBULÂNCIA: (entra fazendo braulho de sirene. Vai até a Pipoqueira). Ela está morta! (vai até a mãe). Ela também!

Depois que a cena é entendida, como em um set de cinema, se é definida uma emoção que deve dominar a cena por completo sem mudar o texto ou as ações. Exemplo: Tristeza. Todas/os devem fazer a cena tristes. Cada grupo repete a cena neutra (para inclusive lembrar o texto) e depois recebe uma emoção/estilo para refazer a cena.

Aqui, depois do terceiro grupo, já se queria incrementar a história, com policiais, tiros, etc. Escuta, percepção, aceitação e senso de humor para seguir!

Exercício #4: O Trem

A partir da ideia originada com o formato TREM (postagem do dia 01 de junho de 2018) misturam-se cenas de movimento abstrato e contra-cenas. Exemplo: Uma pessoa limpando a casa para receber visitas. A partir do movimento de varrer outras pessoas entram ampliando este movimento que aos poucos se transforma em tacos de golfe e uma nova cena começa no campo de golfe.

Aconteceu aqui uma certa atitude passiva para com o exercício. E analisando depois percebo que ter determinado o espaço como plateia e palco, onde quem não está na cena senta-se de frente para assistir e entrar quando estiver inspirada/o, acabou por "inibir" a participação. Não no sentido de oprimir a entrada, mas no determinar os papéis: agora eu assisto, e se eu assisto eu não faço.

Percebo isso porque quando se puxou a participação: as imagens e cenas que surgiram eram fortes e potentes e cheias de ideias. Sem falar que se tratava de exercícios já praticados, somente agora colocados como sequencia. Óh, Espaço, você nos trazendo o óbvio e a atenção para nossas escolhas e comandos.

Como final, eu tinha combinado com um dos alunos apra ele puxar o exercício do abraço (que ele me pediu no início da aula para refazermos).

Exercício #5: Tudo menos o Objeto 

Um objeto no centro, cada pessoa entra e interage com este objeto definindo-o como um objeto diferente que: não pode ser o que realmente é (uma bola não pode ser uma bola) e não pode repetir o que já foi feito por outra pessoa.

Eu não precisei, pela primeira vez nesse exercício, dar ênfase a interação com o objeto e não à fala. Todas as outras vezes que puxei esse jogo as pessoas começam só falando o que é e não realizando ações. "É um globo", ao invés de interagir com o globo, criando cena e movimento.

Exercício #6: Adeus com uma palavra!

Em roda. Dizer uma palavra para fecharmos a experiência do dia.

Algumas frases inteiras, discursos e danças foram também aparecendo... Aff, emoção! Ah, sim, com exercício do abraço novamente... Respira na resistência do abraço coletivo, aceita!

Percepções da aula Impro no Mosaico do Amor: 
O espaço define papéis. Atenção ao espaço na criação poética...
É uma liberdade tanto para quem faz e muito para quem conduz a atividade, quando não há julgamentos e se dispõe a jogar, mais que acertar, o jogo flui sem dificuldades. E foi isso que aconteceu. E aí estavam os principios da Impro: escuta, presença, espontaneidade, aceitação, jogo... Pontenciais poéticos!

Sobre espectativas, que sejam sonhos e não muros. Se você esperava que eu falasse algo de diferente aqui sobre as diferenças entre turmas inclusivas e sem inclusão, fruste-se, pois as diferenças são as minúsculas comentadas que, dependendo do dia de cada pessoa, podem inclusive nem ser diferentes, como o tempo que se dá um exercício, a repetição de comandos para lembrar entre grupos, etc. E as diferenças são imensas porque as pessoas são imensamente diferentes e representatividade é uma coisa poderosa! Não nos subestimemos! E dito isso, acredito que os "valores" dessa experiência em Impro na continuidade do projeto vão ser principalmente: o investimento na capacidade de criar histórias por sinestesia e as particularidades expressivas individuais das/os participantes que forma aparecendo em estilos e personalidades. 


Observações finais: O projeto Mosaico do Amor também tem um documentário como resultado. Eu dei meu depoimento depois da chuva de amor e abraços... Quem achar que eu sou uma amorzinho porque eu estou emocionada na entrevista, não se engane! Ok, eu até sou um amorzinho às vezes, mas não um amorzinho inchado de chorar!

Em breve devem lançar o Instagram do projeto Mosaico do Amor. 
Uma boa maneira de acompanhar o projeto. Sim que lançarem, eu edito essa parte da postagem com o perfil.

Que sigamos no amor e respeito! Axé! Salve!

Foto Fernanda Resende Fotografias - Instagram @frfotografiabsb

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Sobre o que veio e o que vem

Aviso de texto inicial bem pessoal, mas que vai fazer sentido no final. Partilhemos!

Eu nunca tive a ambição de ser "improvisadora". Dedicar-me a Impro por completo. Ainda não me vejo ou quero isso. Essa questão categórica (em tantos sentidos). O que decidi há tempos foi que a Impro me faz sentido no meu fazer teatral: em todas as linguagens e formas que trabalho. O que quer dizer que não farei só Impro ao emsmo tempo que farei sempre Impro em tudo.

Na minha dissertação de mestrado eu tenho na introdução a minha percepção de como a improvisação sempre me acompanhou, desde lá meus 4 anos quando comecei a fazer teatro, na adolescencência quando escolhi fazer teatro, no início da vida adulta quando escolhi ter as artes cênicas como área profissional e de estudo... sempre ela lá... ela comigo, ela em mim.

Nas minhas inquietações queria entender e estudar mais, na verdade, trocar mais com outras pessoas. E infelizmente, na minha amada Brasília estava difícil. E não caio aqui no argumento de algumas pessoas de que não dá para ser artista em Brasília, porque eu assim o sou até então, 34 anos de idade, 30 anos fazendo teatro, 20 anos por escolha, 16 como profissional registrada em paralelo ao caminho acadêmico. Mas a Impro aqui encontrou algum espaço, mas poucas pessoas que a adotassem. Ainda... Ainda... A de se ter paciência. E eu tinha/tenho fome de gente. Em 2016 entendi algo primordial. Pensando sobre a continuidade da minha pesquisa acadêmica em Impro, já vasculhava alguns doutorados por aí. E meu objetivo (traçado lá em 2001, juro) era o de me graduar em Brasília, miha cidade (check!), fazer o mestrado fora de Brasília mas ainda no Brasil, e o fiz na UFU, em Uberlândia (check!), e o doutorado fora do Brasil. Semrpe com a perspectiva de votlar e partilhar. O que entendi em 2016 sobre tudo isso? É que eu estava procurando o Doutorado fora e se eu passasse eu ia largar tudo e ir. Então por quê esperar o doutorado? A minha respota para mim mesma foi grana. Decidi então que tiraria o ano de 2017 para juntar dinheiro e seguir para fora do país ou ainda para São Paulo onde a Impro tem pessoas cativas e produtivas. Foi aí que inscrevi, em setembro de 2016, o projeto VISANDO IMPRO para o FAC/DF. contemplada no meio do ano de 2017 e vendendo TUDO que eu tinha para realmente conseguir arcar com o que inscrevi no projeto.

Fevereiro de 2018 embarquei para Los Angeles, EUA para começar a realizar os objetos do projetos voltando para o Brasil em julho desse mesmo ano. Até então, já marquei e partilhei pelo blog: 

- 5 cursos de Impro fora do Brasil: Pelo Centro de Treinamento Second City: Improv 1, Improv 2, Improv 3, Long Form Master Class La Ronde & The Party, e Long Form Master Class I Love Improv.

- Atender a um Festival Internacional de Impro fora do Brasil: e lá eu fui para o Festival Mount Olymprov na Grécia.

- 1 Curso de Impro avançado no Brasil: Dramaturgia do Ator com Gustavo Mirangel em São Paulo na Escola do Quintal.

- Colhi entrevistas para o doucmentário amador (ainda em realização) tanto nos Estados Unidso com a força da amiga Anna Salles e no Brasil também (ainda coletando).

Nessas atividades que me propus a fazer ainda abri outras portas inesperadas:

- Asssiti a inúmeros espetáculos de Impro nos estados Unidos, nos palcos do Second City, UCB, Groundlings, etc. Aprendizado por apreciação.

- A ida para IX Diplomado de Imrpovisação Teatral com ênfase em Long Form na Colômbia. Essa atividade não contou com o apoio do FAC, foi investimento pessoal e uma força tremenda do crow founding realizado pelo site Vakinha. Assisti a espetáculo da Espanha, assisti a algumas aulas de uma professora do Japão e colhi entrevistas com uma galera da América Latina ao lado do parceiro Alexandre Heládio!

- A passagem pela Casa do Humor no México na conexão de 9 horas a caminho da Colômbia. Me rendeu conhecer improvisadoras/es maravilhosas/os, 3 entrevistas, tacos e cerveja.

- Os workshops no Festival Mount Olymprov, poder me apresentar lá nem que fossem apenas 5 minutos e conhecer gente de Impro de vários outros países e continentes.

- Começo a desenvolver à distância os espetáculos "Us" com o improvisador grego Stelios Mel e "Room 3" com as improvisadoras Amy Larimer e Jamie Graham.

Por que revisito este caminho intenso de 6 meses? Para poder organizar as palestasa que também fazem parte do projeto VISANDO IMPRO na partilha da pesquisa, que tem a mão, o braço e carinho do Guilherme Angelim na produção, do Fred Reis na arte e da mulherada sagaz do Saída Sul na minha força interna.

Neste sábado 11/08/2018 eu realizei no espaço do Coletivo Janela em Brasília-DF as duas plaestras do projeto que foram transmitidas ao vivo pela página do Visando Impro no Facebook. Os vídeos estão disponíveis lá também e daqui algum tempo, vams legenda-los em português e subir para o youtube.

Para quem quiser ter acesso aos meus slides aqui vão os links:

Palestra sobre Impro. Slides disponíveis em https://prezi.com/rguspjy53lyn/improimprov/

Palestra sobre Impro Long Form. Slides disponíveis em: https://prezi.com/rguvsfvcje8r/impro-long-form/ 


Revisitar os diários, os livros e as memórias para a construção das palestras foi pontual para os próximos passos. Neste domingo, 19/08/2018 apresentarei em Brasília o meu solo ALEATÓRIO que continua o mesmo em ideia, mas já com alguns novos mecanismos apreendidos. Vou apresentá-lo gratuitamente para filmagem para festivais. Daí uma filmagem em inglês às 19h e outra em português às 20h30. É improviso então é aberto ao publico no Teatro Ary Barroso (SESC 504 Sul)...



E aqui as novidades! Passei no Doutorado... Era aquela ideia primeira que eu deixei em segundo plano latente. E com esse projeto crise da educação ("A crise da educação não é crise é projeto" Darcy Ribeiro), a possibilidade de conseguir bolsa pela CAPES ou CNPQ está bem remota, quase nula. então ao final do espetáculo, vamos passar o tradicional e orgulhoso chapéu apra quem quiser/puder contribuir para essa nova fase da minha pesquisa em Impro. Para onde eu vou? Olha, não é segredo, ams também não é anúncio ainda, hehehe. Mas já começo em setembro desse ano, olha a loucura e corre (só fiquei sabendo do resultado no dia 07/07/2018!).

Mas ainda tem mais coisas do projeto por vir!

- Atender a um Festival de Impro no Brasil. O Circuito Impro no Rio de Janeiro está planejando sua segunda edição em novembro desse ano, então, aguardem!

- O Documentário de Impro Amador deve ficar pronto em 2019 proque ainda vou coletar umas entrevistas no Festival do Rio.

- Um artigo sobre Impro também estou deixando para publicar como encerramento do projeto, então esse vem em 2019.


Mas já vamos sentindo as despedidas por aqui... Pretendo deixar o blog ativo, mas não sei com qual frequência. Então, perguntem, mandem textos que querem que eu traduza, comentem, discordem, debatam, creçamos e vamos produzir mais material de pesauisa sobre Impro apra que projetos como o meu sejam escolhas do desejo e não da necessidade!

Gratidão em produção intensa!

Simbora!

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Curso DRAMATURGIA DO ATOR com Gustavo Miranda

Chego às 18h20 na Escola do Quintal em São Paulo… Três pessoas já chegaram para o curso e… Saulo Pinheiro e Renata Bittencourt de Brasília estão lá. Desses acasos (acasos?) que nos aproximam. Ainda não havia encontrado com nenhum/a das/os duas/dois desde que voltei das viagens. Papo em dia antes da aula e três dias intensos juntas/os com uma turma bem bacana.

Volto a reinteirar aqui no blog o que já escrevi em outras publicações: ter uma turma interessada e dedicada faz TODA a diferença no aproveitamento do curso. O Gustavo Miranda é um monstro de excelência, mas foi a turma que permitiu o proveito e eu sou muito grata esses bons encontros. Gente interessante, perspicaz, empenhada e disposta a crescer e ouvir feedbacks!

Uma vontade de ficar mais por São Paulo. De trocar mais, de estar entre essas e esses. E eu até poderia. Este era o plano até então… Minha volta ao Brasil estaria aliada a minha mudança para São Paulo, mas… bem, essas são questões para uma outra postagem. Sigamos com a descrição e meus relatos das aulas.

Para quem chega por aqui por agora, eu tomo para mim uma escrita de notoriedade feminina em língua portuguesa. Meus comentários mais pessoais aparecem em itálico, porém tudo aqui é pessoal já que é escrito a partir da minha perspectiva. Ah! Nomes de exercício: NÃO IMPORTAM porque mudam mesmo. Vida que segue!


DIA #1: 30/07/2018
Segunda-feira das 19h às 23h na Escola do Quintal (São Paulo-SP. Brasil). Professor Gustavo Miranda.


Tempo de alongamento individual
Desses pequenos detalhes que observei no meu tempo nos Estados Unidos e que me fez diferença: todas/os com roupas para exercício físico, tempo para alongar… Estranhei muito nas aulas nos EUA que as pessoas iam de calça jeans para as aulas e só chegavam e pronto. Entendo, a diferença, a minha escola parte do teatro e eu valorizo isso...

Exercício #1: PEQUENAS PRESSÕES NO CORPO
Em duplas. Uma pessoa em pé de olhos fechados. A outra pressiona algumas partes do corpo da primeira. A pessoa de olhos fechados pressiona a parte contrária contra o toque da segunda.

Comentários:
- Uma boa maneira de acordar, se estar presente e consciente do corpo.
- Contato físico: integração.

Exercício #2: PASSAR PALMAS
Em roda. Como passar uma bola, Se bate palma para um pessoa que se estabelece contato visual. Quem está com a “bola” olha para alguém e juntas/os batem palmas indicando o “passe” da “bola”.
Quando um ritmo se instaura, procura-se mantê-lo. Depois acrescenta-se dizer aleatoriamente os próprios nomes durante o jogo, com o objetivo de não dizer junto a outra pessoa.

Indicações e comentários:
- Não se julgar ou se condenar. Prestar atenção nas reações corporais, em especial ao rosto.
- É divertido e difícil para porra conseguir prestar atenção em quem diz o nome. Nem era uma regra do jogo, mas era um jeitinho de se conhecer e me coloquei esse desafio que poderia acontecer naturalmente na sobreposição dos nomes às palmas.

Exercício #3: LIVRE ASSOCIAÇÃO DE PALAVRAS.
Individual. Primeira etapa: Dizer uma palavra e em seguida completar a frase: “Que me lembra…”. Ex.: Árvore. Que me lembra Fruto. Que me lembra Suco. Que me lembra Polpa…
Segunda etapa: Tirar a frase “Que me lembra”. Ex.: Árvore. Fruto. Suco. Polpa. Poupança. Cofrinho. Bunda…
Terceira etapa: Voltar à primeira palavra por associações. Ex.: Árvore. Fruto. Suco. Polpa. Poupança. Cofrinho. Bunda. Funk. Dança. Saudade. Português. Portugal. Colônia. África. Mãe. Terra. Árvore.

Comentários e Indicações:
- Bom exercício para se treinar sozinha/o.
- Exercício de memória também. É comum se esquecer a primeira palavra. Confiar que na etapa três a palavra vai voltar (mesmo que não venha).

Exercício #4: AÇÃO EM ASSOCIAÇÃO
Etapa 1: Em Duplas. A primeira pessoa começa uma ação com um porquê (Ex.: Varre a casa porque via ter visita) e quando o movimento remete uma imagem de outra ação para a segunda pessoa da dupla, ela começa a ação e a descreve com um porquê. Ex.: Primeira pessoa diz: “Estou limpando a sala porquê hoje vou receber visitas”, e faz o que falou. O movimento de sacudir a pá de lixo no lixo remete para a segunda pessoa o temperar de uma sopa. Então ela diz: “Eu estou temperando uma sopa porque eu quero acertar a receita que experimentei num restaurante”. E assim o faz. Quando prova a sopa com a colher, a primeira pessoa diz: “Eu estou passando pomada lábia porquê meus lábios já estão doendo do frio”.
Etapa 2: Não se fala mais, mas continua se inspirando na outra pessoa e encontrando porquês nas ações. A primeira pessoa só para de fazer sua ação depois que a segunda começou a realizar a sua própria.

Indicações e comentários:
- Dar um porquê preenche a ação, motiva, traz emoção ao movimento;
- Na Etapa 2: NÃO PENSAR EM IDEIAS E SIM EM IMAGENS
- Entre você e a/o outras/o haverá choque de ideias, imagens que se mesclam e se re-significam.
- Ótimo exercício para se trabalhar com foco no princípio do movimento, onde o movimento começa e seu caminho. Abrir e fechar das extremidades.

Exercício #5: ASSOCIAÇÃO DE AÇÕES INDIVIDUAL
Individual. Mesmo princípio do exercício anterior, mas sua própria ação se transforma em outra e em outra e em outra… Até voltar para a primeira ação. Ex: Cortar o cabelo da Cláudia Leite no sue primeiro dia no salão. Ao pentear o cabelo - tecelagem antiga em que se tem que produzir muito em pouco tempo em trabalho escravo. O movimento de puxar – Remar uma canoa com competidoras/es, aquelas de umas 8 pessoas. Do movimento circular de remar – Empurrar a roda da cadeira de rodas num jogo de basquete cadeirante. Num passe mais difícil de cai no chão – Ferida de uma machadada no estômago em que sua visita assassina possuída por um espírito psicopata continua a ir atrás de você. Ao conseguir segurar o machado no alto – É uma corda sobre um rio que você se segura pelas mãos e pernas depois de ter quase caído na água. Se balança e volta ao topo se equilibrando. Ao cruzar o rio, comemora uma felicidade imensa – de ter cortado o cabelo da Cláudia Leite.

Indicações e comentários:
- Como o exercício das palavras, se você não lembrar da primeira ação, ela vai voltar. Confiar.
- Lembrando da palavra, deixar fluir ou também construir. Se permitir desenvolver e se envolver.
- Preencher a imagem e apagar: dramaturgia
- O “acaso” constrói imagens para o publico ao ver duas pessoas fazendo o exercício individualmente e simultaneamente
- Eu nem vi a pessoa ao meu lado… Foquei no “meu” e desliguei do todo… Os focos de concentração… Stanislavski 101
- Teoria do Iceberg: só ver a ponta de algo profundo, não precisar contar tudo, legendar ou explicar tudo
- ESTRUTURAS DRAMATÚRGICAS EM IMPRO
* Precisa de impulso, determinante, o que já uma proposta/oferta.
* Ofertas Cegas: sem intenção de ser oferta. Oferta que não define, não indica direção. Ex: uma coçada no queixo faz sua/eu parceira/o de cena pensar que você está com alergia.
* Ofertas abertas: já definem algo, mas não muito, algo em aberto. Ex.: A entrega de uma caixa à outra pessoa como presente. O que tem na caixa? É seu aniversário? Está aberto para definir.
* Ofertas fechadas: definem a ideia inteira. A oferta fechada leva a uma plataforma (pela ideia Aristotélica de história). Ex.: “E para comemorar as nossas bodas de papel, fiz seu bolo favorito!” – São casadas/os há um ano, é o dia da comemoração, tem bolo, é o seu favorito.

Exercício #6: DA OFERTA CEGA PARA A FECHADA
Dupla “A” e “B”. “A” faz uma oferta cega em frase o mais “neutra” possível (sem tentar impor emoção ou definir algo). Essa será a primeira frase e ação da cena. “B” responde com oferta fechada. “A” entra na história (aceitação). Ex.: “A”: “Tem dias mais frios”. “B” se contorce: “Pois nesses dias eu não vou por minha cara para fora do iglu, mãe!”. “A”: “Pára de frescura, Manoela! Isso não é jeito de passar as férias!”

Indicações e comentários:
- Conselhos: fugir de brigas, negociar e perguntar.
- A plataforma não é só definida por fala, há a relação com o espaço.

Exercício #7: OFERTA CEGA DE COSTAS
Em duplas. Começam de costas um/a para a/o outra/o. A partir dos comandos externos de : “Preparação! Girem! Olhem-se! Ação!”, as duas pessoas viram de frente uma para a outra com uma posição. A partir dela desenvolvem a cena.

Indicações e comentários:
- Calma até fechar a plataforma. Respira, Luana, respira!

Exercício #8: DA OFERTA ABERTA PARA A FECHADA
Duplas. “A” faz uma oferta aberta (ação com intenção). “B” tem três opções: Espelhar (fazer o mesmo que “A” em ação e/ou energia); Complementar/Compor; ou Contrariar (fazer algo que não se encaixa, que não tem nada haver e depois desenvolvem a plataforma.

Exercício #9: OFERTA FRASE NO PAPEL
Duplas. A partir de uma frase entregue a uma pessoa, esta a fala com uma intenção e constroem a plataforma.

Indicações e Comentários:
- Deixar fluir e matar a “ideia”
- O raciocínio da personagem “supera” a aceitação da Impro (quando a personagem é quem nega).
- OFERTA INICIAL – PLATAFORMA (Oferta fechada) – ACONTECIMENTO (Algo que muda, provoca mudança)
- Ações de EXPANDIR a cena e AVANÇAR a Cena
- ACONTECIMENTO SURPRESA: algo que é trazido à tona para todas/os. Ex.: Um casal de lavradoras/es acham um tesouro.
- ACONTECIMENTO PLANEJADO: Apenas parte das personagens sabem do “ocorrido”, se dá com a cumplicidade do publico, vê a cena com outros olhos. Ex.: Uma das pessoas do casal de lavradoras/es acha o tesouro e não conta à/ao parceira/o.
- ACONTECIMENTO FALADO: fala que modifica a ação. Revelação de um/a para a/o outra/o. Ex.: “Estou grávida”.
- A dramaturgia da cena como o trilho e um trem, como a gente viaja numa improvisação. Uma travessa é o Pensamento e a outra é a Ação. O trilho entre as travessas é por onde o trem anda, os acontecimentos (Entre pensamentos e ações), o trilho em si é a História (O que). A viagem é a ação dramática (Como e porquê). A viagem é de cada um/a. De cada personagem e pessoa da plateia.
- Lisbela e o Prisioneiro: algo como “É sempre assim: primeiro vem a mocinha ela vai sofrer de um tudo pelo amor do mocinho. Ele vai fazer um monte de atrapalhada até assumir o amor pela mocinha. Não importa o que vai acontecer, mas onde e como.”

INTERVALO! E sim, vou falar de comida, por que, para quem acompanha o blog, sabe que me é um assunto importante. A Escola do Quintal graciosamente deixa a copa com frutas, biscoitos e um tipo de bolo disponíveis.Detalhes de cuidado que trabalham com as variáveis de energia e humor de estudantes. Não é obrigação, é cuidado e estratégia que potencializa boas energias. Fica a dica e… Gratidão!!!!!!

Exercício #10: PROPOSTA CEGA/ABERTA – PLATAFORMA – ACONTECIMENTO
Cenas em duplas a partir de proposta cega/aberta, estabelece a plataforma que leva ao acontecimento.

Indicações e Comentários:
- Palavra como paisagem, quando a ação e emoção ganha a cena.

Dispositivos e Ferramentas Dramatúrgicas

Exercício #11: TEMAS BANAIS
Duas pessoas conversam como elas mesmas sobre um tema banal. Dispositivos: Opiniões, Lembranças e Conhecimento. Ser sincera/o no que conversam.

Exercício #12: ASSASSINATO EM TEMAS BANAIS
Cena de duas pessoas. Conversam sobre tema banal. Depois de um minuto, alguém pega uma faca e mata a/o outra/o e justifica com algo nada a ver com o que falavam.

Exercício #13: PROTOCOLO EU TE AMO
Protocolo/Estrutura da cena: Cena em tema banal com ação comum. Uma das pessoas (não determinada anteriormente) fala: “Eu te amo”. Silêncio. Volta ao Banal modificadas/os (quem volta a falar é a pessoa que ouviu “Eu te amo”).

Indicações e Comentários:
- Protocolos: como uso de dispositivos a favor de uma dramaturgia.
- Tomar uma decisão para sua personagem sobre o como/porquê se sete sobre o que ouviu
- Sustentar o silêncio

Exercício #14: PROTOCOLO REVELAÇÃO LIVRE
Duplas conversam sobre tema e ações comuns. Uma pessoa traz uma revelação que não tem a ver com o tema banal. Silêncio. Quem recebeu a revelação retoma o tema banal modificada/o.

Indicações e Comentários:
- O texto vira paisagem

Num momento progressivo, a aula nos trouxe para os protocolos que dramaturgicamente exercitam: Oferta+Plataforma+Acontecimento. Pode até parecer mais do mesmo depois da descrição de alguns exercícios, mas com a prática e a “repetição” (como um Viewpoint: sempre novo, de novo e de novo), as camadas vão se revelando, vemos mais do iceberg de dramaturgia. Aula potente e intensa.


DIA #2: 31/07/2018
Terça-feira das 19h às 23h na Escola do Quintal (São Paulo-SP. Brasil). Professor Gustavo Miranda.


Tempo de alongamento individual

Exercício #1: IMPULSO DO TOQUE
Em duplas. Uma pessoa de olhos fechados. A outra faz pequenos empurrões em partes do corpo da pessoa de olhos fechados que responde ao movimento, pela parte e intensidade do toque, voltando à posição inicial como um elástico que se estica e volta.

Comentários:
- Esses exercícios em início de aula que trabalham a partir do toque sempre me remetem a discussão do desenvolvimento da intimidade e cumplicidade. Permite-se tocar e ter permissão de tocar. Estabelecer confiança gradativamente e com afeto. Afeto sim, nada a ver com gostar ou não gostar, mas sim com o tipo e qualidade de energia que se coloca e perpetua na ação. Além disso tem um quê de despertar, de lembrar pela sinestesia que estamos ali.

Exercício #2: ESPECTRO DE ONTEM
Falamos do que ficou da aula anterior:
- Palavras como paisagem
- Imagem mais que a ideia
- Oferta a partir de um detalhe gestual (cega)
- Trazer suas experiências, o que conversou no dia, seu universo: é roubar no improviso? – particularmente não me é sequer uma discussão, pois não consigo conceber uma improvisação, obra, perspectivas ou qualquer criação que não parta de experiências próprias de quem cria. Me lembrei do documentário “Trust us, this is all made up” com David PAsquesi e T/J. Jagodowski (trailer: https://www.youtube.com/watch?v=CnuohnCNUY4) . Podemos ver no documentário que os dois improvisadores passam um tempo antes do espetáculo andando pelas ruas da cidade, conversando, observando e comentando o que veem. E essas experiências juntos aparecem no palco, não literalmente necessariamente. É a construção da intimidade, do laço, do fluxo conjunto de pensamento, da sintonia, elã, etc. E eles também não pegam sugestão da plateia. Entram no palco, cumprimentam o publico, “explicam” o espetáculo de improviso, blackout, a luz sobe e os dois se olham… se olham… algo já começou ali, devem se passar uns 30 segundos de silêncio (que é uma eternidade no palco e na espectativa), mas algo já começou no olhar, pequenos gestos, escuta plena, agora nos será revelado (e à eles também).

Exercício #3: LANÇAR PALMA
Retomamos o exercício de aquecimento da aula anterior com a variação de dizer simultaneamente e aleatoriamente nomes, mais ainda contar de 1 a 10 e de 10 a 1 sem ninguém dizer números ao mesmo tempo.

Comentários:
- Repetir e desafiar.
- Básico é básico.
- Estar presente:
- “Estar aqui no existir da terra, nascer, crescer, criar…” algo mais ou menos assim de “A Obscena Senhora D” de Hilda Hilst que me visitou o pensamento neste momento.

Exercício #4: ASSOCIAÇÃO DUPLA
Duplas. “A” fala uma palavra. “B” fala uma palavra e levanta uma mão indicando aquela mão como correspondente da palavra e dala uma segunda palavra também associada à de “A” levantando a putra mão. “A” escolhe uma das palavras de “B” repetindo a palavra e batendo na palma da mão em que “B” indiciou. Agora “A” diz duas palavras associadas à palavra que escolheu de “B” indicando-as com as mãos. Ex.: “A” fala borboleta. “B” levanta a mão direita e diz “Colorida” e levanta a mão esquerda dizendo “Casulo”. “A” bate na palma da mão esquerda de “B” e fala “Casulo” e na sequencia já levanta uma mão dizendo “Cocun” e a outra dizendo “Ibernar”.

Exercício #5: VARIAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO DUPLA
Quando “A” escolhe uma das palavras de “B”, “B” pergunta “por que?“ e “A” responde sinceramente. Então “A” diz duas palavras associadas à própria resposta. “B” escolhe uma, “A” pergunta porque, “B” responde e diz duas palavras associadas à própria resposta… Ex.: “A” fala borboleta. “B” levanta a mão direita e diz “Colorida” e levanta a mão esquerda dizendo “Casulo”. “A” bate na palma da mão esquerda de “B” e fala “Casulo”. “B” pergunta porquê. “A” responde “Porque sou fascinada pela transformação.”. Na sequência “A” levanta uma mão dizendo: “Metamorfose” e levanta a outra dizendo “Kafka”. “B” escolhe “Kafka”. “A” pergunta porquê. “B” responde: “Por que me lembra kafta e eu estou com fome”. “B” levanta uma mão e diz “Carne” e depois a outra e diz “Árabe”.

Indicações e comentários:
- Cuidado com as ciladas de conforto e padrões, não ficar nas respostas de “por que eu gosto”, “por que adoro”, “por que sou…”

Exercício #6: DATA PASSADA
Em roda, todos em ritmo de 4x4 marcado ao bater as mãos nas pernas. Uma pessoa fala uma data na ordem: DIA DA SEMANA (tempo 1) + DIA NUMERAL (tempo 2) + MÊS (tempo 3) + silêncio (tempo 4). As/os demais dizem na sequência, mantendo o ritmo, os correspondentes anteriores de cada parte da data. Ex.: Se a data dita é: “DOMINGO, 13, DE ABRIL…”, a resposta será “SÁBADO, 12 DE MARÇO”, pois sábado vem antes de domingo, 12 vem antes de 13 e março vem antes de abril.
Variação: Uma pessoa fala as datas à pessoa ao lado e só a pessoa ao lado diz as datas anteriores. Vira-se para a próxima pessoa e diz nova data e assim segue.

Indicações e comentários: 
- PHODA!!!!!
- Manter o ritmo é o principal

Exercício #7: ASSOCIAÇÃO DE AÇÕES INDIVIDUAL
Refazendo exercício da aula passada com quem ainda não tinha feito.

Comentários:
- Quando por “acaso” se cria uma composição pela visão do público ao unir imageticamente (e dramaticamente) duas pessoas que fazem o exercício individualmente
- O acaso é um ótimo dispositivo.

Exercício #8: TUDO JUNTO
Duas pessoas sentadas a uns 3 metros de distância de frente uma para outra. Devem levantar juntas, andar juntas até o meio, quando estiverem cara a cara dizer juntas “PÁ!” cruzar o caminho e sentarem nos bancos opostos, juntas. Cada vez que não estiverem juntas, devem voltar ao início. (O Gustavo indicava com o som de uma campainha).

Indicações e comentários:
- Trabalhe para errar
- O erro vai fazer você encontrar o ritmo
- Eu quis levantar muitas vezes, mas não queria “errar”… Não dá para achar que já apredneu isso, dá?

Exercício #9: VARIAÇÃO TUDO JUNTO
Levantar juntas com uma taça invisível na mão. Quando de pé: fechar os olhos. Andar juntas até o meio e lá, juntas, dizer “Saúde!” e brindar.

Indicações e comentários:
- Observar a tensão e a tentativa é interessantíssimo. Já me dizia Tim Stontemberg: “uma mente em pânico é algo lindo de se observar”.

Exercício #10: MÁS NOTÍCIAS
Duplas. “A” começa sozinha/o em cena e ensaia como vai dar uma notícia ruim à “B”. Quando a plataforma está desenhada, entra “B” falando de um tema banal. “A” tenta recuperar as ações e argumentos de seu ensaio integrando com o tema banal.

Indicações e comentários:
- Silêncio após o ato de fala (acontecimento da notícia), se deixar transformar
- Trabalhar para a/o outras/o
- “B” tem status maior
- Keith Johnstone fala do Status social (Antropológico: um/a professor/a tem status social maior de que um/a aluna/o) , e do Status de Situação (Princípio da gangorra – os status de poder na cena mudam conforme a situação. Ex.: um/a aluno/a tem status mais alto que um/a professor/a quando essa tem uma prova de que o/a professor/a tem um caso com outra/o aluna/o)
- Há também o Status emocional e está ligado a emoções ativias (Amor, alegria e coragem: Status alto)  e reativas (Ódio, tristeza e Medo: Status baixo). No meio do caminho há um limbo de emoções que podem estar tanto nas ativas como nas reativas de acordo com a situação: orgulho, ambição, etc.
- Status como dispositivo

Exercício #11: PORTA SURPRESA
Protocolo: Em roda. “A” abre uma porta na frente de alguém (“B”) na roda. “B” oferece uma situação para provocar o status emocional de “A”. Desenvolvem a cena no centro. Ex.: “B” traz um bolo e começa a cantar parabéns com a proposta que “A” fique feliz com a surpresa.

Exercício #12: VARIAÇÃO PORTA SURPRESA
“A” tem uma reação diferente do Status emocional interno. Ex.: B” traz um bolo e começa a cantar parabéns, “A” aparenta felicidade, mas está inconformada/o em fazer 40 anos.

Comentários e Indicações:
- Não é preciso legendar
- Preencher com o porquê de ter um status emocional diferente do interno ou do demonstrado.

Exercício #13: MONÓLOGO COMO DISPOSITIVO A PARTIR DE LOCAL
Parte 1: A cada duas pessoas da turma é dado um local. Define-se quem vai trabalhar o status emocional baixo e o alto. Cada uma escreve um monólogo em 3 a 5min. Ler o texto em voz baixa para si e ajustar pequenas coisas. Depois ouvimos alguns textos sobre o mesmo local com os diferentes status.
Indicações e comentários:
- 3 conselhos para “monologar”:  Descrever, Evocar (memórias do passado e desejos do futuro); e Repetir.
- Sabemos ser poéticos quando improvisamos na escrita, por que não o somos ao improvisar em cena?

Parte 2: A partir de Frases lidas na rua ou em banheiros públicos, definir uma frase. No texto escrito na Parte 1, aleatoriamente colocar 3 a 4 asteriscos em finais de frases. Ler o  texto e, na sinalização do asterisco, dizer a frase definida anteriormente.


Meu texto:
Local: restaurante.
Era como entrar num palácio, porque o portal era enorme, parecia que tocava as nuvens. / Quando eu olhava para cima aquele mármore rajado em anil refletia a luz do Sol e fazia com que as colunas não tivessem fim. / Era sagrado ir lá todo domingo, como ir à missa, por isso o meu melhor vestido de renda branca e perfume. /*/ O cheiro de hortelã com pimenta me puxava para um lado enquanto a minha mãe me puxava para mesa. / Eu só sedia a tentação de correr direto para a recepção, porque havia a minha espera na taça do tesouro perdido (como meu pai chamava) a água de rosas fresquinha. /*/ E eu podia tomar com gelo e canudinho, já que taça de desenhos dourados era delicada! / Nem era regra, não./ Eu que tinha medo de tocar e dissolver os desenhos dourados do copo como as minhas tintas de aquarela. * / A minha mãe pegava o cardápio de couro e eu ria porque a gente sabia de cor o que ia pedir. Mas era a minha chance de chegar perto Samir, o recepcionista de olhos de mel, e…

*Se dormir, vai tomar dormindo.

Indicações e comentários:
- Deixar ao acaso algumas coisas
- Se por em risco, trazer problemas
- A repetição da frase re-significa o texto, parece trazer um significado oculto que fará sentido pela repetição (ou não também, né? Hehehe)

Exercício #13: MONÓLOGOS EM DIÁLOGOS
Separa-se por barras as frases do texto do exercício 13 (já separei no meu texto no exercício anterior). A dupla que escreveu sobre a mesma inspiração de local lê seus textos como diálogo numa leitura dramática, frase a frase. “A” lê uma frase. “B” lê outra…

Indicações e comentários:
- Por terem um lugar em comum, os textos já se encaixam de alguma maneira como composição para o publico
- Pensar depois da leitura nas imagens, com o olhar de direção: movimentos, espaços, luzes.
- Não ficar sempre no controle

Ao final do segundo dia já percebo que das estruturas de dramaturgia e dispositivos, embarcamos para a composição também.


DIA #3: 01/08/2018
Quarta-feira das 19h às 23h na Escola do Quintal (São Paulo-SP. Brasil). Professor Gustavo Miranda.


Tempo de alongamento individual: que eu não aproveitei para alongar mas para chegar, já que meu Uber se perdeu… Não se condena tanto, Luana…

Exercício #1: O QUE O TOQUE REMETE
“A’ de olhos fechados. “B” toca partes de seu corpo de maneiras diferentes. “A” fala as imagens que o toque remete. Ex.: “B” pressiona os ombros de “A”. “A” diz: “Ônibus lotado a noite depois de um longo dia no escritório.”

Comentários:
- Olha aí o final da aula passada já conectado diretamente com o início dessa: imagens.
- O que observei sobre intimidade no primeiro dia: fiz este exercício com a Renata Bittencourt, amiga querida que conheço há alguns bons anos e com quem já trabalhei diversas vezes. Por isso, e pela intimidade que temos, pudemos ousar nos toques sem cair num lugar de desrespeito ou medo de desrespeitar. Lembrei novamente do documentário “Trust us this is all made up” quando um dos improvisadores fala que ele pode fazer o que quiser sem medo porque ele sabe que seu parceiro é bom e vai aguentar e não vai julga-lo por isso (a frase ficou ambiguamente perfeita. Julgar a si ou julgar ao outro).

Exercício #2: CORRIDA DE PALAVRAS
Duplas. Uma pessoa da dupla cola as costas na parede. Para cada palavra dita em associação, dá-se um passo. A outra pessoa da dupla está à sua frente como juiz/a e indica que a primeira deve voltar ao ponto de início se repetir alguma palavra ou se entrar no modo “hã…”, perdendo o fluxo e ritmo.

Exercício #3: CORRIDA DE PALAVRAS DISSOCIADAS
Mesmas instruções como uma diferença. As palavras não podem se relacionar e quem determina isso é a/o juiz/a.

Comentários:
- Difícil para porra!!!!!!!

Exercício #4: ASSOCIAÇÃO DE AÇÕES INDIVIDUAL
Repetição do exercício do primeiro dia com quem ainda não havia feito.

Exercício #5: ESPECTRO DE ONTEM
- Acaso: deixe o acaso fluir
- Poder do silêncio X a precocidade da ansiedade
- Jogar no risco, no erro, no abismo.
- “Olha no abismo e vê. Eu vejo o homem” – Hilda Hilst com “A Obscena Senhora D” me “assombrando” novamente

Exercício #6: TELEPATIA DO ACASO
4 pessoas saem da sala. A primeira entra, faz algo no espaço e sai. A segunda pessoa entra e tenta perceber o que aconteceu anteriormente no espaço e refazer, sai. A terceira faz o mesmo. A quarta também. As quatro pessoas entram juntas e refazem o que fizeram, nas mesmas velocidades.
Variação: quando as 4 pessoas voltam juntas, permitem-se afetar pelas outras pessoas, sem deixar suas ações.

Indicações e comentários:
- Perceber o espaço
- Perceber o tempo
- Assistir é interessante, pois a “impossibilidade” é tão possível que é interessante demais os encontros e desencontros que acontecem em composição.

Exercício #7: DOIS/DUAS DENTRO E UM/A FORA
“A” e “B” começam a cena e estabelecem uma plataforma. “C”, que estava fora sem assistir à cena, entra trazendo um Acontecimento.

Indicações e comentários:
- Não ter medo de sair de cena.
- Não ter medo dos silêncios.

MONÓLOGOS COMO DISPOSITIVO FERRAMENTA
Tipos de Monólogos/Solilóquios:
- Você com você: tanto em primeira pessoa, quanto em terceira ou misturando primeira e terceira.
- Você com a/o Outra/o Presente: segunda pessoa reage apenas, não fala.
- Você com a/o Outra/o Distante: a pessoa não está em cena, “existe” e tem tempo de fala, mas não se ouve.
- Você com a/o Outra/o  Ausente: a outra não escuta por algum motivo. Está lá, mas é Ausente. Ex.: morta/o.
- Você com a/o Outra/o Invisível: pessoa imaginária/o em cena.
- Você com a/o Outra/o como Objeto Materializado: fala com um objeto. Pode ser um Monólogo com Outra/o Presente se a pessoa manipular o objeto em reações; ou ainda considerado Outra/o Ausente.
- Você e Plateia: Fala diretamente à plateia. Pode ser uma plateia categorizada (que se dá uma função/personagem ao publico) ou sem categoria. Quando se pega sugestões com a plateia, ela já categorizada como plateia e já faz parte da ação dramática.

Exercício #8: BANAL E MORTE
Duplas. Conversam sobre tema banal e estabelecem plataforma. Em algum momento uma mata a outra com uma faca. A pessoa esfaqueada morre. Quem matou começa um monólogo. Quando a/o morta/o sente que é possível, se levanta e retomam a cena como se não houvesse acontecido. Em algum momento nova facada, independente de quem seja, e novo monólogo. Pode-se repetir o protocolo quantas vezes achar se necessário.

Variação: Matar de forma livre, não precisa ser facada.

Comentários e Indicações:
- Usar um ou mais tipos de monólogo no mesmo monólogo
- Ao retomar a cena pode ser de onde se parou ou com pulo de tempo
- Os temas não são os motivos do assassinato
- Assistir é como ver as vontades internas das personagens, como um sonho ou desejo que não acontece na “realidade”.

Exercício #9: DIÁLOGO PING-PONG
Em duplas. Diálogo de falas curtas e quase sem intervalo entre as falas das pessoas.

Comentários e Indicações:
- Evitar brigar
- Evitar perguntas
- Usar repetição
- Que seja absurdo se o for
- A velocidade está no entre falas e não na fala

Exercício #10: PROTOCOLOS DE AÇÕES
Duplas. Duas cadeiras ou bancos. A plateia dá um tema que não é banal.
- Quando estão posicionadas/os de frente para a plateia: palavras ping-pong.
- Quando de frente um/a para outra/o: monólogo de um/a com a/o outra/o como Ausente. Quem decide o fim do monólogo é quem faz o monólogo.
- Quando as/os duas/dois de pé: caos induzido (falam ao mesmo tempo por exemplo). Quando “voltam” à cena pode ser de onde parou ou com salto de tempo.

Comentários e Indicações:
- A maneira como apresentou o protocolo foi bem bacana, pois não foi explicado para nós como plateia. A cena foi feita por duas improvisadoras que sabiam o protocolo. Foi intenso e bonito. Códigos teatrais estabelecidos: momentos de revelação, interação e composição espacial de imagem.
- Não é protocolo de ordem de procedimentos como as demais, são ações. Me remeteu ao espetáculo “Corte Seco” de Christiane Jatahy que não era de Impro mas tinha dispositivos de Impro como protocolos de ações.

Encerramos a aula como uma discussão necessária sobre como abordar assuntos polêmicos em Impro. O lugar da denúncia, ironia funciona sem a proteção de um texto pré-escrito. A vantagem de treinar em grupo e discutir tudo na sala de ensaio para sabermos e conhecermos como pensam e agem nossas/os parcerias/os, etc.

Foi uma delícia fazer um curso avançado de improvisação em português. Chegamos num ponto interessantíssimo para começar a desenvolver mais. Saulo Pinheiro comentou que poderia ser um curso de 5 dias. Acredito que seria um bom tempo de curso, e eu adoraria faze-lo, para então se começar a desenvolver o que foi aprendido, tendo assim orientação e feedback do Gustavo Miranda. Essa seria a maior vantagem, mas nada impede o treinamento e continuidade por conta própria.

De volta a Brasília começo a organizar as Palestras sobre Impro pelo projeto VISANDO IMPRO com o apoio de FAC – Fundo de Apoio à cultura do DF.



Pode ir lá presencialmente e conhecer o espaço do Coletivo Janela em Brasília-DF que é uma iniciativa massa de co-working entre grupos de teatro do DF, ou... se a condução está difícil, a distância inviável, mas a conexão tá ok, assiste pela internet! Vai ser transmitido ao vivo pela página VISANDO IMPRO do Facebook: https://www.facebook.com/visandoimpro/

A primeira palestra é sobre Impro em geral e vai acontecer dia 11/08 (sábado) às 10h da manhã.
A segunda palestra, também dia 11/08 às 14h, vai falar de Impro Long Form e estruturas e estéticas e escolhas e etc.
Ah... mas se dia 11/08 for na verdade um dia difícil para você, daqui há algum tempo eu vou subir as palestras para o YouTube também. Vamos perpetuar trocas!


Aguardo olhos nos olhos ou views!